Wednesday, October 07, 2015

83 anos do Manifesto de Outubro





Neste dia 07 de outubro, celebramos, como cristãos, os quatrocentos e quarenta e quatro anos da Batalha de Lepanto, em que a armada cristã da Santa Liga, sob o comando de D. João de Áustria e sob as bênçãos de Deus e de Nossa Senhora, venceu a armada turca, muito mais numerosa, salvando a Europa e pondo termo à expansão otomana no Mediterrâneo, e, como cristãos e brasileiros, celebramos os oitenta e três anos do lançamento do denominado Manifesto de Outubro, que assinala o nascimento oficial do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira (AIB). É deste documento tão significativo para a História Pátria, ainda que tão esquecido graças à nefasta ação das forças antitradicionais e antinacionais, que havemos de tratar nas linhas que seguem.
Inspirado, antes de tudo, nos ensinamento perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas preleções dos grandes pensadores cristãos, espiritualistas e nacionalistas patrícios, o Manifesto de Outubro foi redigido por Plínio Salgado e lido por este no Teatro Municipal de São Paulo a 07 de Outubro de 1932, data em que foi também distribuído na Capital Paulista e remetido para diversas províncias brasileiras, por este motivo tendo ficado conhecido como Manifesto de Outubro, a despeito de haver sido escrito em maio e aprovado em junho daquele ano pela Sociedade de Estudos Políticos (SEP).
Fundada aos 12 dias do mês de março daquele ano de 1932, no Salão de Armas do Clube Português, na Capital Bandeirante, por um grupo de intelectuais encabeçado pelo próprio Plínio Salgado, a SEP foi um núcleo de grande relevo, voltado, antes de tudo, à meditação sobre a problemática política e social brasileira.
Isto posto, cumpre salientar que, ao fundar esse importante núcleo de estudos da realidade, do pensamento e dos problemas pátrios que foi a SEP, era já Plínio Salgado um consagrado escritor, jornalista e político, havendo seu primeiro romance, O estrangeiro (1926), primeiro romance social em prosa modernista do País, tido um grande sucesso de público e de crítica, merecendo elogios de escritores e críticos literários da estirpe de Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Tasso da Silveira, Afrânio Peixoto, Augusto Frederico Schmidt, Rodrigues de Abreu, Nuto Sant’Ana, Francisco Pati, Brito Broca, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, dentre outros. Seu segundo romance, O esperado (1931), também tivera bastante sucesso, ainda que menor do que aquele de O estrangeiro. Como jornalista, fora redator do Correio Paulistano, de São Paulo, colaborara em diversos jornais e revistas e fora redator-chefe do matutino A Razão, também da Capital Paulista, onde, em sua Nota Política (artigo diário de abertura daquele jornal), transcrita no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do Ceará,[1] revelara, no dizer de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano (de 1931),[2] além de haver despertado diversos jovens para o estudo da realidade nacional e dos pensadores brasileiros. Em 1928 fora eleito Deputado Estadual em São Paulo pelo Partido Republicano Paulista, entrando pelo 2° turno e sendo o candidato mais votado,[3] e em 1930 redigira o manifesto que no ano seguinte (1931) seria entregue à Legião Revolucionária de São Paulo,[4] que o adotaria, ainda que logo mais se desviasse de suas diretrizes.
