Por Victor Emanuel Vilela Barbuy
Foi com profunda surpresa que nós outros recebemos, na tarde da
última quarta-feira, dia 13 de março do ano da Graça do Nascimento de Nosso
Senhor Jesus Cristo de 2013, a inesperada notícia de que o Cardeal D. Jorge
Mario Bergoglio, nascido em Buenos Aires no ano de 1936, acabara de ser eleito
o novo Papa, adotando o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de
Assis. Tal surpresa se deu, evidentemente, em virtude de até então muito pouco
conhecermos a respeito do Cardeal Bergoglio, que, aliás, praticamente ninguém
apontaria como um papabile antes
deste Conclave, ainda que em 2005 tivesse sido ele o principal adversário do
Cardeal Joseph Ratzinger no Conclave em que este último fora eleito Papa.
Com base no pouco que sabemos sobre o novo Papa, faremos, nas
linhas seguintes, um breve apanhado daquilo que nele vemos de negativo e de
positivo, expressando, ademais, aquilo que esperamos que seja realizado em seu
Pontificado pelo bem da Igreja e do Mundo.
Lamentavelmente, sob o nefasto influxo do
denominado modernismo religioso, justa e duramente condenado por São Pio X na
Encíclica Pascendi
Dominici Gregis, dada em Roma no ano de 1907, [1] o Cardeal D. Bergoglio
expressou, por diversas vezes, ideias contrárias à Tradição Católica, assim
como realizou atos contrários a tal Tradição, o que se explica, aliás, pela
deficiente formação teológica que recebeu, quase toda já depois do Concílio
Vaticano II. Salientando que a Tradição Católica a que nos referimos é, segundo
escreve o mesmo São Pio X, a palavra divina não-escrita, mas comunicada de viva
voz por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelos Santos Apóstolos, e que, por meio da
Igreja, chegou sem alteração, de século em século, até nós outros, [2] julgamos
necessário ressaltar que esperamos, de todo o coração, que, na qualidade de
Romano Pontífice, não volte ele, pelo bem da Igreja e do Orbe Terrestre, a
expressar tais ideias e a realizar tais atos, mas que, ao contrário, se
aproxime, cada vez mais, da Tradição. É forçoso reconhecer, contudo, que,
infelizmente, pelo que temos visto nos primeiros dias deste Pontificado, nossas
esperanças neste sentido têm pouquíssimas chances de se realizar.
Dentre as virtudes de D. Bergoglio,
podemos destacar aquelas da simplicidade e da humildade, que, esperamos, não
degenerem em pauperismo e nem em desdém pelas honras e pelos títulos a que tem
direito, assim como aquela da coragem, coragem esta que, com efeito, muito já
demonstrou ele na luta em prol da Vida e da Família Tradicional e, por
conseguinte, contra o aborto, o chamado “casamento gay”, “homoafetivo”, ou
“igualitário” e outras bandeiras contrárias à Lei Natural levantadas pelas
hordas dos sem-Deus, sem-Pátria e sem-Família. Aliás, que todos nós outros sigamos
a máxima proferida em 2005 por este bravo seguidor da regra de Santo Inácio de
Loyola: “Defenda o nascituro contra o aborto mesmo que te persigam, te
caluniem, montem armadilhas para ti, te levem às barras do tribunal ou te
matem” [3].
Adepto, ao que parece, do autêntico
Justicialismo, do Justicialismo de Perón, baseado, antes de tudo, na autêntica
Doutrina Social da Igreja, e não do falso Justicialismo dos pseudo-peronistas da
“esquerda”, como a social-democrata Kirchner, e da “direita”, como o neoliberal
Menem, o Papa Francisco é, felizmente, um adversário irredutível, assim como
nós outros, tanto do liberalismo econômico, que sacrifica o Bem Comum a um
individualismo sem peias, como do socialismo marxista, sistema no qual um
Estado absorvente sacrifica a Pessoa Humana ao seu poder tirânico. Partindo-se
do princípio de que a ideologia se constitui num
conjunto de princípios e normas práticas de caráter apriorístico e abstrato,
engendrado pela mente humana, não resultando da Tradição e da experiência
histórica e sendo investido de valor dogmático, podemos dizer que as duas
supracitadas ideologias, ambas combatidas pela Igreja desde o seu surgimento, se configuram nas duas ideologias por excelência, do mesmo modo que
afirmamos que estas duas grandes e funestas utopias há vários decênios prejudicam
seriamente o desenvolvimento das nações, por desviá-las dos princípios
ordenadores da Tradição, da Lei e da Ordem Natural e por entregá-las ao despótico
domínio da Internacional Dourada ou da Internacional Vermelha, as duas irmãs
pretensamente inimigas mas em verdade aliadas e dominadas pela mesma farisaica
estirpe de víboras e abutres.
Assim, aqueles que, nas próprias
fileiras católicas, têm acusado de comunista o Papa Francisco I, ou apenas Papa
Francisco, como tem sido chamado, em virtude de sua preocupação social e sua
posição firmemente contrária ao liberalismo econômico, estão tão equivocados
quanto estão os inimigos da Igreja ao repetir, por exemplo, a fábula da
“pedofilia endêmica” entre os sacerdotes [4], uma vez que as posições do Sumo
Pontífice não são senão aquelas da autêntica Doutrina Social da Igreja,
integralmente contrária, evidentemente, aos princípios anticristãos e
antitradicionais do liberal-capitalismo. Com efeito, conforme o Papa Pio XII -
que nenhum de tais indivíduos ousaria chamar de comunista - salienta, na Exortação
Apostólica Menti
Nostrae, de 1950, “a Igreja não tem cessado de denunciar as
graves consequências” do “sistema econômico conhecido pelo nome de
capitalismo”, não apenas havendo apontado “os abusos do capital e do próprio
direito de propriedade que o mesmo sistema promove e defende”, mas igualmente “ensinado
que o capital e a propriedade devem ser instrumentos da produção em proveito de
toda a sociedade e meios de manutenção e de defesa da liberdade e da dignidade
da pessoa humana” [5].
