81 anos do Manifesto
de Outubro*
Neste
dia 07 de outubro, celebramos, como cristãos, os quatrocentos e quarenta e dois
anos da Batalha de Lepanto, em que a armada cristã da Santa Liga, sob o comando
de D. João de Áustria e sob as bênçãos de Deus e de Nossa Senhora, venceu a
armada turca, mais numerosa, salvando a Europa e pondo termo à expansão otomana
no Mediterrâneo, e, como cristãos e brasileiros, celebramos os oitenta e um
anos do lançamento do denominado Manifesto
de Outubro, que marca o nascimento oficial do Integralismo e da Ação
Integralista Brasileira (AIB). É deste documento tão significativo para a
História Pátria, ainda que tão esquecido graças à nefasta ação das forças
antitradicionais e antinacionais, que havemos de tratar nas linhas que seguem.
Tal
Manifesto foi redigido por Plínio Salgado e lido no Teatro Municipal de São
Paulo a 07 de Outubro de 1932, motivo pelo qual ficou conhecido como Manifesto de Outubro, a despeito de
haver sido escrito em maio e aprovado em junho daquele ano pela Sociedade de
Estudos Políticos (SEP), núcleo de grande relevo destinado, antes de tudo, à
meditação sobre a problemática política e social brasileira e que fora fundado
aos 12 dias do mês de março do referido ano, no Salão de Armas do Clube
Português, na Capital Paulista, por um grupo de intelectuais encabeçado pelo
próprio Plínio Salgado. Este era já então, como cumpre ressaltar, um consagrado
escritor, jornalista e político, havendo seu primeiro romance, O estrangeiro (1926), também o primeiro
romance social em prosa modernista do País, sido um grande sucesso de público e
de crítica, merecendo elogios de escritores e críticos literários da estirpe de
Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima),
Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Tasso da Silveira, Afrânio Peixoto,
Augusto Frederico Schmidt e Cassiano Ricardo, dentre outros. Seu segundo
romance, O esperado (1931), também
fizera bastante sucesso, ainda que menos do que o anterior. Como jornalista,
fora redator do Correio Paulistano, de
São Paulo, colaborara em diversos jornais e revistas e fora redator-chefe do
matutino A Razão, também da Capital
Bandeirante, onde, em sua Nota Política
(artigo diário de abertura daquele jornal), transcrita no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do
Ceará[1],
revelara, no dizer de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no
romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano (de
1931)[2],
além de haver despertado diversos jovens para o estudo da realidade nacional e
dos pensadores brasileiros. Em 1928 fora eleito Deputado Estadual em São Paulo
pelo Partido Republicano Paulista, entrando pelo 2° turno e sendo o candidato
mais votado[3], e em 1930 redigira o manifesto
que no ano seguinte (1931) seria entregue à Legião Revolucionária de São Paulo[4],
que o adotaria, ainda que logo mais se desviasse de suas diretrizes.
A
despeito de o Manifesto entregue por Plínio Salgado à Legião Revolucionária de
São Paulo, que recebera justíssimos elogios de intelectuais como Oliveira
Vianna e Octavio de Faria, poder ser já plenamente considerado um manifesto
integralista e de o próprio Plínio Salgado mais tarde haver afirmado que o
romance O estrangeiro havia sido seu “primeiro
manifesto integralista”[5], foi
o Manifesto de Outubro,
incontestavelmente, o primeiro manifesto oficialmente integralista do Brasil. Sua
mensagem, essencialmente cristã, brasileira, democrática na acepção integral e
orgânica do termo e revolucionária no sentido tradicional do vocábulo,
espalhou-se, com grande rapidez, por todas as províncias componentes deste
vasto Império, logo se reunindo, à sombra da bandeira azul e branca do Sigma,
centenas de milhares de soldados de Deus, da Pátria e da Família, bandeirantes
do Brasil Profundo e de sua Tradição Integral e sentinelas, sempre alertas e
vigilantes, da Nação Brasileira.