A despeito de o Manifesto entregue por Plínio Salgado à Legião Revolucionária de São Paulo, que recebera justíssimos elogios de intelectuais como Oliveira Vianna e Octavio de Faria, poder ser já plenamente considerado um manifesto integralista e de o próprio Plínio Salgado mais tarde haver afirmado que o romance O estrangeiro havia sido seu “primeiro manifesto integralista”,[5] foi o Manifesto de Outubro, incontestavelmente, o primeiro manifesto oficialmente integralista do Brasil. Sua mensagem, essencialmente cristã, brasileira, democrática na acepção integral e orgânica do termo e revolucionária no sentido tradicional do vocábulo, espalhou-se, com grande rapidez, por todas as províncias componentes deste vasto Império, logo se reunindo, à sombra da bandeira azul e branca do Sigma, centenas de milhares de soldados de Deus, da Pátria e da Família, bandeirantes do Brasil Profundo e de sua Tradição Integral e sentinelas, sempre alertas e vigilantes, da Imperial Nação Brasileira. Estas sentinelas eram homens e mulheres de todos os segmentos da Sociedade, desde os mais humildes caboclos dos mais remotos rincões da Pátria até os mais ilustres componentes da mais fina flor da intelectualidade nacional, “Bandeirantes do Espírito”, na expressão de Genésio Pereira Filho,[6] que constituíram a “poderosa geração integralista” de que nos fala Gumercindo Rocha Dorea.[7]
Inspirado, em larga medida, nos ensinamentos do Manifesto de Outubro, sua Carta Magna, o Integralismo realizou, na década de 1930, por meio de seu principal instrumento, a Ação Integralista Brasileira, como enfatiza Plínio Salgado, em O Integralismo na vida brasileira, a maior obra cívica e cultural da História Pátria. Com efeito, o Integralismo ensinou dezenas de milhares de brasileiros a cantar o Hino Nacional; levou multidões para ver e aplaudir os desfiles do Exército e da Marinha; promoveu o respeito às datas históricas e aos heróis nacionais; realizou imponentes homenagens a muitos dos mais notáveis vultos da nossa História; fundou milhares de escolas de alfabetização para crianças e adultos e de ambulatórios médicos; editou dezenas de livros e outras tantas dezenas de jornais e revistas; criou milhares de bibliotecas e organizou cursos de História do Brasil, Geografia, Instrução Moral e Cívica, Filosofia, Economia Política e Direito Público; realizou exposições, concertos e cursos de Cultura Artística e, antes e acima de tudo, nas palavras de Plínio Salgado, “arregimentou a infância e a adolescência, incutindo-lhes entusiasmo pelos nobres ideais, formando-lhes os corações segundo a doutrina do Evangelho, incendiando-as num surto de patriotismo” como nem antes nem depois da AIB se viu semelhante em nosso País.[8]
O Manifesto de Outubro, de magna e profunda relevância para a História Nacional e de impressionante atualidade, se constitui na mais perfeita síntese daquilo que foi construído pelos pensadores, escritores e estadistas patrícios até o ano de 1932 e na igualmente perfeita síntese da vigorosa e sadia Doutrina Integralista, autêntico exemplo do mais lídimo “idealismo orgânico” de que nos fala Oliveira Vianna e que vem a ser o idealismo realista e tradicionalista, formado tão somente de realidade, alicerçado tão somente na experiência e orientado tão somente pela observação do povo e do meio,[9] ou, noutras palavras, o idealismo consciente de que as instituições devem brotar da Tradição e da História dos povos e não da cabeça de ideólogos criadores de mitos e quimeras, o idealismo, enfim, que extrai da História uma Tradição sólida e viva, um coeficiente espiritual de edificação moral, social e cívica, um desenvolvimento estável e verdadeiro, transmissor e enriquecedor do patrimônio de pensamento e de costumes por nós herdado de nossos maiores.[10]
Reflete, pois, o Manifesto de Outubro, como sublinhamos algures,[11] a Tradição Integral da Nação Brasileira, trazendo soluções nacionais para os problemas nacionais, e isto em um País em que já desde o Império as elites quase nada mais faziam do que transplantar ideias e soluções estrangeiras, geralmente utópicas mesmo nos países em que haviam sido inicialmente propostas, e totalmente alheias à nossa Tradição, aos nossos costumes, à nossa Identidade Nacional. Isto porque Plínio Salgado tinha plena consciência de que, consoante preleciona Eduardo Prado, em A ilusão americana, as sociedades devem ser regidas por leis emanadas de sua estirpe, de sua História, de seu caráter, de seu desenvolvimento orgânico.[12]
Plínio Salgado também tinha plena consciência, como igualmente sublinhamos,[13] de que, como faz ver Oliveira Vianna, no prefácio à primeira edição da obra O idealismo da Constituição, de 1927, “se, ontem como agora, o problema da democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira inglesa, à maneira francesa, à maneira americana; mas, nunca, à maneira brasileira”.[14] Daí o então futuro autor de Espírito da burguesia e da Vida de Jesus propor, naquele documento histórico, um modelo orgânico e autenticamente brasileiro de Democracia, que, conforme assinala Gustavo Barroso, se inspira profundamente nas lições políticas de Santo Tomás de Aquino,[15] o Doutor Angélico.
