Sunday, January 24, 2010

Ponderações a respeito do "III Programa Nacional de Direitos Humanos"

No último mês de dezembro, o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, assinou – sem ler, conforme reconheceu – o decreto que lançou o III Programa Nacional de Direitos Humanos, mal disfarçado projeto de destruição da Tradição Cristã e de implantação de uma ditadura pseudossocialista no País.
O supracitado programa, que se constitui no mais atentatório ato do presente (des)Governo contra as tradições cristãs e as instituições democráticas pátrias, provocou uma crise política comparável tão somente àquela do “Mensalão”, dividindo mesmo setores do (des)Governo.
O programa em questão principiou a ser debatido em 2008, em assembleias municipais e estaduais e, sobretudo, na chamada Conferência Nacional dos Direitos Humanos, realizada em dezembro daquele ano, sendo discutido internamente pelo (des)Governo durante todo o ano seguinte, sempre sob os auspícios de Paulo Vanucchi, Secretario Especial dos Direitos Humanos do (des)Governo. Diga-se de passagem que Vanucchi pertenceu à funesta Ação Libertadora Nacional (ALN), grupo terrorista de Carlos Marighella, que promoveu a guerrilha urbana e rural, sequestros, “justiçamentos”, assaltos a bancos e carros-fortes. Também fizeram parte da ALN, dentre outros, José Dirceu, ex-Ministro da Casa Civil de Lula, envolvido no escândalo do “Mensalão”, e Aloysio Nunes Ferreira, Secretário da Casa Civil de São Paulo, Estado cujo Governador, José Serra, oriundo da chamada “esquerda católica” e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), é - embora seus eleitores “direitistas” e conservadores não saibam - um admirador de Marighella, sendo importante lembrar que está sendo realizada, no “Memorial da Resistência de São Paulo”, no antigo DOPS, sob os auspícios do (des)Governo paulista, uma exposição em homenagem ao célebre “revolucionário” e terrorista baiano, morto em 1969 pela polícia.
Durante a cerimônia em que Lula assinou o decreto que lançou o III Programa Nacional de Direitos Humanos, Dilma Rousseff, Ministra Chefe da Casa Civil e candidata do (des)Governo à sucessão presidencial, não pode conter as lágrimas. Certamente, porém, ela nunca chorou pelas vítimas suas e de seus companheiros da Vanguarda Armada Revolucionária (VAR – Palmares), grupo terrorista de orientação trotskista de que também fez parte o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e que praticou assaltos a bancos, carros-fortes e residências.
Isto posto, vale frisar que todos os grupos terroristas supracitados jamais lutaram pela Democracia, mas sim pela implantação, no Brasil, de uma ditadura do “proletariado” como as brutais ditaduras de Lênin e Stálin na antiga União Soviética, a de Mao Zedong na China, a de Pol Pot no Camboja e a de Fidel Castro em Cuba. A ALN, por exemplo, afirmava: “Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução” [1].
São bem conhecidos os pontos do Programa Nacional de Direitos Humanos que provocaram tão justo sentimento de revolta na Igreja, no Exército, nos produtores rurais e no povo em geral. Julgamos válido, porém, repeti-los aqui.
O III Programa Nacional de Direitos Humanos defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o tão antinatural “casamento” homossexual, aberração que já era, aliás, defendida no II Programa Nacional de Direitos Humanos, de 2002. Tal projeto, praticamente tão abjeto e antitradicional quanto o atual, foi – assim como o primeiro, de 1996 – produto do (des)Governo de Fernando Henrique Cardoso, o mesmo que multiplicou como nenhum outro a dívida externa nacional, vendeu a maior parte de nossas estatais a preços, no mínimo, irrisórios e criou a indústria das indenizações milionárias a “ex”-terroristas e outras supostas “vítimas” do Governo Militar.