O
Manifesto de Outubro, de magna relevância
para a História Nacional e de impressionante atualidade, se constitui na mais
perfeita síntese daquilo que foi construído pelos pensadores, escritores e
estadistas patrícios até o ano de 1932 e na igualmente perfeita síntese da vigorosa
e sadia Doutrina Integralista, autêntico exemplo do mais lídimo “idealismo
orgânico” de que nos fala Oliveira Vianna e que vem a ser o idealismo realista
e tradicionalista, formado tão somente de realidade,
alicerçado tão somente na experiência e orientado tão somente pela observação
do povo e do meio,[6] ou, noutras palavras, o idealismo consciente de que as
instituições devem brotar da Tradição e da História dos povos e não da cabeça
de ideólogos criadores de mitos e quimeras, o idealismo, enfim, que extrai da
História uma Tradição sólida e viva, um coeficiente espiritual de edificação
moral, social e cívica, um desenvolvimento estável e verdadeiro, transmissor e
enriquecedor do patrimônio de pensamento e de costumes por nós herdado de
nossos maiores[7].
Reflete, pois, o Manifesto de Outubro, como sublinhamos algures[8], a Tradição Integral da Nação Brasileira, trazendo soluções nacionais para
os problemas nacionais, e isto em um País em que já desde o Império as elites
nada mais faziam do que transplantar ideias e soluções estrangeiras, geralmente
utópicas mesmo nos países em que haviam sido inicialmente propostas, e
totalmente alheias à nossa Tradição, aos nossos costumes, à nossa Identidade
Nacional. Isto porque Plínio Salgado tinha plena consciência de que, consoante
preleciona Eduardo Prado, em A ilusão americana,
as sociedades devem ser regidas por leis emanadas de sua estirpe, de sua
História, de seu caráter, de seu desenvolvimento orgânico[9].
Plínio Salgado também tinha plena
consciência, como igualmente sublinhamos[10],
de que, como faz ver Oliveira Vianna, no prefácio à primeira edição da obra O
idealismo da Constituição, de 1927, “se, ontem como agora, o problema da
democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira
inglesa, à maneira francesa, à maneira americana; mas, nunca, à maneira
brasileira”[11].
Daí o então futuro autor de Espírito da burguesia e da Vida de Jesus
propor, naquele documento histórico, um modelo orgânico e autenticamente
brasileiro de Democracia, que, conforme assinala Gustavo Barroso, se inspira
profundamente nas lições políticas de Santo Tomás de Aquino.[12]
As
não muitas porém densas páginas do Manifesto
de Outubro, estuantes de Cristianismo e de Brasilidade, refletem os mais
nobres valores, costumes e tradições pátrios e a mais genuína Doutrina Social
Cristã, a um só tempo anti-individualista e anticoletivista, anitiliberal e
antitotalitária, e sintetizam, como há pouco dissemos, toda a Doutrina
Integralista, depois de seu surgimento desenvolvida em diversos livros,
manifestos, artigos publicados em jornais e revistas e discursos de Plínio
Salgado e de outros vultos do Movimento Integralista. Em tais páginas estão
presentes, por exemplo, as ideias seguintes, centrais na Doutrina do Sigma: Afirmação
da existência de Deus e da Alma Imortal do Homem; Concepção Integral do
Universo e do Ente Humano; Patriotismo; Nacionalismo Integral, justo,
equilibrado, sadio e edificador, alicerçado na Tradição e tendente ao autêntico
Universalismo, que não pode ser confundido com o internacionalismo liberal ou
comunista; Defesa da Família, cellula
mater da Sociedade, e do Município, cellula
mater da Nação; Culto da Tradição Nacional; Combate sem tréguas ao
comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; Guerra sem tréguas ao
cosmopolitismo; Sustentação da Harmonia e da Justiça Social; Restauração dos
princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; Pugna sem quartel contra o
racismo e em prol da valorização do nosso povo e das nossas tradições, assim como
dos pensadores e escritores nacionais; Luta pela construção de uma Democracia
Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação,
do Homem do Bem Comum.