As não muitas, porém densas páginas do Manifesto de Outubro, estuantes de Cristianismo e de Brasilidade, refletem os mais nobres valores, costumes e tradições pátrios e a mais genuína Doutrina Social Cristã, a um só tempo anti-individualista e anticoletivista, anitiliberal e antitotalitária, e sintetizam, como há pouco sublinhamos, toda a Doutrina Integralista, depois de seu surgimento desenvolvida em diversos livros, manifestos, artigos publicados em jornais e revistas e discursos de Plínio Salgado e de outros vultos do Movimento Integralista. Em tais páginas estão presentes, por exemplo, as ideias seguintes, centrais na Doutrina do Sigma: Afirmação da existência de Deus e da Alma Imortal do Homem; Concepção Integral do Universo e do Ente Humano; Patriotismo; Nacionalismo Integral, justo, equilibrado, sadio e edificador, alicerçado na Tradição e tendente ao autêntico Universalismo, que não pode ser confundido com o internacionalismo liberal ou comunista; defesa da Família, cellula mater da Sociedade, e do Município, cellula mater da Nação; respeito à Tradição Nacional; combate sem tréguas ao comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; guerra sem quartel ao cosmopolitismo; Sustentação da Harmonia e da Justiça Social; restauração dos princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; pugna sem tréguas contra o racismo e em prol da valorização do nosso povo e das nossas tradições, assim como dos pensadores e escritores nacionais; luta pela construção de uma Democracia Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação, do Homem do Bem Comum.
O primeiro artigo do Manifesto de Outubro trata da concepção integral do Universo e do Homem, afirmando que “Deus dirige o destino dos povos”; que o Homem, ente dotado de vocação sobrenatural, “deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e aperfeiçoam”, valendo pelo trabalho e pelo sacrifício em prol da Família, da Pátria e da Sociedade, assim como pelo estudo, inteligência e honestidade e pelo progresso científico, técnico e artístico “tendo por fim o bem estar da Nação e o elevamento moral das pessoas”; que as riquezas são bens meramente passageiros, não engrandecendo a ninguém, ao menos que seus detentores cumpram os deveres que lhes são impostos em benefício da Pátria e da Sociedade, e que os homens, assim como as classes, “podem e devem viver em harmonia”.[16]
Como observa Plínio Salgado em O Integralismo na vida brasileira, obra que se constitui no primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo, organizada por Gumercindo Rocha Dorea e por ele entre fins da década de 1950 e princípios da década de 1960, neste primeiro capítulo do Manifesto de Outubro se encontra a influência de Farias Brito, quando este, no livro A verdade como regras das ações, demonstra que não podem existir normas morais sem que preliminarmente adotemos uma precisa noção da origem e da finalidade da Pessoa Humana. Ainda segundo Plínio Salgado, tal capítulo reconduz os valores morais ao lugar superior de onde foram arrancados pelo materialismo moderno, e defende “o direito às legítimas aspirações de cada um e de todos, pela prática da fraternidade cristã e da justiça, que emana dos corações à luz de uma consciência conhecedora das leis de Deus”, se constituindo em uma proclamação de direitos da Pessoa Humana, “não segundo o critério agnóstico-naturalista de Rousseau, mas segundo a filiação comum dos homens em Deus”.[17]
No segundo artigo do Manifesto de Outubro, Plínio Salgado sustenta a Democracia Orgânica, ou Democracia Integral, consagrando o princípio democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais,[18] sistema este que está plenamente de acordo com a Doutrina Social da Igreja, conformando-se plenamente com as lições, no campo social, de todos os Sumos Pontífices a partir de Pio IX e Leão XIII.[19]
No artigo terceiro, chamado O Princípio de Autoridade, defende-se a restauração do princípio de Autoridade,[20] entendida como pressuposto da autêntica Liberdade, nele podendo ser sentida, nas palavras do autor do Manifesto de Outubro, “a presença de Jackson de Figueiredo, nas suas campanhas pela restauração do princípio de autoridade, sem a qual a liberdade dos maus, dos traficantes e dos imorais tripudiará sobre os direitos dos bons, dos honestos e virtuosos”.[21]
