Wednesday, October 26, 2011

Na Líbia, o triunfo da covardia - Eduardo Ferraz

Na Líbia, o triunfo da covardia


Pode-se chamar de vitória da democracia, de liberdade, de legal, o assassinato de pelo menos 70 mil pessoas, a quebra da soberania de um Estado, a destruição completa de suas cidades e de sua infra-estrutura, a usurpação de seus recursos, sua subserviência econômica e política aos invasores, bem como a condenação à morte, sem direito a julgamento do líder de um país? Essa é a liberdade que a OTAN oferece ao povo líbio?

São oportunas as considerações que farei abaixo, dirigidas principalmente àqueles que continuam cegos e iludidos com as mentiras difundidas pela imprensa global, considerações dirigidas àqueles que continuam apoiando o covil de traidores antipatriotas que formam o governo da “nova” Líbia.

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No mês de fevereiro, pouco após a fulminante queda dos governos da Tunísia e do Egito, no Norte da África, uma tímida e aparente insurreição popular começou a tomar corpo em território líbio. O levante “rebelde” deu-se inicialmente em cidades próximas das fronteiras da Tunísia e do Egito, nações que até o momento encontravam-se em completo caos e que juntas cumprem geograficamente o papel de pinça em relação à Líbia. Pequenos erros à parte, denunciei na ocasião que a insurreição nada tinha de popular e que era sustentada, na verdade, por potências estrangeiras, fato que foi confirmado dia após dia.

Com o correr das semanas e o completo desastre do avanço “rebelde” nos extremos do país, houve, em paralelo, uma escalada do apoio aos rebeldes pela imprensa e por parte de um seleto grupo de países, que, não ocasionalmente, são membros signatários da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Nas extremidades opostas, onde a luta seguia, agora o interino governo Islâmico (não declarado) do Egito supria os rebeldes da Líbia com material militar e o mesmo faziam as potências ocidentais, sobretudo os estadunidenses, a partir da Tunísia.

No entanto, apesar dos diabólicos esforços, nenhum sinal de levante da população Líbia mostrava-se aparente. Gaddafi denunciava estar lutando não contra rebeldes, mas, contra a Al Qaeda no leste (fronteira com o Egito) e contra mercenários estrangeiros no oeste (fronteira com a Tunísia). Não obstante, o exército regular da Líbia conseguiu empurrar os invasores de volta para as fronteiras, até que foi surpreendido em março pela Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU que, na prática, autorizava (como se fosse preciso) a OTAN a impor um bloqueio ao espaço aéreo da Líbia e a oferecer suporte militar aéreo às tropas rebeldes.

A partir deste momento, um revés no cenário militar providenciado pelos mais de duzentos aviões da OTAN mobilizados para atuar no conflito, responsáveis por executar mais de vinte mil missões na chamada “Operation Unified Protector”, pôs em xeque a capacidade de defesa da Líbia: unidades inteiras do exército regular dizimadas, cidades completamente arrasadas e a destruição completa da capacidade de defesa obrigaram o governo a se isolar em Trípoli.

Nesse contexto, mesmo após meses de bombardeios e sem qualquer possibilidade de avanço do mal treinado exército rebelde, composto basicamente por caminhonetes, sobre uma cidade de mais de um milhão de habitantes, como Trípoli, a OTAN forjou no dia 21 de agosto a suposta conquista da Praça Verde (veja abaixo), no centro da capital. As imagens veiculadas incessantemente pela imprensa foram o pretexto final para o grande bombardeio durante a madrugada do dia 22 de agosto, que deixou nas primeiras horas cerca de 1.600 mortos, destruiu completamente a infra-estrutura de Trípoli e obrigou a retirada das tropas do governo para Sirte, onde este resistiu por quase três meses, até que na última quinta-feira (20), aviões da OTAN atacaram o comboio em que Gaddafi estava presente. A história, de lá para cá, todos conhecem...

http://www.youtube.com/watch?v=yN1XYDNyZYY

No domingo (23) realizou-se em Bengasi uma festiva cerimônia onde foi oficialmente declarada a libertação da Líbia pelos rebeldes opositores ao governo de Gaddafi. Ontem (24), outra solenidade anunciava publicamente que a “nova” Líbia seria regida pela sharia, código de leis do islamismo. O anúncio foi feito pelo Presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdul Jalil. Ou seja, leis que proíbem a poligamia, por exemplo, estão revogadas na “nova” Líbia do CNT; as mulheres, assim como uma série de minorias não islâmicas, como os cristãos árabes, terão sua cidadania limitada na “democrática” Líbia forjada nesta segunda onda de colonização do mundo árabe.

Este último personagem, aliás, é a prova personificada da incoerência que os abutres tentam impor ao mundo. O Sr. Mustafá Abdul Jalil era, até o início da invasão da Líbia, nada menos que o Ministro da Justiça, de uma justiça que, segundo os países da OTAN, jamais existiu na Líbia. Fica evidente então que o papel deste senhor na situação é a de negociante, que ele vendeu a soberania da Líbia aos agentes internacionais.