O atual Programa Nacional de Direitos Humanos sustenta, ainda, que o aborto deve ser descriminalizado, afirmando que as mulheres devem ter “autonomia” para “decidir sobre seu corpo”, como se os nascituros fossem parte do corpo materno e não seres humanos em formação. É, aliás, absurda a defesa, em um plano de Direitos Humanos, de uma violação tão grave do primeiro dos Direitos Naturais da Pessoa Humana, que não é outro senão o Direito à Vida, que se inicia no momento da concepção.
Cumpre ressaltar que o Programa Nacional de Direitos Humanos anterior, o segundo elaborado durante o (des)Governo FHC, já estabelecia como meta o apoio a propostas de alteração dos dispositivos do Código Penal brasileiro referentes ao aborto, no sentido de aumentar o número de hipóteses de aborto legal.
Tanto o atual Programa Nacional de Direitos Humanos quanto os dois anteriores pugnam por restrições à liberdade de imprensa e, no que tange à apuração das violações dos Direitos Humanos ocorridas durante o período de exceção iniciado em 1964, o programa em vigor defende a elaboração de projeto de lei que institua a Comissão Nacional da Verdade, cujo mister será o de examinar as “violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política”.
O referido trecho foi alterado, graças aos protestos de Nelson Jobim, Ministro da Defesa, havendo sido a supracitada expressão substituída por “no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, a fim de efetivar o direito à memoria e à verdade histórica e de promover a conciliação nacional”.
Isto posto, insta sublinhar que, infelizmente, a alteração ocorrida no documento, embora positiva, foi muito pequena e não afasta por completo a possibilidade de revisão da Lei de Anistia no sentido de punir aqueles que teriam praticado a tortura nos anos que se seguiram ao triunfo do Movimento de 31 de Março de 1964, ideia tão defendida pelos “ex”-terroristas encastelados no (des)Governo, para os quais a Anistia só deve valer para eles próprios. Entre eles está, inclusive, o Ministro da Justiça, Tarso Genro, ex-membro da Ala Vermelha do Partido Comunista do Brasil, que praticou diversos sequestros, assaltos e assassinatos, além de ser defensor do terrorista “italiano” Cesare Battisti.
O supracitado programa contém, ademais, claros ataques ao Direito Natural de Propriedade, que, condicionado pelos deveres do proprietário para com a Sociedade e a Nação, constitui a base da Liberdade humana. Dentre tais ataques, o mais grave, sem sombra de dúvida, é aquele que defende que a expedição, pela Justiça, de mandados de reintegração de posse em propriedades rurais invadidas deveria se dar somente após audiências de conciliação entre os invasores, o Governo e os proprietários. Caso vá adiante tal proposta, aliás condenada tanto por Reinhold Stephanes, Ministro da Agricultura, quanto por Guilherme Cassel, da Reforma Agrária, será muito mais difícil a desocupação de terras invadidas por grupos como o MST, que se aproveitam da miséria e das injustiças para ganhar poder e disseminar sua ideologia espúria, baseada no ódio, na violência e na desagregação moral, ética e social.
Por fim, o novo Plano Nacional de Direitos Humanos defende que seja proibida a exibição de símbolos religiosos em espaços públicos, indo, assim, mais uma vez, contra a Tradição do Brasil, Pátria nascida e desenvolvida sob o signo da Cruz.
Poderíamos apontar diversos outros absurdos que constam do referido plano, mas cremos que isto seria por demais fastidioso para todos. Assim, encerramos por aqui o presente texto, sublinhando que defendemos os autênticos Direitos do Homem, decorrentes de sua natureza e não do Estado e que devem estar sempre acompanhados dos Deveres para com Deus, a Pátria, a Família e a Sociedade, assim como ressaltando que rejeitamos integralmente os “Direitos Humanos” do programa do (des)Governo atual. Nosso Programa Nacional de Direitos do Homem – ao contrário daqueles dos (des)Governos FHC e Lula – é pautado no respeito à Tradição Integral da Nação, bem como à vida e à natureza humana. São estes, pois, os rumos de nossa marcha, que não é senão a marcha do Brasil autêntico, profundo e verdadeiro.

