Monday, May 08, 2017

Como nasceram as cidades do Brasil*


Em 1939, Plínio Salgado, já então um notável e consagrado escritor, jornalista, pensador, orador e doutrinador político, bem como criador e líder do maior movimento cívico-político-cultural tradicionalista e nacionalista de toda a América Lusíada e de toda a América Hispânica,[1] foi exilado para Portugal, por razões políticas, pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Diversamente dos chamados exilados políticos das décadas de 1960 e 1970, todos eles autoexilados, Plínio Salgado teve de deixar o Brasil por ordem de Vargas, que lhe permitiu, porém, escolher para qual país seguiria. E então, como escreveu o escritor e pensador tradicionalista português Fernando de Aguiar, Plínio Salgado, esse “cavalheiro de nobres ideais e de igual nobreza de sentimentos, forçado ao exílio, procurou Portugal”, escolhendo a Pátria de seus Maiores por saber que nela estaria “em família” e melhor amparado “contra as violências dos homens, nos seus desmandos, a afogarem em onda de sangue e de desvario o mundo, este amarroado e à míngua do bom senso comum”.[2]
Ainda como observou o autor de Gente de casa (Fernando de Aguiar), Portugal, a “Terra de Santa Maria, título de nobreza à Pátria de D. Afonso Henriques em suas virtudes ancestrais”, impõe-se para o retiro de Plínio Salgado, “lugar apropositado para meditação e exaltação cristã”, e, posto que animando a caseira lição da História e da Tradição, “por sentimento e por sangue, também destino legítimo para repouso das canseiras do dia a dia e aperfeiçoamento da alma nas lides políticas”.[3]
Uma vez na pequena-grande Pátria de que nasceu a nossa Pátria, Plínio Salgado, que para ela seguiu em companhia da esposa, D. Carmela Patti Salgado, conheceu-a de norte a sul e nela estudou profundamente o pensamento tradicionalista português e espanhol, proferiu algumas de suas mais belas e importantes conferências, escreveu as suas mais pujantes obras religiosas e foi reconhecido por todos como uma espécie de embaixador cultural do Brasil e pela intelectualidade católica como um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos e um verdadeiro apóstolo brasileiro.[4]
Se, ao momento de sua chegada a Portugal, era o nome de Plínio Salgado ali conhecido e admirado por alguns intelectuais de escol, a exemplo do historiador e escritor João Ameal e dos principais líderes do Integralismo Lusitano, “já então admiradores declarados de sua inteligência máscula, conduzida na luminosidade de Espírito cintilante e de esforçado engenho e servida na compreensão de sadia e arejada política”,[5] este, nos anos em que ali viveu, pelos prodígios de seu verbo falado e escrito, tornou-se célebre em toda a Nação Portuguesa. E, como aduziu Fernando de Aguiar, Plínio Salgado, “abençoado por Portugal como filho adoptivo”, foi
aquele brasileiro que, melhor compreendendo as nossas gentes, mais ilustrou o intercâmbio entre as duas Pátrias de língua portuguesa, quem mais rente, e pelo coração, soube segurar, prender e unir, em nossos dias, os nós sagrados que para sempre hão-de vincular, no futuro, o Brasil a Portugal e Portugal ao Brasil.[6]
Durante o discurso de agradecimento à homenagem a ele prestada por um grupo de ilustres portugueses[7] antes de seu retorno ao Brasil, em junho de 1946, Plínio Salgado afirmou que, ao partir do Rio de Janeiro, em 1939, vira a bandeira nacional brasileira a flutuar triunfalmente na Fortaleza de Santa Cruz e que sentira que a auriverde bandeira parecia dizer-lhe:
Vai, porque do outro lado do oceano encontrarás a Pátria da tua Pátria e ali, junto aos monumentos antigos e aos túmulos dos heróis da Raça, adquirirás novas forças de tradicionalidade com que volverás mais rico de seiva nacional, mais vibrante de brasilidade, mais ardente de amor pelo teu Brasil.[8]
Não é necessário dizer que de fato Plínio Salgado adquiriu, em terras portuguesas, novas forças da mais lídima tradicionalidade, com que volveu à Terra de Santa Cruz mais rico de seiva nacional, mais vibrante de Brasilidade e mais ardente de amor pelo Império natal.