No artigo quarto do Manifesto de Outubro, que trata do nacionalismo, podemos perceber que Plínio Salgado está plenamente de acordo com Alberto Torres, que, na obra O problema nacional brasileiro, defende o autêntico nacionalismo, combatendo o cosmopolitismo e a influência estrangeira, assim como os absurdos e nefastos preconceitos étnicos, que levaram muitos brasileiros a amesquinhar os elementos formadores da Nacionalidade, assim como aqueles que posteriormente nela se estabeleceram.[22] Consoante ressalta Plínio Salgado,
Nesse capítulo 4º, palpitante de brasilidade, como que se ouvem os clarins de Olavo Bilac na sua memorável campanha cívica; as vozes de Alencar e de Gonçalves Dias, repetindo os ecos da selva; o clangorar das inúbias na obra de Couto de Magalhães; a simpatia humana de Joaquim Nabuco por aqueles que ele ajudou a libertar da escravidão; o nobre orgulho da estirpe lusitana, que ilumina as páginas de Elísio de Carvalho; a alma do sertanejo, presente nos “Sertões” de Euclides da Cunha; o sentido do tradicionalismo flagrante em Oliveira Lima e Eduardo Prado; o entusiasmo patriótico do Conde de Afonso Celso.[23].
No artigo quinto do Manifesto Integralista de 07 de Outubro de 1932, Plínio Salgado condena o regionalismo excessivo e o exclusivismo da política estadual em detrimento da política nacional, colocando-se contra os “partidarismos egoístas”, a luta de classes e o caudilhismo.[24] Tal artigo está, nas palavras do seu próprio autor, repleto “da alma de Caxias, do sentido da Unidade Nacional pela qual lutou o Condestável do Império, do sentimento sempre presente em nossas Forças Armadas, da ordem interna como base da defesa externa,” se erguendo contra “o exclusivismo da política provinciana em detrimento da grande política da Nacionalidade”.[25]
No sexto artigo do Manifesto ora em apreço, Plínio Salgado condena veementemente as conspirações carentes de objetivos doutrinários, as revoluções sem programas,[26] proclamando que o Integralismo é a “Revolução em marcha”, porém “a Revolução com ideias”, sendo, portanto, “franca, leal e corajosa”.[27]
O artigo sétimo do Manifesto de Outubro trata da questão social tal como a considera o Integralismo, sob visível influência da Doutrina Social da Igreja e das ideias de pensadores brasileiros como Pandiá Calógeras e o Rui Barbosa dos últimos anos de vida, ideias estas inspiradas, aliás, principalmente na Encíclica Rerum novarum, de Leão XIII, e na obra do Cardeal Mercier.[28] Em tal artigo, Plínio Salgado, entendendo a propriedade como trabalho acumulado e projeção física da personalidade humana[29] e condenando a “escravidão comunista” e o liberal-capitalismo, sustenta o direito natural de propriedade, contra o qual atenta o sistema econômico liberal-capitalista, e defende, ainda, as justas reivindicações dos trabalhadores, que deveriam perceber “salários adequados às suas necessidades”, participar dos lucros das empresas “conforme seu esforço e capacidade” e tomar parte nas decisões governamentais.[30]
O artigo oitavo do Manifesto Integralista de 07 de Outubro, por sua vez, defende a Família, cellula mater da Sociedade e primeiro dos Grupos Naturais, que, assim como o Homem, precederam o Estado, que tem o dever de respeitar sua intangibilidade, necessitando ser forte justamente para manter a integridade do Homem e da Família.[31]
O artigo nono do Manifesto de Outubro sustenta o Municipalismo, com base, antes de tudo, nos ensinamentos dos constitucionalistas do Primeiro Reinado e nas observações, já no período republicano, de homens como Gama Rodrigues, ao lado de quem Plínio Salgado fundara, em fins da década de 1910, o Partido Municipalista, e Domingos Jaguaribe,[32] a quem o autor de O estrangeiro considerava o “patriarca do Municipalismo”.[33] Neste artigo, o autor de O estrangeiro e O esperado afirma que o Município, cellula mater da Nação, é uma reunião de pessoas livres e de famílias autônomas, devendo ser autônomo em tudo aquilo que diz respeito a seus interesses peculiares.[34]         