Percebemos nós outros, especialmente
pela homilia proferida pelo Papa Francisco durante a Santa Missa que celebrou com
os Cardeais no dia seguinte à sua eleição, que o novo Romano Pontífice, assim
como o poverello de Assis, é um homem
dotado, como há pouco afirmamos, de grande preocupação social, mas que,
evidentemente, tem consciência de que os princípios religiosos estão acima
daqueles sociais, de modo que não basta praticar a caridade sem professar a fé
em Cristo e sem viver conforme os ensinamentos do Evangelho e transmiti-los ao
maior número possível de pessoas. Com efeito, a Igreja, segundo ele, deixaria
de ser Igreja, tornando-se uma mera “ONG assistencial”, caso não confessasse Jesus
Cristo [6].
Antes de concluir o presente texto,
reputamos oportuno assinalar dois fatos, em nosso sentir, assaz positivos, a
respeito do Papa Francisco. O primeiro é o fato de que ele foi ele membro da
organização justicialista denominada Guardia
de Hierro (Guarda de Ferro), grandemente inspirada na gloriosa Garda de Fier (Guarda de Ferro) romena,
heroico movimento tradicionalista, patriótico e nacionalista também conhecido
como Movimento Legionário e que teve como fundador o magno homem de pensamento
e ação que foi o mártir dácio Corneliu Codreanu. O segundo, por sua vez, é o
fato de que é ele profundo admirador do grande pensador inglês G. K.
Chesterton, principal vulto do pensamento católico e distributivista inglês do
século XX ao lado de seu dileto amigo Hilaire Belloc, fazendo parte mesmo do
comitê de honra da Sociedade Chestertoniana Argentina.
Encerramos estas linhas ressaltando nosso desejo de que o primeiro
Papa jesuíta, assim como o primeiro ocupante do Trono de Pedro nascido nas
Américas, no Novo Mundo em que os membros da Companhia de Jesus um dia tantos
soldados conquistaram para as hostes de Cristo Rei, cumpra sua “vontade de
servir o Evangelho com renovado amor, ajudando a Igreja a tornar-se, cada vez
mais, em Cristo e com Cristo, a videira fecunda do Senhor”, respondendo
“fielmente à missão de sempre”, que é a de “levar Jesus Cristo ao homem e
conduzir o homem para que se encontre com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e
Vida, realmente presente na Igreja e contemporâneo em cada homem” [7].
[2] Idem. Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: O Catecismo
Maior de São Pio X com pequenos acréscimos. Quinta parte, capítulo I, §
5º, 885. Anápolis: Serviço de Animação Eucarística Mariana, 2005, p.211.
[3] BERGOGLIO,
SJ, Jorge Mario, apud SCHEIDLER, Eric. Pope
Francis: Defend the Unborn From Abortion Even if Persecuted. Disponível em: http://www.lifenews.com/2013/03/14/pope-francis-defend-the-unborn-from-abortion-even-if-persecuted/. Acesso em 18 de março de 2013.
[4] Como observou o advogado
e jornalista Carlos Alberto Di Franco, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, a expressão "pedofilia epidêmica", referindo-se aos
sacerdotes católicos, é “claramente equivocada”, não resistindo à “análise
objetiva dos fatos”. Com efeito, salienta ele, “o exame sereno, tecnicamente
responsável, mostraria, acima de qualquer possibilidade de dúvida, que o número
de delitos ocorridos é muitíssimo menor entre padres católicos do que em
qualquer outra comunidade”. Com efeito, prossegue, “o conhecido sociólogo
italiano Massimo Introvigne mostrou que, num período de várias décadas, apenas
cem sacerdotes foram denunciados e condenados na Itália, enquanto 6 mil
professores de Educação Física sofriam condenação pelo mesmo delito”. Já na Alemanha
houve, desde 1995, 210 mil denúncias de abusos. “Dessas 210 mil, 300 estavam
ligadas ao clero, menos de 0,2%”. “Por que” então, pergunta Di Franco, “só nos
ocupamos das 300 denúncias contra a Igreja? Mas e as outras 209 mil? Trata-se,
como já afirmei, de um escândalo seletivo” (FRANCO, Carlos Alberto Di. Igreja, uma megacobertura. Disponível
em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,igreja-uma-megacobertura,1009983,0.htm. Acesso em 18 de março de 2013.
[5] PIO XII. Menti Nostrae. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_exhortations/documents/hf_p-xii_exh_19500923_menti-nostrae_po.html. Acesso em 18 de março de 2013.
[6] FRANCISCO (I). Primeira
homilia do Papa Francisco. Disponível em:
http://ideeanunciai.wordpress.com/2013/03/15/primeira-homilia-do-papa-francisco/.
Acesso em 18 de março de 2013.
[7] Idem. Discurso proferido
na audiência aos membros do Colégio Cardinalício. Disponível
em: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/march/documents/papa-francesco_20130315_cardinali_po.html. Acesso em 18 de março de 2013.
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