Foi em Portugal que o renomado autor de O estrangeiro (Plínio Salgado) concluiu e deu ao Mundo a sua obra-prima, a Vida de Jesus, que o Padre Leonel Franca bem qualificou de “joia de uma literatura.”[9] E dissemos, como Tasso da Silveira, que Plínio Salgado deu ao Mundo a sua Vida de Jesus em razão de que, como salientou o ilustre poeta e ensaísta curitibano (Tasso da Silveira), a Vida de Jesus é uma “obra de significação universal, dado o esplendor com que o tema supremo foi nela realizado”, e é, ainda, uma obra que já alcançou diversas edições em diversos países e diversos idiomas e sobre a qual prestigiosas autoridades, como o mencionado Padre Leonel Franca e D. Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal-Patriarca de Lisboa, “disseram coisas definitivas e consagradoras”.[10]
Como ressaltamos algures,[11] por suas obras religiosas,  a exemplo da Vida de Jesus, “coroa luminosa de um grande e silencioso drama”, no dizer do Cardeal Cerejeira,[12] assim como de A aliança do sim e do não, de Primeiro, Cristo!, de O Rei dos reis, de A Tua Cruz, Senhor, de Mensagens ao Mundo Lusíada, de A imagem daquela noite e de São Judas Tadeu e São Simão Cananita, bem podemos considerar Plínio Salgado um dos maiores e mais profundos escritores cristãos de todos os tempos e uma das máximas glórias do pensamento e das letras cristãs do Mundo Lusíada.
Tratando da Vida de Jesus, afirmou Fernando de Aguiar ser esta obra “o livro mais fortemente lusíada deste atormentado século”,[13] e se é verdade que, como salientou o Padre Moreira das Neves, tal obra teve um êxito extraordinário, talvez só ultrapassado, em sua expansão mundial, pela História de Cristo, de Papini,[14] é igualmente verdade  que, como enfatizou José Sebastião da Silva Dias, tal obra, que realmente conseguiu ser a “joia de uma literatura”, teria por mercado o Mundo inteiro, caso houvesse sido escrito em qualquer das grandes línguas europeias.[15]
Consoante escreveu o sacerdote jesuíta, pensador e jornalista italiano Domenico Mondrone, na introdução à primeira edição italiana da Vida de Jesus, transcrita na revista romana La Civiltà Cattolica, não apenas as obras religiosas de Plínio Salgado, mas todos os livros deste “escritor robusto e fecundo” são testemunhos “do ideal cristão, ao qual está dirigida toda a sua vida de indivíduo e de cidadão e no qual se enquadra a sua visão do mundo”.[16] A propósito, como bem frisou o jus-filósofo tomista e pensador tradicionalista espanhol Francisco Elías de Tejada, desde a sua conversão intelectual à Fé Católica, em 1918, o que Plínio Salgado levantou foram duas solidíssimas colunas: Cristo e o Brasil.[17]
Neste mesmo sentido, ao analisar as obras Como nasceram as cidades do Brasil e A imagem daquela noite, João Ameal assim escreveu a respeito do autor da Vida de Jesus:
Plínio Salgado escreve, fala, apostoliza sob a luz perene da obediência a Cristo; os argumentos que emprega, são colhidos nas divinas palavras; as imagens que levanta, são sugeridas pelas divinas lições, os apelos que lança, são o eco dos divinos apelos e todo o seu programa é reimplantar na consciência dos contemporâneos a figura excelsa do Filho de Deus e incitá-los a que O tomem por modelo e saibam voltar ao integral cumprimento da Sua Lei.[18]

  É sobre a obra Como nasceram as cidades do Brasil que hoje falaremos. Escrita em Portugal e publicada em 1946, pela Editorial Ática, de Lisboa, tal obra se destinava, antes de tudo, a mostrar aos brasileiros e aos portugueses, que tão generosamente acolheram o seu autor, a fisionomia de sua terra natal, por meio de páginas que, como enfatizou Gumercindo Rocha Dorea, o tempo não foi ou será capaz de destruir e que demonstram como pode o amor edificar para a eternidade.[19]
A Editorial Ática pertencia ao poeta Luís de Montalvor (nome literário de Luís Filipe de Saldanha da Gama da Silva Ramos), que a fundara em 1933, e, profundo admirador do pensamento e da obra de Plínio Salgado, já editara a sua Vida de Jesus e A Tua Cruz, Senhor, e publicaria, naquele mesmo ano de 1946, a obra Madrugada do Espírito. Luís de Montalvor, que fundara, em Lisboa, em janeiro daquele ano de 1946, a Livraria Ática, e que faleceria no ano seguinte, com a esposa e o único filho, num desastre automobilístico, iniciara, em 1942, a publicação de diversas obras de Fernando Pessoa e seus heterônimos, sob o título de Obras Completas de Fernando Pessoa, e publicaria, ainda no ano de 1946, as Poesias de Mário de Sá-Carneiro. A