Por Cristo e pela Nação!
Anauê!

São Paulo, 23 de janeiro de 2010.
Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente da Frente Integralista Brasileira.


NOTA
:
[1] Ação Libertadora Nacional. Sobre a Organização dos Revolucionários. Disponível em http://www.marxists.org/portugues/tematica/1969/08/organizacao-revolucionarios.htm. Acesso em 23 de janeiro de 2010.

Friday, January 22, 2010

Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade

Neste dia 22 de janeiro de 2010, quando se celebram cento e quinze anos do nascimento do grande doutrinador cristão, patriótico, nacionalista e tradicionalista brasileiro Plínio Salgado, reputamos oportuno transcrever, no presente blogue, o artigo de nossa lavra que, intitulado "Plinio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade", deve ser publicado na próxima edição do jornal cultural "O Lince", de Aparecida do Norte-SP.

Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade

Por Victor Emanuel Vilela Barbuy

Pensador profundo, escritor brilhante, jornalista e orador de amplos recursos e egrégio doutrinador tradicionalista, patriótico, nacionalista e democrático na acepção cristã, autêntica e integral do termo, Plínio Salgado é, sem sombra de dúvida, um dos mais eminentes e, ao mesmo tempo, olvidados e injustiçados homens de pensamento e de ação patrícios. Criador do movimento de renovação moral e social a que denominamos Integralismo e arauto de um Brasil Novo e Maior, foi ele, no dizer do ínclito pensador e escritor tradicionalista português Hipólito Raposo, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade” [1]. No mesmo sentido, o jusfilósofo Francisco Elías de Tejada y Spínola, maior pensador espanhol da Tradição e do Direito Natural Clássico do século XX, ponderava que Plínio Salgado, “profeta incandescente e sublime de seu povo”, “encarnação viva do Brasil melhor” [2], foi o primeiro a efetivamente compreender a Tradição Brasileira [3].

Nascido a 22 de janeiro de 1895 na bucólica cidadezinha montanhesa de São Bento do Sapucaí, na Serra da Mantiqueira, divisa entre São Paulo e Minas Gerais, Plínio era filho do Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político da região, e de D. Ana Francisca Rennó Cortez, professora normalista formada em São Paulo no último ano do Império.

O Coronel Francisco das Chagas, homem profundamente patriota e nacionalista na acepção sadia, equilibrada e construtiva do vocábulo, tinha o costume de reunir os filhos à noite para lhes narrar os feitos de Felipe Camarão, de Henrique Dias, do General Osório, do Duque de Caxias, dos almirantes Barroso e Tamandaré e de outros vultos da História Pátria.

Pouco mais tarde, D. Ana Francisca, que já ensinara o filho a rezar e também lhe incutira o temor a Deus e lhe narrara histórias bíblicas, principiou a lhe dar lições de História do Brasil, Geografia, Aritmética e Francês.

Em 1907, Plínio, que havia iniciado os estudos secundários no Externato São José, dirigido pelo Prof. José Calazans Nogueira, seguiu para Pouso Alegre, Minas Gerais, onde iria estudar humanidades no tradicional Ginásio Diocesano São José, em que também estudavam Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida e Teodoro Quartim Barbosa, com os quais o futuro autor da Vida de Jesus firmou uma grande amizade que se estenderia por toda a vida.

O falecimento do pai, no ano de 1911, forçou Plínio a abandonar os estudos e a retornar a São Bento a fim de cuidar da mãe e dos irmãos menores.

D. Ana Francisca, que ainda lecionava em sua escola isolada para meninas, que funcionava nos fundos de sua residência, transformou outro cômodo da casa em sala de aula, abrindo uma escola para meninos e confiando-a a Plínio.

Pouco mais tarde, Plínio principiou a trabalhar como agrimensor e topógrafo judicial. Em seguida, obteve o cargo de inspetor escolar no Município e, em virtude de se haver habilitado para requerer em juízo e promover o andamento dos feitos, foi nomeado solicitador, exercendo a função de advogado quando não havia advogados.

Por esse tempo, fundou, com o primo Joaquim Rennó Ferreira, o semanário Correio de São Bento, primeiro periódico da cidadezinha serrana.

Na mocidade, leu autores como Spencer, Comte, Kant, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Büchner, Haeckel, Lamarck, Gustave Le Bon, Jhering, William James e Ingenieros, ao mesmo tempo em que se aprofundava no conhecimento de nossa Literatura, bem como das literaturas portuguesa, francesa, espanhola, italiana, inglesa, alemã e russa.

No ano de 1918, Plínio, que já tivera trabalhos publicados na Revista do Brasil e no Correio Paulistano e coordenara, em 1915, a publicação do Almanaque de São Bento, casou-se com Maria Amélia Pereira.

Por esse tempo, era ele a figura central da cidadezinha de São Bento do Sapucaí, sendo diretor do jornal local, secretário do Tiro de Guerra, presidente do clube de futebol, orador do Gabinete de Leitura, diretor do externato e do grupo dramático e agrimensor.

