Thursday, March 21, 2013

Algumas palavras sobre o Papa Francisco (I)



Por Victor Emanuel Vilela Barbuy
 
Foi com profunda surpresa que nós outros recebemos, na tarde da última quarta-feira, dia 13 de março do ano da Graça do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2013, a inesperada notícia de que o Cardeal D. Jorge Mario Bergoglio, nascido em Buenos Aires no ano de 1936, acabara de ser eleito o novo Papa, adotando o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis. Tal surpresa se deu, evidentemente, em virtude de até então muito pouco conhecermos a respeito do Cardeal Bergoglio, que, aliás, praticamente ninguém apontaria como um papabile antes deste Conclave, ainda que em 2005 tivesse sido ele o principal adversário do Cardeal Joseph Ratzinger no Conclave em que este último fora eleito Papa.

Com base no pouco que sabemos sobre o novo Papa, faremos, nas linhas seguintes, um breve apanhado daquilo que nele vemos de negativo e de positivo, expressando, ademais, aquilo que esperamos que seja realizado em seu Pontificado pelo bem da Igreja e do Mundo.

            Lamentavelmente, sob o nefasto influxo do denominado modernismo religioso, justa e duramente condenado por São Pio X na Encíclica Pascendi Dominici Gregis, dada em Roma no ano de 1907, [1] o Cardeal D. Bergoglio expressou, por diversas vezes, ideias contrárias à Tradição Católica, assim como realizou atos contrários a tal Tradição, o que se explica, aliás, pela deficiente formação teológica que recebeu, quase toda já depois do Concílio Vaticano II. Salientando que a Tradição Católica a que nos referimos é, segundo escreve o mesmo São Pio X, a palavra divina não-escrita, mas comunicada de viva voz por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelos Santos Apóstolos, e que, por meio da Igreja, chegou sem alteração, de século em século, até nós outros, [2] julgamos necessário ressaltar que esperamos, de todo o coração, que, na qualidade de Romano Pontífice, não volte ele, pelo bem da Igreja e do Orbe Terrestre, a expressar tais ideias e a realizar tais atos, mas que, ao contrário, se aproxime, cada vez mais, da Tradição. É forçoso reconhecer, contudo, que, infelizmente, pelo que temos visto nos primeiros dias deste Pontificado, nossas esperanças neste sentido têm pouquíssimas chances de se realizar.

            Dentre as virtudes de D. Bergoglio, podemos destacar aquelas da simplicidade e da humildade, que, esperamos, não degenerem em pauperismo e nem em desdém pelas honras e pelos títulos a que tem direito, assim como aquela da coragem, coragem esta que, com efeito, muito já demonstrou ele na luta em prol da Vida e da Família Tradicional e, por conseguinte, contra o aborto, o chamado “casamento gay”, “homoafetivo”, ou “igualitário” e outras bandeiras contrárias à Lei Natural levantadas pelas hordas dos sem-Deus, sem-Pátria e sem-Família. Aliás, que todos nós outros sigamos a máxima proferida em 2005 por este bravo seguidor da regra de Santo Inácio de Loyola: “Defenda o nascituro contra o aborto mesmo que te persigam, te caluniem, montem armadilhas para ti, te levem às barras do tribunal ou te matem” [3].

            Adepto, ao que parece, do autêntico Justicialismo, do Justicialismo de Perón, baseado, antes de tudo, na autêntica Doutrina Social da Igreja, e não do falso Justicialismo dos pseudo-peronistas da “esquerda”, como a social-democrata Kirchner, e da “direita”, como o neoliberal Menem, o Papa Francisco é, felizmente, um adversário irredutível, assim como nós outros, tanto do liberalismo econômico, que sacrifica o Bem Comum a um individualismo sem peias, como do socialismo marxista, sistema no qual um Estado absorvente sacrifica a Pessoa Humana ao seu poder tirânico. Partindo-se do princípio de que a ideologia se constitui num conjunto de princípios e normas práticas de caráter apriorístico e abstrato, engendrado pela mente humana, não resultando da Tradição e da experiência histórica e sendo investido de valor dogmático, podemos dizer que as duas supracitadas ideologias, ambas combatidas pela Igreja desde o seu surgimento, se configuram nas duas ideologias por excelência, do mesmo modo que afirmamos que estas duas grandes e funestas utopias há vários decênios prejudicam seriamente o desenvolvimento das nações, por desviá-las dos princípios ordenadores da Tradição, da Lei e da Ordem Natural e por entregá-las ao despótico domínio da Internacional Dourada ou da Internacional Vermelha, as duas irmãs pretensamente inimigas mas em verdade aliadas e dominadas pela mesma farisaica estirpe de víboras e abutres.

            Assim, aqueles que, nas próprias fileiras católicas, têm acusado de comunista o Papa Francisco I, ou apenas Papa Francisco, como tem sido chamado, em virtude de sua preocupação social e sua posição firmemente contrária ao liberalismo econômico, estão tão equivocados quanto estão os inimigos da Igreja ao repetir, por exemplo, a fábula da “pedofilia endêmica” entre os sacerdotes [4], uma vez que as posições do Sumo Pontífice não são senão aquelas da autêntica Doutrina Social da Igreja, integralmente contrária, evidentemente, aos princípios anticristãos e antitradicionais do liberal-capitalismo. Com efeito, conforme o Papa Pio XII - que nenhum de tais indivíduos ousaria chamar de comunista - salienta, na Exortação Apostólica Menti Nostrae, de 1950, “a Igreja não tem cessado de denunciar as graves consequências” do “sistema econômico conhecido pelo nome de capitalismo”, não apenas havendo apontado “os abusos do capital e do próprio direito de propriedade que o mesmo sistema promove e defende”, mas igualmente “ensinado que o capital e a propriedade devem ser instrumentos da produção em proveito de toda a sociedade e meios de manutenção e de defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana” [5].