Dadas as breves e esmiuçadas explicações, faz-se importante alertar aos desavisados que um movimento cívico-político-social, como é o Integralismo, por exemplo, triunfa sozinho na libertação de seu povo e não necessita de uma coalizão internacional composta por 42 países saqueadores; surge espontaneamente e não dos planos de invasão da OTAN ou do Pentágono.

Cumpre dizer que um verdadeiro movimento cívico-político-social ocorre neste momento em Trípoli: é o levante da resistência líbia após a morte de Gaddafi, razão pela qual o governo que “libertou” a Líbia ainda permanece acuado em Bengasi e não na capital do país. Quem controla Trípoli? Veja você mesmo...

http://www.youtube.com/watch?v=7pUxFAGFvEs

Para finalizar, longe de compartilhar da identificação com o “socialismo” de que partilhava Gaddafi, embora algumas de suas idéias fossem razoáveis, é importante ressaltar a necessidade da busca pela verdade. Só um mau-caráter pode conhecer os fatos e insistir que a invasão da Líbia é um movimento legítimo pela libertação de seu povo.

Sunday, October 23, 2011

Algumas reflexões na morte de Gaddafi


Muammar al-Gaddafi
Todos viram as imagens tomadas pouco antes da morte do Coronel Muammar al-Gaddafi, ou Kadafi, como é mais conhecido no Brasil. Elas revelam claramente que o estadista líbio foi achincalhado e torturado fisicamente e, em seguida, assassinado pelos “rebeldes”, criminosos que não contam com apoio popular, muito pelo contrário, e que só alcançaram o triunfo na guerra - e a duras penas - por conta dos pesados ataques da OTAN às forças de Gaddafi.

O bárbaro crime de que foi vítima o Coronel Gaddafi deveria ser investigado, com o julgamento e condenação dos responsáveis, e o mesmo deveria ocorrer com relação a todos os incontáveis crimes perpetrados pelos “revolucionários” líbios, que, diga-se de passagem, de revolucionários nada têm, não passando de sicários a serviço das forças do capitalismo e do imperialismo internacional, do mamonismo apátrida, amoral e anti-humano que escraviza as nações. É, claro, porém, que tais crimes ficarão impunes, assim como os crimes, ainda mais graves, das forças da OTAN, cujos bombardeios devastaram cidades inteiras e causaram a morte de milhares de civis inocentes.

Deploramos todos estes crimes e sabemos que, lamentavelmente, a Líbia dos “rebeldes” não será em nada melhor do que a de Gaddafi, muito pelo contrário, salvo para os grandes grupos econômico-financeiros internacionais, para o capitalismo selvagem, absorvente e explorador que fará daquele país mais uma de suas colônias. Os criminosos “rebeldes”, heroicizados pela grande imprensa liberal-burguesa a serviço dos espúrios interesses do Sinédrio que controla o Império de Mamon ou do Bezerro de Ouro, devorador da Religião, da Propriedade e da Família e escravizador de homens e de nações, os criminosos “rebeldes” que tantos bárbaros assassínios têm perpetrado sob a complacência desta mesma grande imprensa e dos (des)governos servos do imperialismo econômico e do mamonismo absorvente das energias vitais das nações, esses “rebeldes” logo principiarão a lutar entre si, disputando o poder. E a Líbia, com eles, mesmo que não ocorram tais lutas, estará mais distante da verdadeira e autêntica Democracia do que esteve no tempo do governo de Gaddafi, salvo na opinião daqueles que não compreendam como Democracia verdadeira e autêntica a Democracia Orgânica Integral, mas sim a democracia inautêntica e inorgânica do liberalismo, a partidocracia vassala do corrosivo sistema a que denominamos capitalismo.

Não comungamos de todas as ideias do falecido autor do Livro verde, mas concordamos, por exemplo, com muitas de suas críticas à liberal-democracia, aos partidos políticos, ao capitalismo, ao imperialismo. Do mesmo modo, não aceitamos todas as medidas que Gaddafi tomou no governo de seu país, mas aprovamos muitas delas, como a nacionalização do petróleo e dos bancos, não podendo deixar de reconhecer que o Coronel Gaddafi foi o principal responsável pelo fato de a Líbia se haver transformado num verdadeiro oásis de prosperidade dentro do Continente Africano, com índices de desenvolvimento econômico e social invejáveis mesmo para os países da África Setentrional, da África Mediterrânea, muito mais desenvolvida do que a África Subsaariana.

Gaddafi não foi um tirano, sobretudo porque sempre governou pensando no Bem Comum do povo líbio, cujo desenvolvimento promoveu consideravelmente. E é digna de admiração a resistência líbia por ele comandada, que, lutando estoicamente, impôs vários reveses a um inimigo imensamente superior em armas e recursos, infligindo várias derrotas humilhantes aos “rebeldes” e se estendendo por meses a fio.

Causa-nos asco ver tantas pessoas que embora se proclamem nacionalistas, apoiaram – sob influência da grande imprensa e de certos jornalistas liberais – a agressão imperialista à Líbia e mesmo o assassínio do “tirano” Gaddafi. Esperamos de todo o coração que tais pessoas mudem de ideia e que percebam um dia o quanto o ideário da grande imprensa e desses jornalistas liberais e abertamente antinacionalistas e mesmo antipatrióticos se configura na antítese do ideário autenticamente nacionalista.