Como
sublinhamos há exatamente um ano, por ocasião do octogésimo aniversário do Manifesto de Outubro,[13] a
relevância que o tão injustamente olvidado Manifesto
de Outubro e o tão caluniado e mesmo demonizado Integralismo, movimento sobre
o qual se criou uma verdadeira leyenda
negra ainda não de todo destruída, desempenharam na vida cultural, política
e social do nosso Brasil, relevância esta muito bem sintetizada por Plínio
Salgado nas páginas de O Integralismo na
vida brasileira, obra que se constitui no primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo, organizada
por Gumercindo Rocha Dorea em fins da década de 1950, são por nós assaz conhecidas,
do mesmo modo que os nomes dos diversos pensadores, escritores, juristas,
jornalistas, médicos, professores, políticos, sociólogos e historiadores que
vestiram a Camisa-Verde Integralista e muito contribuíram, em suas respectivas
áreas, para o engrandecimento da Nação Brasileira, de modo que julgamos não ser
necessário discorrer aqui a respeito de tais assuntos. Salientemos, pois,
apenas, que o Integralismo não foi somente o primeiro “movimento de massas” do
Brasil e que a AIB não foi unicamente a primeira agremiação política de
amplitude nacional desde o ocaso do Império, mas que tal movimento e tal
organização foram – e tal movimento ainda é -, como afirmamos algures, uma
admirável escola de Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo
construtivo, assim como um possante foco de irradiação, inexpugnável cidadela e
vigilante atalaia do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro.[14]
Com efeito, o Integralismo, que é, como aduz
Gustavo Barroso, “uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional
em todos os pontos e em todos os sentidos”, pregando
“uma doutrina de renovação política, econômica, financeira,
cultural e moral”[15], tendo como lema a tríade “Deus, Pátria e Família”, “grandiosa como nenhuma outra”, na expressão de
Afonso de Escragnolle Taunay[16],
reuniu, no dizer de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade
da época”[17], se constituindo, segundo Gerardo Mello
Mourão, no “mais fascinante grupo da inteligência do País”.[18]
No mesmo sentido, poderíamos citar as palavras do liberal e, portanto,
insuspeito Roberto Campos, que evoca, em suas memórias, “o surpreendente
fascínio que o Integralismo exerceu em sua geração, particularmente sobre a
parte mais intelectualizada”[19],
assim como as palavras do igualmente liberal e insuspeito Pedro Calmon, que, na
biografia de seu pai, Miguel Calmon, observa que a plêiade de intelectuais
reunida pelo Integralismo “poderia lotar uma Academia, em vez de ocupar uma
trincheira”[20].
Já
nos havendo estendido mais do que o ideal, reputamos oportuno encerrar, por
aqui, o presente artigo, ressaltando que o Manifesto
de Outubro, síntese por excelência da Doutrina profundamente cristã e brasileira
do Integralismo, vanguarda da Nação Profunda e de sua Tradição, se configura em
um altaneiro e eloquente brado em prol da edificação de um Brasil Grande e
Renovado, restituído a sua augusta missão histórica, herdada de Portugal, de dilatar a Fé e o Império. Tal documento, repositório
do mais sadio, vigoroso, rigoroso e edificante nacionalismo e leitura
obrigatória a todos aqueles que pretendem se tornar autênticos guerreiros de
Deus, da Pátria, da Família e de todos os valores tradicionais consubstanciados
em tal tríade, tal documento, enfim, em que se pode sentir o palpitar do Brasil
Autêntico, se configura na sementeira da Pátria Nova com que sonhamos, com os
pés no chão, todos os autênticos e verdadeiros idealistas orgânicos. Neste octogésimo
primeiro aniversário do “nosso Manifesto”, como, aliás, o chamou o Professor
Goffredo Telles Junior, pouco antes de seu falecimento, em conversa telefônica
com o Professor Acacio Vaz de Lima Filho, rogamos, como fizemos há um ano[21], a
Deus, Criador e Regente do Universo e do Homem, que suscite, no nosso Brasil, varões
de espírito nobre e guerreiro dispostos a marchar pelo fogo e pelas ruínas,
sacrificando, se necessário, as próprias vidas, sem nada pedir em troca, em
nome dos princípios resumidos no Manifesto
de Outubro, lídima expressão do autêntico Espírito Nobre e carta de
princípios que deve ser tomada em consideração por todo aquele que tem
consciência de que é com base na autêntica Tradição Nacional e no autêntico
pensamento nacional brasileiro que devemos estruturar as nossas instituições
políticas.