Por fim, o artigo décimo do Manifesto de Outubro é, na expressão de Plínio Salgado, a “síntese nacionalista do Estado Cristão, o resumo da democracia orgânica”. Nele são traçados
                                          os grandes lineamentos da expressão e do prestígio internacional da Pátria Brasileira. Vive ali o espírito de Alexandre de Gusmão e do Barão do Rio Branco; os sonhos de D. João Terceiro e do Conde de Bobadela e de D. João VI; a firmeza de José Bonifácio na construção da nossa unidade e da nossa grandeza; a ação de Pedro Segundo e do Duque de Caxias na consolidação desse patrimônio.[35]
Baseado na concepção integral do Universo e da Pessoa Humana, o Estado Integral tem como princípios fundamentais o respeito ao Direito Natural e à intangibilidade do Ente Humano, de seu Livre-arbítrio e dos Grupos Naturais, que são anteriores ao Estado e fornecem ao Homem os meios necessários à expressão de sua autonomia,[36] cumprindo salientar que, como pondera Plínio Salgado, a Pessoa Humana é dotada de direitos naturais, que lhe são congênitos, decorrendo, pois, não do Estado, mas de sua própria essência, não podendo, assim, ser negados pelo Estado e suas leis.[37]
Conforme salientamos há exatamente três anos, por ocasião do octogésimo aniversário do Manifesto de Outubro,[38] este tão injustamente olvidado Manifesto e o tão caluniado e mesmo demonizado Integralismo, movimento sobre o qual se criou uma verdadeira leyenda negra ainda não de todo destruída, desempenharam papel de grande relevância na vida cultural, política e social do nosso Brasil, relevância esta muito bem sintetizada por Plínio Salgado nas páginas de O Integralismo na vida brasileira e que é por nós assaz conhecida, do mesmo modo que os nomes dos diversos pensadores, escritores, juristas, jornalistas, médicos, professores, políticos, sociólogos e historiadores que vestiram a Camisa-Verde Integralista e muito contribuíram, em suas respectivas áreas, para o engrandecimento e enobrecimento da Nação Brasileira. Em virtude disto, julgamos não ser necessário discorrer aqui a respeito de tais assuntos. Salientemos, pois, apenas, que o Integralismo não foi tão somente o primeiro “movimento de massas” do Brasil e que a AIB (Ação Integralista Brasileira) não foi unicamente a primeira agremiação política de amplitude nacional desde o ocaso do Império, mas que tal movimento e tal organização foram – e tal movimento ainda é -, como afirmamos algures, uma admirável escola de Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo construtivo, assim como um possante foco de irradiação, inexpugnável cidadela e vigilante atalaia do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro.[39]
  Com efeito, o Integralismo, que é, como aduz Gustavo Barroso, “uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional em todos os pontos e em todos os sentidos”, pregando “uma doutrina de renovação política, econômica, financeira, cultural e moral”,[40] tendo como lema a tríade “Deus, Pátria e Família”, “grandiosa como nenhuma outra”, na expressão de Afonso de Escragnolle Taunay,[41] reuniu, no dizer de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época”,[42] se constituindo, segundo Gerardo Mello Mourão, no “mais fascinante grupo da inteligência do País”.[43] No mesmo sentido, poderíamos citar as palavras do liberal e, portanto, insuspeito Roberto Campos, que, em suas memórias, ao falar de San Tiago Dantas, evoca “o surpreendente fascínio que o Integralismo exerceu em sua geração, particularmente sobre a parte mais intelectualizada”[44], assim como as palavras do também liberal e insuspeito Pedro Calmon, que, na biografia de seu pai, Miguel Calmon, observa que a plêiade de intelectuais reunida pelo Integralismo “poderia lotar uma Academia, em vez de ocupar uma trincheira”[45]. Aliás, devemos dizer que Pedro Calmon se equivocou, pois a plêiade de intelectuais que a Doutrina do Sigma reuniu, na década de 1930, em torno da bandeira azul e branca, e que bem podemos denominar a falange dos “homens de mil” do Integralismo, daria para encher não apenas uma, mas várias academias.