Ainda em 1918, enquanto se convalescia da gripe espanhola, que o atingira, Plínio leu o livro Farias Brito e a reação espiritualista, de Almeida Magalhães e, em seguida, as obras do próprio Farias Brito e de Jackson de Figueiredo, abandonando, assim, o materialismo e retornando ao espiritualismo cristão, ao mesmo tempo em que, preocupado com a questão nacional, lia autores como Alberto Torres e Euclides da Cunha.

Em 1919, Plínio perdeu a esposa quinze dias depois de esta dar à luz Maria Amélia, única filha do casal, e teve publicado o seu primeiro livro, o volume de versos parnasianos Tabor, elogiado pela Revista do Brasil, cujo proprietário era então Monteiro Lobato, e de que consta o célebre soneto Canção das Águias.

Nesse mesmo ano, Plínio Salgado, que tempos antes fundara, ao lado do Dr. Gama Rodrigues, o Partido Municipalista, primeira agremiação política do País a defender o Municipalismo, deixou São Bento do Sapucaí em virtude de problemas políticos e seguiu para a Capital Paulista.

Em fevereiro de 1922, quando já era redator do Correio Paulistano, participou ativamente da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo.

No ano de 1926, publicou O estrangeiro, que é, cronologicamente, o primeiro romance social em prosa modernista da Literatura Brasileira. Como ressaltaria Menotti Del Picchia, o romance de estreia de Plínio Salgado “confirmou-se como um marco renovador do romance brasileiro”, abrindo “a série das grandes obras que, num radioso renascimento de um sadio nacionalismo, escachoaram do Norte tendo na vanguarda a já histórica Bagaceira de José Américo de Almeida” [4]. Este escreveu a Plínio, como observa o jornalista Cláudio de Cápua, uma carta em que afirma que depois de haver lido O estrangeiro considerara esta obra o primeiro romance do modernismo e resolvera reescrever totalmente o seu livro A bagaceira, que seria publicado em 1928 [5].

O estrangeiro teve um sucesso verdadeiramente extraordinário. A primeira edição se esgotou em menos de vinte dias e o burburinho que se fez em torno da obra na imprensa nacional foi algo realmente notável. Mas Plínio ignoraria tudo o quanto então se publicava a respeito dele e de sua revolucionária obra, não fosse por seu amigo Fernando Callage, que colecionava todos os artigos, uma vez que, naquela ocasião, em São Bento do Sapucaí, falecia a mãe de Plínio Salgado, que, estando já à beira da morte, tomou o livro do filho nas mãos, projetando lê-lo mais tarde, quando estivesse melhor, o que infelizmente não ocorreu.

Considerado por Wilson Martins a maior realização romanesca da década de 1920, ao lado de O esperado, também de Plínio Salgado [6], e classificado por Rachel de Queiroz como “o primeiro romance modernista” [7], O estrangeiro, que seria considerado pelo autor o seu primeiro Manifesto Integralista [8], fez do futuro criador da Ação Integralista Brasileira um escritor nacionalmente consagrado, tanto pelo público quanto pela crítica.

Dentre os diversos críticos literários e escritores de renome que elogiaram O estrangeiro na imprensa, nos meses seguintes à sua publicação, podemos citar Agripino Grieco, Afrânio Peixoto, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Nuto Sant’Anna, José Américo de Almeida, Jackson de Figueiredo, Tristão de Athayde e Monteiro Lobato. Este último dedicou ao romance um magnífico artigo intitulado Forças novas e publicado no jornal A manhã, do Rio de Janeiro, a 19 de setembro de 1926.

No referido artigo, o autor de Cidades mortas e de O presidente negro, havendo reconhecido que “Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista” e observado que “todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas”, termina dizendo que “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar” [9].