Encerremos este artigo. Que a Líbia, um dia, retorne ao caminho do seu desenvolvimento integral e ao caminho da verdadeira e autêntica Democracia, e que a história faça justiça a Gaddafi e sua obra.

Thursday, October 06, 2011

79 anos do Manifesto de Outubro

Partindo da concepção integral do Universo e do Homem e adotando como lema a tríade “Deus, Pátria e Família”, o Integralismo surgiu, oficialmente, como Doutrina e como Ação, a 07 de Outubro de 1932, data em que foi lançado, em São Paulo, o denominado Manifesto de Outubro, da lavra do ilustre escritor, jornalista, político e doutrinador tradicionalista, patriótico e nacionalista Plínio Salgado.
Documento inaugural, pois, do Integralismo, o Manifesto de Outubro se constitui na mais perfeita síntese desta sólida e sadia Doutrina essencialmente brasileira, assim como na igualmente perfeita síntese daquilo que de melhor foi edificado por nossos pensadores, escritores e estadistas. Reflete ele, magistralmente, a Tradição Integral da Nação, trazendo soluções nacionais para os problemas nacionais, e isto em um País em que já desde o Império as elites nada mais faziam do que transplantar ideias e soluções estrangeiras, muitas vezes utópicas mesmo nos países em que haviam sido propostas, e totalmente alheias à nossa Tradição, aos nossos costumes, à nossa Identidade Nacional. Isto porque Plínio Salgado tinha plena consciência de que, consoante preleciona Eduardo Prado, as sociedades devem ser regidas por leis emanadas de sua estirpe, de sua História, de seu caráter, de seu desenvolvimento orgânico [1].
Plínio Salgado tinha igualmente plena consciência de que, como observa Oliveira Vianna, no prefácio à primeira edição de sua obra O idealismo da Constituição, de 1927, “se, ontem como agora, o problema da democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira inglesa, à maneira francesa, à maneira americana; mas, nunca, à maneira brasileira” [2]. Daí o então futuro autor de Psicologia da Revolução e da Vida de Jesus propor, naquele documento histórico, um modelo orgânico e autenticamente brasileiro de Democracia, que, consoante assinala Gustavo Barroso, se inspira profundamente nas lições políticas de Santo Tomás de Aquino [3].
Isto posto, passemos a enumerar as principais ideias sustentadas pelo Manifesto de Outubro e, por conseguinte, pela Doutrina Integralista. São elas: Afirmação da existência de Deus e da Alma Imortal; Concepção Integral do Universo e da Pessoa Humana; Patriotismo; Nacionalismo Integral, alicerçado na Tradição e tendente ao Universalismo; Defesa da Família, cellula mater da Sociedade, e do Município, cellula mater da Nação; Culto da Tradição Nacional; Combate sem tréguas ao comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; Guerra sem quartel ao cosmopolitismo; Sustentação da Harmonia e da Justiça Social; Restauração dos princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; Luta contra o racismo e pela valorização do nosso povo e das nossas tradições, bem como dos pensadores e escritores nacionais; Pugna pela edificação de uma Democracia Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação, do Ente Humano e do Bem Comum.
Como é bem sabido, a mensagem estuante de Cristianismo e de Brasilidade do Manifesto de Outubro se espalhou velozmente por toda a Nação Brasileira, atraindo centenas de milhares de brasileiros de todos os credos, etnias, segmentos sociais e províncias deste vasto Império para as fileiras da Ação Integralista Brasileira. E o Integralismo, movimento cívico-político-cultural e social de renovação nacional, reunindo o que havia de mais significativo na intelectualidade brasileira dos anos 30, se configurou numa admirável escola de Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo, bem como num pujante foco de irradiação, inexpugnável cidadela e vigilante atalaia do Brasil Profundo.
Encerremos este artigo. O Manifesto de Outubro, síntese por excelência da Doutrina essencialmente cristã e brasileira do Integralismo, se configura num alto e eloquente brado em prol de um Brasil Grande e Renovado, Restituído a sua nobre missão histórica de dilatar a Fé e o Império. Tal documento, em que sentimos o palpitar do coração do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro, se configura na sementeira do Brasil Novo e Maior pelo qual pugnamos todos os autênticos idealistas orgânicos.


Victor Emanuel Vilela Barbuy, Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira. São Paulo, 07 de Outubro de 2011-LXXIX.



Notas:

[1] PRADO, Eduardo. A ilusão americana. 2ª ed. Prefácio de Augusto Frederico Schmidt. Rio de Janeiro: Livraria Civilização Brasileira S.A., 1933, p. 60.
[2] VIANNA, Oliveira. O idealismo da Constituição. 1ª ed. Rio de Janeiro: Edição de Terra de Sol, 1927, p. 13.
[3] BARROSO, Gustavo. Comunismo, Cristianismo e Corporativismo. Rio de Janeiro: Empresa Editora ABC Ltda., 1938, p. 98.