            Percebemos nós outros, especialmente pela homilia proferida pelo Papa Francisco durante a Santa Missa que celebrou com os Cardeais no dia seguinte à sua eleição, que o novo Romano Pontífice, assim como o poverello de Assis, é um homem dotado, como há pouco afirmamos, de grande preocupação social, mas que, evidentemente, tem consciência de que os princípios religiosos estão acima daqueles sociais, de modo que não basta praticar a caridade sem professar a fé em Cristo e sem viver conforme os ensinamentos do Evangelho e transmiti-los ao maior número possível de pessoas. Com efeito, a Igreja, segundo ele, deixaria de ser Igreja, tornando-se uma mera “ONG assistencial”, caso não confessasse Jesus Cristo [6].

            Antes de concluir o presente texto, reputamos oportuno assinalar dois fatos, em nosso sentir, assaz positivos, a respeito do Papa Francisco. O primeiro é o fato de que ele foi ele membro da organização justicialista denominada Guardia de Hierro (Guarda de Ferro), grandemente inspirada na gloriosa Garda de Fier (Guarda de Ferro) romena, heroico movimento tradicionalista, patriótico e nacionalista também conhecido como Movimento Legionário e que teve como fundador o magno homem de pensamento e ação que foi o mártir dácio Corneliu Codreanu. O segundo, por sua vez, é o fato de que é ele profundo admirador do grande pensador inglês G. K. Chesterton, principal vulto do pensamento católico e distributivista inglês do século XX ao lado de seu dileto amigo Hilaire Belloc, fazendo parte mesmo do comitê de honra da Sociedade Chestertoniana Argentina.

Encerramos estas linhas ressaltando nosso desejo de que o primeiro Papa jesuíta, assim como o primeiro ocupante do Trono de Pedro nascido nas Américas, no Novo Mundo em que os membros da Companhia de Jesus um dia tantos soldados conquistaram para as hostes de Cristo Rei, cumpra sua “vontade de servir o Evangelho com renovado amor, ajudando a Igreja a tornar-se, cada vez mais, em Cristo e com Cristo, a videira fecunda do Senhor”, respondendo “fielmente à missão de sempre”, que é a de “levar Jesus Cristo ao homem e conduzir o homem para que se encontre com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, realmente presente na Igreja e contemporâneo em cada homem” [7].

 [1] SÃO PIO X. Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis. Dispónível em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_x/encyclicals/documents/hf_p-x_enc_19070908_pascendi-dominici-gregis_po.html. Acesso em 18 de março de 2013.

[2] Idem. Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: O Catecismo Maior de São Pio X com pequenos acréscimos. Quinta parte, capítulo I, ­§ 5º, 885. Anápolis: Serviço de Animação Eucarística Mariana, 2005, p.211.

[3] BERGOGLIO, SJ, Jorge Mario, apud SCHEIDLER, Eric. Pope Francis: Defend the Unborn From Abortion Even if Persecuted. Disponível em: http://www.lifenews.com/2013/03/14/pope-francis-defend-the-unborn-from-abortion-even-if-persecuted/. Acesso em 18 de março de 2013.

[4] Como observou o advogado e jornalista Carlos Alberto Di Franco, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, a expressão "pedofilia epidêmica", referindo-se aos sacerdotes católicos, é “claramente equivocada”, não resistindo à “análise objetiva dos fatos”. Com efeito, salienta ele, “o exame sereno, tecnicamente responsável, mostraria, acima de qualquer possibilidade de dúvida, que o número de delitos ocorridos é muitíssimo menor entre padres católicos do que em qualquer outra comunidade”. Com efeito, prossegue, “o conhecido sociólogo italiano Massimo Introvigne mostrou que, num período de várias décadas, apenas cem sacerdotes foram denunciados e condenados na Itália, enquanto 6 mil professores de Educação Física sofriam condenação pelo mesmo delito”. Já na Alemanha houve, desde 1995, 210 mil denúncias de abusos. “Dessas 210 mil, 300 estavam ligadas ao clero, menos de 0,2%”. “Por que” então, pergunta Di Franco, “só nos ocupamos das 300 denúncias contra a Igreja? Mas e as outras 209 mil? Trata-se, como já afirmei, de um escândalo seletivo” (FRANCO, Carlos Alberto Di. Igreja, uma megacobertura. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,igreja-uma-megacobertura,1009983,0.htm. Acesso em 18 de março de 2013.

[5] PIO XII. Menti Nostrae. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_exhortations/documents/hf_p-xii_exh_19500923_menti-nostrae_po.html. Acesso em 18 de março de 2013.

[6] FRANCISCO (I). Primeira homilia do Papa Francisco. Disponível em:


[7] Idem. Discurso proferido na audiência aos membros do Colégio Cardinalício. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/march/documents/papa-francesco_20130315_cardinali_po.html. Acesso em 18 de março de 2013.

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