propósito, tanto Fernando Pessoa quanto Mário de Sá-Carneiro tinham sido seus companheiros na revista Orpheu, que circulara em 1915 e tivera em Montalvor seu principal idealizador e o seu primeiro diretor, ao lado do poeta e escritor brasileiro Ronald de Carvalho, logo passando, porém, a ter um papel secundário na organização desta revista, marco inicial do Modernismo em Portugal, e sendo substituído em sua direção, juntamente com Ronald de Carvalho, por Pessoa e Sá-Carneiro, no segundo número da mencionada revista, cujo terceiro número, organizado em 1917, somente viria à luz em 1984. Por fim, vale lembrar que fora Montalvor quem proferira o elogio fúnebre de Fernando Pessoa por ocasião do sepultamento do corpo deste, em 2 de dezembro de 1935.
Obra estuante de Fé e de Brasilidade, iniciada, segundo o autor, num dia em que transbordava o seu “afeto pelo Brasil e os Brasileiros”, afeto este que o levou a contar, “na terra dos nossos Maiores”, a história das cidades brasileiras,[20] Como nasceram as cidades do Brasil traz a seguinte dedicatória:
À Nação Portuguesa, em homenagem aos antepassados comuns que construíram a minha Pátria, deram-lhe uma nobre língua e uma gloriosa tradição e animaram-na, por todo o sempre, com a alma religiosa que a integra na família lusíada das cinco partes do mundo e na comunhão universal do Cristianismo ofereço este livro como recordação de minha permanência na sua linda terra e no meio da sua hospitaleira e carinhosa gente.[21]
Em artigo a respeito de Como nasceram as cidades do Brasil, publicado no jornal Idade Nova, do Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 1946, Tasso da Silveira ponderou que a leitura de tal obra era urgentíssima entre nós, sendo mister dizer aos brasileiros que todos eles deviam ler este livro o quanto antes.[22]
Isto porque, como aduziu o autor de Puro Canto e de Gil Vicente e outros estudos portugueses (Tasso da Silveira), estávamos então atravessando “uma crise de enorme inconfiança nos destinos do Brasil”. Assim, segundo Tasso da Silveira, o secreto desalento que, em seu sentir, lavrava em milhares de almas em nosso País, nos roubava “a energia indispensável à luta viva” daquela hora. Os brasileiros, no entender do poeta do Cântico ao Cristo do Corcovado (Tasso da Silveira), precisavam reviver os motivos que tinham para despertar o Brasil de seu sono e tais motivos são “eficacissimamente evocados no volume de história autêntica e de autêntica poesia” que é Como nasceram as cidades do Brasil.[23]
Conscientes de que o Brasil da hora presente atravessa uma crise de inconfiança em si mesmo e em seu porvir de proporções muito maiores que aquela que atravessava em meados da década de 1940, concordamos com Tasso da Silveira, quando este observa que, nas páginas de Como nasceram as cidades do Brasil, “oferece-nos Plínio Salgado o exato antídoto ao fundo envenenamento de que somos vítimas”. Tal antídoto vem a ser a História de como se formou o Brasil, a rememoração dos grandes feitos de que fomos capazes no passado, dos tremendos óbices que vencemos, da resistência que, no pretérito, soubemos opor às energias adversas, “e que demonstram, em nós, virtualidades de grande povo”.[24] Como sublinhou o autor de Tendências do pensamento contemporâneo e de 30 espíritos-fontes (Tasso da Silveira):
Quem sabe como o Brasil se formou não desanima do Brasil. Digam-no os nossos genuínos historiadores. Digam-no os evocadores da epopeia bandeirante, da luta com os holandeses, da conquista do Brasil às terríveis endemias. Estes, os que sabem como o Brasil se formou, não se mostram pessimistas. São, pelo contrário, os eternos animadores. Entre eles, Plínio Salgado, cuja obra é, toda ela, um só arroubo de fé e confiança no Brasil.[25]
No ano de 1977, ao prefaciar a quinta edição de Como nasceram as cidades do Brasil, Euro Brandão ponderou que, naquele momento, em que se reforçava a difusão da nossa Cultura e se proclamava a necessidade de permanência da Índole Nacional, ou, noutros termos, da nossa Tradição, era muito necessário o revigoramento de “nosso sentimento de brasilidade ao ler e degustar e apreciar e meditar nas páginas de um escritor privilegiado” como Plínio Salgado, numa obra em que se desdobra “o vigoroso sentimento nacional”.[26] Muito mais necessário, porém, tornou-se hoje, para os brasileiros, o robustecimento desse sentimento de Brasilidade, pela leitura e meditação das páginas transbordantes de poesia e sentimento nacional desta preciosa obra.