Por
Cristo e pela Nação!
Victor
Emanuel Vilela Barbuy, Presidente Nacional da Frente Integralista. São Paulo, 07
de Outubro de 2013-LXXXI.
*Texto originalmente publicado no portal da Frente
Integralista Brasileira e disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=247.
[1] SALGADO, Plínio. O Integralismo na vida brasileira. In Enciclopédia do Integralismo, vol. I. Rio de Janeiro: Edições
GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 15.
[2] ROSA, Virgínio Santa. A personalidade de Plínio Salgado. In VÁRIOS. Plínio Salgado, cit., p. 73.
[3] LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. Plínio Salgado, meu pai. São Paulo.
Edições GRD: 2001, p.154.
[4] SALGADO, Plínio. Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo. In PEREIRA,
Antônio Carlos. Folha dobrada: documento
e história do povo paulista em 1932. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1982,
pp. 517-525.
[5] SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora,
1935, p. 5.
[6] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição. 2ª ed. Aumentada. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1939, pp.
12-13.
[7] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Idealismo utópico e idealismo orgânico (Comunicação
apresentada no III Simpósio de Filologia e Cultura Latino-Americana, promovido
pelo PROLAM/USP e pelo Núcleo de Pesquisa “América” e realizado nos dias 28, 29
e 30 de novembro de 2011, na sala de videoconferências de Filosofia e Ciências
Sociais, na Cidade Universitária, em São Paulo). Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
[8] Idem. 79
anos do Manifesto de Outubro. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
[9] PRADO, Eduardo. A ilusão americana. 2ª ed.
Prefácio de Augusto Frederico Schmidt. Rio de Janeiro: Livraria Civilização
Brasileira S.A., 1933, p. 60.
[10] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. 79 anos do Manifesto de Outubro.
Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
[11] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição.
1ª ed. Rio de Janeiro: Edição de Terra de Sol, 1927, p. 13.
[12] BARROSO, Gustavo. Comunismo, Cristianismo e
Corporativismo. Rio de Janeiro: Empresa Editora ABC Ltda., 1938, p. 98.
[13] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. 80 anos do Manifesto de Outubro.
Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=189.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
[14] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. 79 anos do Manifesto de Outubro.
Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125.
Acesso em 06 de outubro de 2013.
[15] BARROSO, Gustavo. O que o Integralista deve saber, cit., pp. 09-10.
[16] TAUNAY,
Afonso de E. Algumas
palavras. In SANTOS, Lúcio José dos. Filosofia, Pedagogia, Religião. São Paulo: Comp. Melhoramentos, 1936, p. 7.
[17] REALE, Miguel.
Entrevista concedida ao Jornal da USP. Disponível em:http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html.
Acesso em 067 de outubro de 2013.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
[19]
CAMPOS, Roberto. A lanterna na popa.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 843.
[20] CALMON, Pedro. Miguel Calmon
– uma grande vida. Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco. Rio de
Janeiro/Brasília: José Olympio Editora/INL, 1983, p. 170.
[21]
BARBUY, Victor Emanuel Vilela. 80 anos do Manifesto de Outubro.
Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=189.
Acesso em 07 de outubro de 2013.
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