Friday, July 29, 2011

Gustavo Barroso

Gustavo Barroso*





Por Victor Emanuel Vilela Barbuy



A prestigiosa Gazeta de Jarinu homenageou, em sua última edição, no Espaço filosófico, a figura do grande pensador patrício Plínio Salgado. Embora louvemos a iniciativa, lamentamos o fato de o texto, inspirado no verbete “Plínio Salgado” da Wikipédia, reproduzir algumas das várias inverdades neste veiculadas. Apenas a título de exemplo, Plínio Salgado jamais apoiou a ditadura Vargas e jamais fez campanha contra a reconstitucionalização do Brasil, somente se opondo, em 1932, à ideia de uma revolta armada contra Vargas, que, em sua opinião, estaria fadada ao fracasso e só fortaleceria a ditadura. Do mesmo modo, o Integralismo jamais foi um movimento de extrema-direita e nem tampouco se inspira no fascismo italiano, mas sim, antes e acima de tudo, no Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e no pensamento de grandes autores brasileiros como Jackson de Figueiredo, Alberto Torres, Farias Brito, Euclides da Cunha, Tavares Bastos, Eduardo Prado, José de Alencar e Afonso Celso. Além disso, ao contrário do que ali se afirma, o Movimento da Bandeira não foi uma resposta social-democrata ao Integralismo, sendo importante ressaltar que, como anota a pesquisadora Maria Lúcia Fernandes Guelfi, "comparando o ideário exposto nos documentos integralistas de Plínio Salgado (...), bem como em outras obras em que dá explicações sobre o movimento, com o ideário expresso por Menotti Del Picchia no livro em que expõe os objetivos da 'Bandeira', percebemos que as ideias básicas, são exatamente as mesmas" [1].

O maior legado de Plínio Salgado é, sem dúvida, o Integralismo, Movimento que um dia reuniu uma verdadeira legião de intelectuais do mais fino quilate, constituindo aquilo a que o poeta e ensaísta Gerardo Mello Mourão denominou o “mais fascinante grupo da inteligência do País” [2]. Dentre tais intelectuais, um dos mais brilhantes foi inegavelmente o cearense Gustavo Barroso, maior doutrinador do Integralismo depois do próprio Plínio Salgado.

Nascido em Fortaleza a 29 de dezembro de 1888 e falecido no Rio de Janeiro a 03 de dezembro de 1959, Gustavo Barroso nos legou vasta obra, compreendendo bem mais de cem volumes e abrangendo diversos ramos das letras e do saber, do Romance à História, do Conto à Museologia, da Poesia à Sociologia, do Jornalismo à doutrinação política patriótica e nacionalista, da Crônica ao estudo dos mitos e do Folclore pátrio, merecendo, aliás, de Câmara Cascudo, o título de “mestre incontestável do folclore brasileiro” [3]. Sua obra de estreia, Terra de Sol, de 1912, comparada por diversas vezes a Os Sertões, de Euclides da Cunha, não é por certo maior do que a obra que narra a epopeia de Antônio Conselheiro e da cidadela sagrada do Belo Monte, mas também de maneira alguma faz feio diante dela, podendo ser considerada uma das joias da coroa da Literatura pátria. Já o livro Brasil, colônia de banqueiros, vigoroso e rigoroso libelo em defesa do Brasil e contra os vorazes usurários apátridas que até hoje o oprimem, é a obra fundamental do nacionalismo econômico em nosso País. Como sublinha Plínio Salgado, tal obra “é a bandeira que todos deveriam desfraldar porque foi a primeira que se ergueu no Brasil, nestes últimos tempos, a despertar a consciência nacional para a luta pelos interesses econômicos da Nação contra as organizações internacionais que nos têm escravizado e pretendem permanentemente escravizar-nos” [4].

Infelizmente dispondo de espaço bastante limitado, analisaremos, aqui, apenas uma das diversas obras imorredouras de Gustavo Barroso, por nós escolhida por ser, em nosso sentir, a mais representativa do pensamento do escritor e pensador patrício: Espírito do século XX. Nesta obra, publicada em 1936 pela editora Civilização Brasileira, Barroso observa que o século XIX foi “um século cético, em que a desordem das filosofias varreu a fé de todos os corações”; um século que “perdeu o critério das verdades eternas e se deixou guiar pela fraude e pela corrupção generalizadas”; um século, enfim, de “análise e negação”. O século XX, ao contrário, seria o “século da síntese e da afirmação” [5].

Segundo Barroso, “acima dos fascismos pela sua espiritualidade cristã sem eiva de paganismo e de cesarismo”, bem como pela sua “concepção do Estado Revolucionário, dínamo eterno da sociedade, eternamente recompondo os equilíbrios sociais, o Integralismo encarna o espírito do século XX e será a ideia vitoriosa desse século contra o liberalismo do século XVIII e o comunismo do século XIX” [6].

Inspirado nos ensinamentos de Plínio Salgado, Gustavo Barroso defende, em Espírito do século XX, a verdadeira Revolução, ou “Revolução Integralista”, definida como “mudança de atitude do espírito em face dos problemas que se lhe apresentam, em qualquer ordem moral ou material”. Também denominada “Revolução Espiritual” e “Revolução Interior”, a “Revolução Integralista” se realiza em “nosso íntimo e somente após essa realização vai modificar o determinismo ambiente, interferindo na sucessão de causas e efeitos, a fim de criar novas causas que deem como resultado novos efeitos”, sendo, por isso, invencível. É uma Revolução que “muda todos os conceitos e dá um novo sentido de vida”, se processando “com ideias e homens cheios dessas ideias, não correndo o perigo de ver à sua frente, no dia da vitória, um deserto de homens e de ideias” [7].



[1] GUELFI, Maria Lúcia Fernandes. Novíssima: contribuição para o estudo do modernismo. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros - USP, 1987, p. 186.

[2] MOURÃO, Gerardo Mello. Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001. Acesso em 23 de julho de 2011.

[3] CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 7ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), 1988, p. 372.

[4] SALGADO, Plínio. Gustavo Barroso. In Idem. Discursos parlamentares. Sel. e intr. de Gumercindo Rocha Dorea. Brasília: Câmara dos Deputados, 1982, p. 725.

[5] BARROSO, Gustavo. Espírito do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S/A, 1936, p. 7.

[6] Idem, p. 10.

[7] Idem, pp. 30-33.

*Artigo publicado na edição da Gazeta de Jarinu de 29 de julho de 2011.



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