Guerra
Interior e Revolução Interior*
Por Victor Emanuel Vilela Barbuy
Cada
Homem, cada Ente Humano vive, dentro de si, uma guerra constante, de cujas
silenciosas batalhas diárias se sai vencedor ou derrotado. Esta Guerra Interior
só termina, com o triunfo ou a derrota final, no momento em que a Alma, o
Espírito Imortal se desprende do corpo já inerte, ainda que existam homens
totalmente derrotados desde muito antes de exalar o derradeiro suspiro. São
estes os mortos que ainda respiram, os fracos que se deixam levar pela
correnteza, os infelizes que, segundo Sêneca, padecem do “pior dos males”, que
não é senão o de abandonar “o número dos vivos, antes de morrer” [1].
Aquele
que consegue derrotar-se a si mesmo nos árduos combates dessa perene guerra
contra o próprio eu obtém para si o maior, o mais nobre e o mais belo dos
triunfos, sendo mil vezes mais heroico do que o guerreiro capaz de vencer mil
inimigos externos, mas não de triunfar sobre o inimigo que há dentro dele. Do
mesmo modo, aquele que se deixa derrotar por si próprio sofre a pior e a mais
vil e desonrosa derrota. Isto, aliás, já foi dito em obras como o Baghavad Gita, que reúne preleções
atribuídas a Krishna, e o Dhammapada,
que, segundo a tradição, teria sido composto por Siddharta Gautama, e foi também
afirmado, dentre outros, pelo
cretense Clínias de Cnossos, no diálogo As
Leis, de Platão, e por Demócrito de Abdera. Este último pondera, com
efeito, que “não somente é heróico o vencedor dos inimigos, mas também o
triunfador dos próprios desejos” [2] e que “vencer-se a si mesmo é a primeira
de todas as vitórias”, ao passo que “ser vencido por si mesmo é a mais torpe e
a pior cousa” [3]. Já Clínias, havendo observado, no referido diálogo
platônico, que “cada um de nós é seu próprio inimigo” [4], salienta que “a
vitória sobre o eu é de todas as vitórias a mais gloriosa e a melhor, e a
auto-derrota é de todas as derrotas de pronto a pior e a mais vergonhosa,
frases que demonstram que uma guerra contra nós mesmos existe em cada um de
nós” [5].
A
Revolução Interior proposta por Plínio Salgado se configura numa mudança de
atitude do Espírito em face dos problemas que lhe são apresentados, numa
transmutação integral de valores que, de acordo com o sentido astronômico e
tradicional do termo “Revolução”, implica um retorno do Espírito aos princípios
– aos únicos verdadeiramente imortais princípios – da Tradição. Tal Revolução,
a que também podemos denominar Revolução do Espírito, muda a totalidade dos conceitos, dando um novo e superior
sentido de vida, e, na frase de Plínio Salgado, se traduz, antes de
mais nada, na autoimposição de “normas
de nobreza tanto na vida particular como na vida pública” [6].
Decisiva vitória do Homem em sua Guerra Interior, sendo, a partir dela, mil
vezes mais fácil se combater o inimigo que há dentro dele próprio, consiste tal
Revolução Espiritual na base da reedificação do Homem Integral, do Homem Novo
que não é senão o Homem Tradicional, ou, se preferir, o autêntico Homem Nobre, que,
a partir dela, passa a influir no ambiente que o cerca, fazendo sua parte na
obra da Revolução Cultural, que, uma vez vitoriosa, construirá a Sociedade
Integral e o Estado Integral, a Nova Sociedade e o Novo Estado que não são
senão a Sociedade Tradicional e o Estado Tradicional.
Conscientes
de que o preceito dos tempos que passam não é o lamento sobre o fato de que
vivemos num Mundo em ruínas, mas sim a ação, o combate em prol da edificação de
uma Nova Civilização Tradicional, de uma Nova Civilização Cristã na verdadeira
acepção do termo, e de que esta Nova Civilização somente poderá ser edificada
por uma Elite, uma Aristocracia do Espírito, nós outros proclamamos a imperiosa
necessidade de nos fazermos, por meio da Guerra e da Revolução Interior,
autênticos Homens Nobres, membros daquela Aristocracia Espiritual, dispostos a
servir a Deus, à Pátria e à Família e a tudo sacrificar na peleja pelos tradicionais
valores consubstanciados nesta trilogia, nobre como nenhuma outra.
[1]
SÊNECA, Lúcio Aneu. Da tranqüilidade da
alma, V. In Idem. Obras (Consolação a minha mãe Hélvia; Da tranqüilidade da alma; Medéia. Estudo introdutivo e tradução de
Giulio Davide Leoni. São Paulo: Atena Editôra, 1955, p. 95.
[2] DEMÓCRITO,
fragmento 214, segundo a classificação de Diels. In MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. Volume I. Tradução
de Lycurgo Gomes da Motta. 3ª ed. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1971, p. 112.
[3]
Idem, fragmento 75, segundo a classificação de Mullach. In MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. Volume I, cit.,
loc. cit.
[4]
PLATÃO. As Leis, Livro I, “d”. In
Idem. As Leis (incluindo Epinonis). 2ª ed. revista.Tradução,
notas e introdução de Edson Bini. Prefácio de Dalmo de Abreu Dallari. Bauru,
SP: Edipro, 2010, p. 69.
[5]
Idem. As Leis, Livro I, “e”. In Idem.
As Leis (incluindo Epinonis), cit., pp. 69-70.
[6] SALGADO, Plínio. Espírito da burguesia. 3ª ed. In
Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. XV. São Paulo: Editora das Américas,
1957, p. 47.
*Originalmente publicado no boletim "Ação!", da Frente Integralista Brasileira (Ano III, n. 09, janeiro-abril de 2013, p. 4).
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