Em O estrangeiro e nos dois romances sociais em prosa modernista que lhe seguem e que com ele compõem as denominadas Crônicas da vida brasileira (O esperado, de 1931, e O cavaleiro de Itararé, de 1933), Plínio Salgado se revela o genial cronista, intérprete de uma época de dúvidas e de incertezas que, sob o signo dos mais sadios e edificadores ideais cristãos, patrióticos e nacionalistas e absolutamente livre das questões da forma e do estilo, revela-se arguto espectador e profundo conhecedor de todas as correntes de opinião e de todos os dramas dos diferentes segmentos da Sociedade. Revela-se, ademais, dotado de formidável capacidade de compreender e amar todos os antagonismos, assim como de alma para efetivamente sentir, sofrer e expressar, sem temor ao uso da palavra, todos os complexos estados de espírito nacionais [10]. Nenhuma frase pode, com efeito, defini-lo melhor do que aquela em que afirma, no início de sua obra Despertemos a Nação: “O drama de meu povo apoderou-se de mim” [11].

Os anos seguintes à publicação de O estrangeiro foram fecundos na vida de Plínio, que colaborava em diferentes jornais e revistas e era figura central dos grupos modernistas verde-amarelista e da Anta, bem como de diversos outros grupos, na meditação sobre nossa realidade e nossos problemas. Assim, dedicou-se, com Alarico Silveira e Raul Bopp, ao estudo da língua tupi e da etnografia nacional, ao mesmo tempo em que, ao lado de Cândido Motta Filho, Fernando Callage, Plínio Mello e outros, estudava Alberto Torres, Euclides da Cunha, Tavares Bastos, Oliveira Vianna, Calógeras, Oliveira Lima e outros autores que estudaram nossa terra e nosso Homem. Ao mesmo tempo, com Augusto Frederico Schmidt e outros, dedicou-se ao estudo da obra de Jackson de Figueiredo e de outros pensadores espiritualistas. E, por fim, com Mário Pedrosa, Araújo Lima, Plínio Mello e outros, estudou o marxismo, lendo a obra de Marx, Lênin, Trótski, Plekhanov, Riazanov e outros socialistas e considerando válidas suas críticas ao capitalismo, mas não as supostas soluções por eles apresentadas.

Em 1928, Plínio Salgado foi eleito Deputado Estadual pelo Partido Republicano Paulista (PRP), entrando pelo 2º turno e sendo o candidato mais votado. Foi sufragado não apenas por seu partido, mas pela totalidade das forças eleitorais do 3º Distrito, incluindo o Partido Democrático, de oposição, o Partido Independente, de Gama Rodrigues e dissidências locais que se coligaram para elegê-lo [12].

Isto posto, cumpre ressaltar que toda a atuação de Plínio Salgado, no PRP, obedecia ao firme propósito de criar uma corrente renovadora dentro daquele partido.

Em julho de 1929, o autor de O estrangeiro e de Literatura e política tomou posse na Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira de número seis, cujo patrono é Couto de Magalhães.

Em 1930, Plínio Salgado viajou para o velho mundo, acompanhando o jovem Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha, percorrendo catorze países do Oriente Médio e da Europa. Na Palestina, conheceu os lugares que tão bem haveria de descrever em sua Vida de Jesus, obra que atingiria várias edições em diferentes países e idiomas e receberia entusiásticos elogios de notáveis pensadores, escritores, críticos e autoridades religiosas do Brasil e da Europa. Em Roma, encontrou-se com Mussolini e com o Senador Giovanni Gentile, filósofo e ex-Ministro da Instrução Pública, e este, que coordenava os trabalhos da Enciclopédia Italiana, pediu a Plínio que completasse o verbete dedicado ao Brasil, o que ele fez em uma madrugada, com o auxílio de Mário Graciotti, Manoel Gomes e Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha. E em Paris concluiu o romance O esperado, publicado no ano seguinte, e redigiu um manifesto que meses mais tarde se tornaria o Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo.

Em julho de 1931 foi lançado, em São Paulo, o primeiro exemplar do jornal nacionalista A Razão, que tinha Alfredo Egydio de Souza Aranha como proprietário e Plínio Salgado como principal redator e revolucionou a imprensa do País, tendo como colaboradores intelectuais do quilate de Tristão de Athayde, Sobral Pinto, San Tiago Dantas, Mário Graciotti, Paulo Setúbal, João Carlos Fairbanks, Alpínolo Lopes Casali, Silveira Peixoto, Nuto e Leopoldo Sant’Anna e, é claro, Plínio Salgado. Este era autor do artigo diário de abertura daquele matutino, a célebre Nota Política, em que era analisada a situação do País, pondo-se em evidência pensadores até então esquecidos, como Farias Brito, Alberto Torres, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco e Tavares Bastos e rememorando-se fatos do Império e da República.