Isto posto, cumpre salientar que o “vigoroso sentimento nacional” de que nos falou Euro Brandão corresponde ao “justo nacionalismo”, que, no dizer do Papa Pio XI, “a reta ordem da caridade cristã não somente não desaprova, mas com regras próprias santifica e vivifica”,[27] nada tendo que ver com o condenável nacionalismo agressivo e xenófobo, como ressaltou o próprio Euro Brandão.[28] Como aduziu o autor de O século da máquina e a permanência do Homem  (Euro Brandão), este “vigoroso sentimento nacional” é
um conhecer-se do Brasil a si mesmo. É um fortalecer-se na maneira de ser nacional , no cultivo da feição própria de uma Nação com caráter peculiar, feição essa que, se a diferencia, lhe dá também a possibilidade de contribuir com aspectos originais no universal intercâmbio de ideais, soluções e atitudes. Cultivar sua história, seus vultos seus feitos, fortalecendo a consciência de sua peculiaridade como Nação, e, assim, atuar beneficamente no âmbito internacional, é, como conceito, tão importante como a pessoa que cultiva as virtudes de sua personalidade e as reforça, não para sua própria exaltação, mas para ser mais útil no exercício do bem comum.[29]

Como bem sublinhou Euro Brandão, nas páginas de Como nasceram as cidades do Brasil, “em pinceladas de verdadeiro artista”, se desdobram não apenas as histórias da fundação de cidades, do século XVI ao século XX, “mas um vitral de flagrantes motivadores, que, na ênfase e reforço dos contornos, faz rutilar a beleza das epopeias”.[30]
Assim, esta obra, que, no dizer de Brandão, é um “livro de Patriotismo e de Fé”,[31] que nos “ensina a amar o Brasil”[32] e “nos reacende o amor à cousas que realmente ‘valem a pena quando a alma não é pequena’”,[33] aborda, em páginas que muitas vezes fundem História, Tradição e Poesia, temas como a Epopeia das Bandeiras, a obra missionária e educativa dos jesuítas e o papel que tiveram e têm, em nossa História e em nossa Tradição, vultos como aqueles de João Ramalho, Tibiriçá, Anchieta, Caramuru, Raposo Tavares, Anhanguera e Aleijadinho.
Diferentemente de tantos pseudo-historiadores, que só sabem amesquinhar as nossas origens e denegrir a imagem da Nação Portuguesa, de que proviemos, Plínio Salgado, em Como nasceram as cidades do Brasil, faz justiça a Portugal e à sua obra civilizadora e enaltece o gênio imperial lusíada, graças ao qual o Brasil tem mantido, ao longo dos séculos, a sua unidade, e salienta que o maior patrimônio que Portugal legou ao Brasil foi a verdadeira Religião de Cristo.
Isto posto, reputamos ser oportuno frisar que, como fez ver o autor de Como nasceram as cidades do Brasil, este vasto Império que é a nossa Terra de Santa Cruz possui grandes e profundas diferenças regionais, assim como membros e descendentes de diversos povos de todo o Orbe Terrestre, mas todas essas diferenciações se submetem “à ação poderosa de um formidável redutor, a trabalhar continuamente, como estatuário inspirado, na construção maravilhosa da Unidade Nacional”. Tal redutor, nas palavras de Plínio Salgado,
É o gênio lusíada. É o espírito dos fundadores de um grande Império, cujo segredo se encontra nas raízes romanas e cristãs de que provém.