Ainda neste diapasão, salienta Acacio Vaz de Lima Filho que o Integralismo reuniu, na década de 1930, “o que havia de mais bela na juventude brasileira em termos de ideal”, bem como “a fina flor da intelectualidade nacional”, intelectualidade esta que, rompendo com a tradição de servil imitação dos modelos estrangeiros, voltou-se “para o Brasil, e para as mais profundas raízes da brasilidade”.[46]
As palavras de Acacio Vaz de Lima Filho que acabamos de citar se encontram no belo prefácio que este escreveu para a recém publicada obra “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: Uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, que, organizada por Gumercindo Rocha Dorea, reúne ao aludido Manifesto uma série de textos, quase todos escritos por jovens, comentando cada um dos artigos daquele tão relevante quanto criminosamente olvidado documento da História Pátria.
Como evocamos na “orelha” do mencionado livro - no qual, aliás, temos três artigos, dois de nossa exclusiva autoria, que tratam do nacionalismo e da concepção de Estado integralista, e outro, sobre o Município, escrito em companhia do jornalista paranaense Anderson Salim Calil - ao saudar Plínio Salgado, por ocasião de uma conferência que este realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 3 de agosto de 1953, o Professor Heraldo Barbuy, egrégio filósofo, sociólogo e escritor paulista, examinando a obra de Plínio Salgado como escritor, pensador e homem de ação, observou que a Doutrina Pliniana se tornara, então, mais do que nunca, necessária por firmar os verdadeiros conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado, e terminou seu discurso exaltando a tenacidade, a coerência e a capacidade de sacrifício de Plínio Salgado, sustentando seu nobre e límpido pensamento em meio às injustiças e incompreensões.[47]
Ainda como escrevemos na “orelha” do aludido livro, na hora presente, ainda muito mais do que em 1953, é necessária a Doutrina Pliniana para o nosso Brasil e para todo o Mundo e a leitura do Manifesto de Outubro confirmará isto a todas as pessoas intelectualmente honestas que a fizerem. É, aliás, com plena consciência disto que, celebrando os cento e vinte anos do nascimento de Plínio Salgado e os oitenta e três anos do lançamento do Manifesto de Outubro e realizando um sonho há muito acalentado, o editor Gumercindo Rocha Dorea, infatigável combatente em defesa de Deus, da Pátria e da Família, ora lança a obra “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: Uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado.