Foi na Nota Política, transcrita no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do Ceará, que Plínio revelou, na expressão de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano [13].

Também em 1931, foi lançado o Manifesto da Legião Revolucionária, elogiado por intelectuais do porte de Oliveira Vianna, Tristão de Athayde, Azevedo Amaral, Octavio de Faria, Humberto de Campos e tantos outros.

A 12 de março do ano seguinte, Plínio fundou oficialmente, na Sala de Armas do Clube Português, em São Paulo, a Sociedade de Estudos Políticos, que reuniria dezenas de intelectuais preocupados em dar um rumo ao Brasil, reconduzindo-o às bases morais de sua formação.

A 07 de outubro daquele ano de 1932, Plínio divulgou o Manifesto que redigira em maio e cujo anteprojeto fora aprovado em junho, não havendo sido divulgado então por conta da Revolução Constitucionalista ora já iminente.

O Manifesto de Outubro, que assim passou a ser denominado em virtude de haver sido divulgado em tal mês, marcou o surgimento oficial do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira.

Inspirado, antes e acima de tudo, nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas lições de grandes pensadores espiritualistas, patrióticos e nacionalistas patrícios, o Manifesto de Outubro já trata, ainda que de maneira resumida, de todos os princípios básicos da Doutrina Integralista, posteriormente aprofundados em outros manifestos, livros, artigos e discursos de Plínio Salgado e de outros doutrinadores integralistas.

A mensagem do Manifesto de Outubro espalhou-se rapidamente por todo o País. Em pouco tempo, a Ação Integralista Brasileira (AIB) já reunia centenas de milhares de membros e outros tantos simpatizantes em todo o País, constituindo o primeiro “movimento de massas” e o primeiro partido de âmbito nacional desde o fim do Império, reunindo, ainda, diversos intelectuais ilustres, que constituíam, na expressão de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época” [14].

O presente artigo não se propõe a analisar o Integralismo, tão augusta quanto deturpada Doutrina que se constituiu na glória e na cruz de Plínio Salgado. Noutra ocasião, talvez possamos discorrer mais acerca da Doutrina do Sigma e do Movimento que ela gerou e que representou, no dizer de Gerardo Mello Mourão, o “mais fascinante grupo da inteligência do País” [15].

Exilado involuntariamente em Portugal pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, Plínio Salgado lá permaneceu, juntamente com D. Carmela Patti Salgado, sua segunda esposa, de 1939 até 1946.

Na Pátria de que nasceu sua Pátria, o autor de Psicologia da Revolução estudou profundamente o pensamento tradicionalista português e espanhol, proferiu algumas de suas mais belas conferências, escreveu as suas mais pujantes obras religiosas e foi reconhecido pela intelectualidade católica como um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos e um verdadeiro apóstolo brasileiro [16].

Foi em Portugal, ademais, que Plínio terminou sua obra prima, a Vida de Jesus, que o Padre Leonel Franca qualificou de “joia de uma literatura” e que é inegavelmente um clássico da Literatura Universal e uma das obras máximas da Cristologia.

De volta ao Brasil em 1946, Plínio ingressou no Partido de Representação Popular (PRP), que havia sido fundado no ano anterior por ex-membros da AIB. Por este partido foi candidato às eleições presidenciais de 1955, sendo o candidato mais votado no Paraná, e se elegeu Deputado Federal em 1956, 1960 e 1964. Exerceu outros dois mandatos na Câmara, eleito pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), até deixar definitivamente a política, em 1974. Faleceu um ano depois, na Cidade de São Paulo, sendo sepultado no Cemitério do Morumbi.

Como Deputado Federal, integrou sempre a Comissão de Educação, onde produziu inúmeros pareceres, e apresentou projetos como os de Reforma Agrária e de criação do Fundo Nacional para a Reforma Agrária, ambos de 1963, e o da Emenda Constitucional n. 609, que criaria a Câmara Orgânica, consagrando o princípio democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais. Não é necessário dizer que, caso tais projetos houvessem sido aprovados, nossos problemas fundiários, bem como o problema da representação popular, teriam sido seguramente resolvidos.