Tão grande tradição, pelos Brasileiros herdada dos Portugueses, constitui a força aglutinadora por excelência, reagindo contra a diversidade do meio físico, a complexidade dos aspectos étnicos e a extensão do espaço geográfico, e sustentando de pé, isento de futuras decomposições, o caráter definido de um dos maiores povos do Mundo.[34]
Havendo citado as linhas em que Plínio Salgado tratou do gênio lusíada, ressaltando o fato de ser ele o pilar sobre o qual se assenta a unidade nacional brasílica, citaremos, a seguir, as linhas finais de Como nasceram as cidades do Brasil, em que o autor proclama que a Fé de Cristo foi o maior patrimônio que o Brasil recebeu de Portugal e que sustentar o Nome e os Ensinamentos de Cristo e viver segundo o Seu Espírito é sustentar a Tradição Luso-Brasileira, o pundonor nacional e as próprias prerrogativas de independência da Nação:
A partir de 1900 o Brasil cresceu vertiginosamente. Os municípios, inicialmente criados com um centro urbano a governar extensões territoriais por vezes maiores do que a Bélgica ou a Suíça, partem-se, repartem-se, tripartem-se, pela transformação rápida das aldeias em cidades; os pioneiros avançam, novos nomes surgem no mapa.
No primeiro período, a cidade começa com a fortaleza e a igreja; no segundo, o da mineração, com as barracas, a roça, a ermida; no terceiro, o do desenvolvimento agrícola e comercial, com o rancho de tropeiros, a venda e a capela; mas, ao desdobrar-se este último ciclo, ao ritmo acelerado do progresso, a cidade começa com a bomba de gasolina, a agência bancária, o campo de futebol, o cinema e a igreja. Logo depois, apita a locomotiva na estação, traça-se o jardim da praça municipal, alindam-se os bangalôs residenciais.
Reparai, porém, numa constante: sob a forma de ermida, capela, ou igreja, de taipa, de pedra, de cimento armado, barrocas, românticas, góticas, modernas, a presença em toda carta geográfica da religião de Cristo.
Foi o maior patrimônio que o Brasil recebeu de Portugal.
*
No espaço de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, as cidades brasileiras, por mais diversas que pareçam nos seus aspectos regionais, guardam no íntimo uma só fisionomia, falando, cantando e rezando na mesma língua, “última flor do Latio”, primeira flor da lusitanidade, da latinidade, na América.
Mas nem a identidade dos costumes, nem a uniformidade do teor de vida, nem o condomínio da terra nos dariam a nós, Brasileiros, uma consciência de origem e um sentido de destino histórico nacional e humano, como nos dá esta Fé em Cristo, que constitui o supremo instrumento de expressão da nossa alma de Povo.
Em cada cidade do Brasil canta o sino de uma igreja; em cada igreja está presente Aquele que penetrou a floresta na palavra dos missionários das brenhas selváticas; e, estando em cada igreja, está em cada um dos lares da Pátria, assim como no íntimo de todos os corações.