Como igualmente assinalamos na “orelha” da mencionada obra, a leitura do Manifesto de Outubro, dos textos sobre seus artigos enfeixados naquele volume e do magnífico prefácio daquele livro, escrito, como há pouco observamos, pelo Professor Acacio Vaz de Lima Filho, outro incansável combatente em prol dos elevados valores consubstanciados na tríade “Deus, Pátria e Família”, demonstrará não apenas o quanto as doutrinas de Plínio Salgado e do Integralismo são necessárias, na hora que passa, assim como no futuro, para o Brasil e o Mundo, mas também a nobreza e perfeição de tais doutrinas, tão injustiçadas pelos inimigos de Deus, da Pátria e da Família quanto o próprio Plínio Salgado, “esse injustiçado”, nas justas palavras de Pedro Paulo Filho, inspirado poeta, memorialista e historiador de Campos do Jordão.[48]
Sobre Plínio Salgado, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade”, na frase de Hipólito Raposo,[49] assim como o “profeta incandescente e sublime de seu povo”, a “encarnação viva do Brasil melhor”[50] e o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”,[51] no dizer de Francisco Elías de Tejada, e o “cavaleiro do Brasil Integral”, na expressão de Ribeiro Couto,[52] fazemos nossas as seguintes palavras que sobre esse bandeirante e arauto de um Brasil Maior escreveu, no livro há pouco citado, o jovem pensador Fernando Rodrigues Batista, ilustre filho do Paraná:
Em certa medida somos todos devedores destes grandes homens que, na história do pensamento e da política dos povos, não se contentando em passar por ela apenas como espectadores medíocres, nela se projetam como portadores de ideias destinadas a perpetuar-se no tempo através de sucessivas gerações que transmitem sua mensagem luminosa com entusiasmo sempre renovado, pois que esta mensagem traz em seu bojo a própria alma de seu povo, de sua nação, de sua história, através da tradição. Dentre estes homens, Plínio Salgado figura em lugar de honra, sobremodo para nós que no alvorecer da mocidade, em meio a desordem moral e intelectual, nos deixamos iluminar pelo fogo do ideal deste exímio pensador.[53]
Já nos havendo estendido mais do que inicialmente planejamos, reputamos oportuno encerrar, por aqui, o presente artigo, ressaltando que o Manifesto de Outubro, síntese por excelência da Doutrina profundamente cristã e brasileira do Integralismo, vanguarda da Nação Profunda e de sua Tradição, se configura em um altaneiro e eloquente brado em prol da edificação de um Brasil Grande e Renovado, restituído a sua augusta missão histórica, herdada de Portugal, de dilatar a Fé e o Império. Tal documento, repositório do mais sadio, vigoroso, rigoroso e edificante nacionalismo e leitura obrigatória a todos aqueles que pretendem se tornar autênticos guerreiros de Deus, da Pátria, da Família e de todos os valores tradicionais consubstanciados em tal tríade, tal documento, enfim, em que se pode sentir o palpitar do Brasil Autêntico e se sentem os perfumes da Terra Brasileira, se configura na sementeira da Pátria Nova com que sonhamos, com os pés no chão, todos os autênticos e verdadeiros idealistas orgânicos. Neste octogésimo terceiro aniversário do “nosso Manifesto”, como, aliás, o chamou o Professor Goffredo Telles Junior, pouco antes de seu falecimento, em conversa telefônica com o Professor Acacio Vaz de Lima Filho, rogamos, uma vez mais, a Deus, Criador e Regente do Universo e do Homem, que suscite, no nosso Brasil, varões de espírito nobre e guerreiro dispostos a marchar pelo fogo e pelas ruínas, sacrificando, se necessário, as próprias vidas, sem nada pedir em troca, em nome dos princípios resumidos no Manifesto de Outubro, lídima expressão do autêntico Espírito Nobre e carta de princípios que deve ser tomada em consideração por todo aquele que tem consciência de que é com base na autêntica Tradição Nacional e no autêntico pensamento nacional brasileiro que devemos estruturar as nossas instituições políticas.

Por Cristo e pela Nação!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 07 de outubro de 2015-LXXXIII.

*O presente artigo se constitui, em última análise, numa versão revista, atualizada e largamente ampliada de nosso artigo 82 anos do Manifesto de Outubro, disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=312#.VhVpfPlViko.


[1] Cf. Plínio SALGADO, O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, vol. I, Rio de Janeiro, Edições GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 15.
[2] A personalidade de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado, 4ª edição, São Paulo, Companhia Editora Panorama, 1937, p. 73.
[3] Cf. Maria Amélia Salgado LOUREIRO, Plínio Salgado, meu pai, São Paulo, Edições GRD, 2001, p.154.