Não podemos encerrar o presente artigo sem recordar que, em 1934, nas páginas de A Voz do Oeste, poema épico em prosa que retrata a epopeia bandeirante, Plínio previu e preparou a edificação de Brasília, como reconheceu Juscelino Kubitschek em carta ao autor de O esperado em que afirma:

“Lendo o livro [13 anos em Brasília, de Plínio Salgado], ocorreu-me imediatamente outro de ferrenho adversário nosso, El Imperialismo d’El Brasil e que me foi oferecido pelo nosso comum amigo, Guimarães Rosa.

O publicista boliviano percebeu num relance a significação de Brasília, pressentida desde o século XVIII e preparada pelo grito que você, meu caro Plínio, deu conclamando todos para a marcha rumo Oeste” [18].

Tantos anos de calúnias, de incompreensões e de silencio não conseguiram apagar o brilho de Plínio Salgado, que fulgirá sempre, magna estrela da constelação do pensamento pátrio, luciluzente joia da rica coroa que representa a autêntica inteligência nacional, farol magnífico a guiar a nau dos verdadeiros tradicionalistas, patriotas e nacionalistas brasileiros pelos tenebrosos mares do Império de Calibã, que é o Império da Matéria, rumo ao porto seguro do Império de Ariel, o qual não é outro senão o Império do Espírito.

Mais genial, pujante e vigoroso intérprete da Tradição Nacional e do Espírito do Povo brasileiro, viverá, imortal, em sua obra notabilíssima e sempre atual, em que defende a restauração do Primado do Espírito e da Tradição, a recristianização integral do Brasil e a instauração de um Estado Ético e de uma Democracia Integral. Em uma palavra, o nome de Plínio Salgado perpetuar-se-á, conforme previu Juscelino Kubitschek, “como um símbolo iluminando o futuro” [19].

NOTAS:

[1] RAPOSO, Hipólito. In Diversos. Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.

[2] TEJADA, Francisco Elías de. Plínio Salgado na tradição do Brasil. In Diversos. Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 47.

[3] Idem, p. 70.

[4] PICCHIA, Menotti Del. Plínio Salgado, o fraterno amigo. In Diversos. Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 45.

[5] Cf. RODRIGUES, Rodrigo. O Pensamento Nacionalista no Modernismo Brasileiro. São Paulo: EditorAção, 2005, p. 35.

[6] MARTINS, Wilson. O modernismo. 4ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1973, p. 251. Cumpre ressaltar que Wilson Martins cometeu um pequeno equívoco ao considerar o romance O esperado, escrito quase que integralmente em 1930 e publicado no ano seguinte, como uma obra da década de 1920.

[7] QUEIROZ, Rachel de. In A Hebraica, São Paulo, julho de 1995, p. 33.

[8] SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação. 3ª ed. In SALGADO, Plínio. Obras Completas. 1ª ed., vol. X. São Paulo: Editora das Américas, 1955, p. 9.

[9] MONTEIRO LOBATO. Forças novas. In Diversos. Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I, cit., pp. 112-113.

[10] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Oitenta anos de “O estrangeiro”. In Linguagem Viva, ano XVIII, nº 214, junho de 2007.

[11] SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação, cit., loc. cit.

[12] LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. Plínio Salgado, meu pai. São Paulo: Edições GRD, 2001, p. 154.

[13] ROSA, Virgínio Santa. A personalidade de Plínio Salgado. In Diversos. Plínio Salgado. 4ª ed. São Paulo: Edição da Revista Panorama, 1937, p. 73.

[14] REALE, Miguel. Entrevista concedida ao Jornal da USP. Disponível em: http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 08/08/2008.

[15] MOURÃO, Gerardo Mello. Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001. Acesso em 08/08/2008.

[16] Sobre as atividades realizadas por Plínio Salgado durante o exílio em Portugal, bem como sobre o reconhecimento que ali recebeu dos mais altos vultos do pensamento católico lusitano: DOREA, Augusta Garcia R. Plínio Salgado, um apóstolo brasileiro em terras de Portugal e Espanha. São Paulo: Edições GRD, 1999.

[17] FRANCA, Leonel. Carta a Plínio Salgado. In SALGADO, Plínio. Vida de Jesus. 22ª ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI.

[18] KUBITSCHEK, Juscelino. Carta a Plínio Salgado. In Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., cit., p. 223.

[19] Idem. Carta a D. Carmela Patti Salgado. In Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., cit., p. 225.