[4] Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, in Antônio Carlos PEREIRA, Folha dobrada: documento e história do povo paulista em 1932, São Paulo, O Estado de S. Paulo, 1982, pp. 517-525.
[5] Despertemos a Nação, 1ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1935, p. 5.
[6] Palavras iniciais, in Plínio SALGADO, Extremismo e Democracia, 1ª edição, São Paulo, Editorial Guanumby, s/d, p. 8.
[7] Recado a um ex-presidente da República, ex-ministro, ex-senador; ex-professor universitário e que, hoje, amplia e revitaliza os “quadros” dos remanescentes caluniadores do Integralismo [Fernando Henrique Carodoso], in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. XI.
[8] O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 37-38
[9] O idealismo da Constituição, 2ª edição, aumentada, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1939, pp. 12-13.
[10] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, Idealismo utópico e idealismo orgânico (Comunicação apresentada no III Simpósio de Filologia e Cultura Latino-Americana, promovido pelo PROLAM/USP e pelo Núcleo de Pesquisa “América” e realizado nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2011, na sala de videoconferências de Filosofia e Ciências Sociais, na Cidade Universitária, em São Paulo). Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[11] 79 anos do Manifesto de Outubro. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[12] A ilusão americana, 2ª edição, Prefácio de Augusto Frederico Schmidt, Rio de Janeiro, Livraria Civilização Brasileira S.A., 1933, p. 60.
[13] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[14] O idealismo da Constituição, 1ª edição, Rio de Janeiro, Edição de Terra de Sol, 1927, p. 13.
[15] Comunismo, Cristianismo e Corporativismo, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Ltda., 1938, p. 98.
[16] Cf. Plínio Salgado, Manifesto de Outubro de 1932, in Sei que vou por aqui!, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. V.
[17] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 23.
[18] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. V.
[19] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 24.
[20] Manifesto de Outubro de 1932, cit., loc. cit.
[21] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 25.
[22] Idem, loc. cit.
[23] Idem, p. 26.
[24] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. VIII.
[25] O Integralismo na vida brasileira, cit., loc. cit.
[26] Idem, loc. cit.
[27] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. IX.
[28] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 27.
[29] Idem, loc. cit.
[30] Manifesto de Outubro de 1932, cit., pp. IX-X.
[31] Idem, pp. X-XI; O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 27-28.
[32] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 28.
[33] Apud Pedro PAULO FILHO, Campos do Jordão, o presente passado a limpo, São José dos Campos, Vertente, 1997, p. 70.
[34] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. XI.
[35] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 29.
[36] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, O Estado Integralista, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. 239.
[37] Carta de Princípios do Partido de Representação Popular, Porto Alegre, Edição do Comitê de Propaganda pró Candidatura de Plínio Salgado, 1955, p. 3.
[38]80 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[39] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[40] O que o Integralista deve saber, 5ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, S.A, 1937, pp. 09-10.
[41] Algumas palavras, in, Lúcio José dos SANTOS, Filosofia, Pedagogia, Religião, São Paulo, Companhia Melhoramentos, 1936, p. 7.
[42] Entrevista concedida ao Jornal da USP.  Disponível em:http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[43] Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:
[44] A lanterna na popa, Rio de Janeiro, Topbooks, 1994, p. 843.
[45] Miguel Calmon – uma grande vida, Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco, Rio de Janeiro, José Olympio Editora; Brasília, INL (Instituto Nacional do Livro), 1983, p. 170.
[46]Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. XVI.
[47] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[48] Plínio Salgado, esse injustiçado, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador e apresentador), São Bento do Sapucaí, São Paulo, Espaço Cultural Plínio Salgado, 1994, p. 15.
[49] A notável oração do Dr. Hipólito Raposo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[50] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 47.
[51] Idem, p. 70.
[52] O cavaleiro do Brasil Integral, in Sei que vou por aqui!, ano I, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. XVII. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil a 20/07/1933.
[53] Plínio Salgado e o pensamento tradicional, in Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. 107.