Sustentar o Seu Nome, e o Seu Ensino, e viver segundo o Seu Espírito, é sustentar a tradição lusíada e nacional brasileira, a honra da Nação e as suas próprias prerrogativas de soberania.[35]
Faz-se mister evocar o fato de que Plínio Salgado, que sempre condenou e combateu todas as formas de racismo, louvou, em Como nasceram as cidades do Brasil, a “nobre confraternidade cristã dos lusitanos com os povos do vasto império” que edificaram e o “matrimônio das raças”, ocorrido no Brasil sob esse espírito de confraternidade cristã,[36] observando que Iracema, lenda da fundação do Ceará, criada por José de Alencar, vem a ser uma “delicadíssima página” dessa nobre confraternidade, essencialmente cristã e lusíada.[37]
Como escreveu Plínio Salgado, Iracema, magno poema em prosa, “obra-prima de José de Alencar, escrita em linguagem ritmada e exuberante de imagens, exprime o simbolismo da formação étnica e social brasileira”. Por meio do cruzamento, a estirpe autóctone despareceu, permanecendo, porém, vivas as suas denominações geográficas e as palavras designativas das árvores, das aves, dos frutos e das flores. Em verdade, porém, em última análise, Iracema não morreu, pois “continua a viver no sangue do filho, condicionada à cultura, à fé religiosa, ao espírito lusitano”, como sua estirpe continua a viver no sangue do povo brasileiro, igualmente condicionada à cultura, à fé religiosa e ao espírito lusitano. É por isso, talvez, que Iracema é um anagrama de América.[38]
Iracema é, enfim, segundo Plínio Salgado, o próprio Novo Mundo, a “terra virgem que o Europeu devia desbravar”, enquanto seu filho, Moacir, “é o fruto de dois mundos que se amaram e agora vivem juntos no mesmo ser”, é o “símbolo da Pátria futura”, é “a profecia do grande Brasil”.[39]
Ao tratar dos bandeirantes da Vila de São Paulo do Campo de Piratininga, em páginas que fundem admiravelmente História, Tradição e Poesia, Plínio Salgado os comparou a águias, afirmando ser a humilde porém altiva e heroica Vila de São Paulo dos primeiros séculos da nossa História um “ninho de águias que devassaram todo o sertão, acometeram o mistério das florestas, dilataram o território da Pátria, fixaram os limites da Grande Nação Brasileira”.[40]
Como fez salientar Plínio Salgado, as bandeiras partidas da Vila de São Paulo do Campo de Piratininga fundaram diversas vilas e povoações que depois se tornaram cidades pelos sertões desta Terra de Santa Cruz/Brasil e também povoaram vilas já existentes,[41] tendo sido, pois, autênticos “plantadores de cidades”.[42]
Ainda como fez ressaltar o autor de A voz do Oeste (Plínio Salgado), as Bandeiras estabeleceram diversas estradas ligando o Brasil de Sul a Norte, exploraram os cursos dos nossos rios, transpuseram todas as serras, romperam com o Tratado de Tordesilhas, de acordo com o qual o Brasil não passaria de uma nesga de Terra à beira do Atlântico. Dilataram, enfim, “os horizontes da Pátria”, não se limitando à descoberta e exploração de ouro e pedras preciosas e tendo continuado “em terra a prodigiosa aventura dos navegantes de Sagres” e lançado “os alicerces da unidade nacional e da grandeza do Brasil”.[43]
Isto posto, cumpre sublinhar que Plínio Salgado, que era um profundo conhecedor da História Paulista e Brasileira, já no dealbar da década de 1920, nas páginas do prestigioso jornal Correio Paulistano, de que era redator, comparava a epopeia luso-brasileira das Bandeiras à anterior epopeia dos navegantes de Portugal, referindo-se aos bandeirantes como “argonautas divinos da nossa grande Epopeia”,[44] numa alusão aos heroicos nautas e guerreiros da Mitologia Helênica. E é mister assinalar, ainda, que, em 1934, publicou Plínio Salgado o há pouco mencionado romance A voz do Oeste, magnífico poema em prosa sobre a epopeia bandeirante, que inspirou Juscelino Kubitschek a edificar Brasília[45] e que, enquanto romance sobre a epopeia das Bandeiras Paulistas, só pode ser comparado à obra A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, e, enquanto poema sobre a mesma epopeia, pode ser apenas comparado a O caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, a Os bandeirantes, de Baptista Cepelos, a Armorial, de Paulo Bomfim, e aos versos dedicados ao tema por Gerardo Mello Mourão, em Invenção do mar.
Não podemos encerrar a presente conferência sobre a obra Como nasceram as cidades do Brasil sem antes destacar o fato de que Plínio Salgado foi um ardoroso defensor do Municipalismo desde a mocidade, quando fundou, com Gama Rodrigues, o Partido Municipalista, sendo o Municipalismo, em verdade, pedra angular da sólida e profunda Doutrina política de Plínio Salgado,[46] Doutrina esta que, conforme observou Heraldo Barbuy, é necessária por firmar os autênticos conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado,[47] e que se constitui, antes de tudo, como aduziu Francisco Elías de Tejada, numa “teoria da Tradição brasileira com traços de granítico castelo, destinado a suscitar adesões para quem queira em tempos vindouros conhecer a substância do Brasil”.[48]
Fechamos esta singela conferência assinalando que Plínio Salgado, este “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”, na expressão de Francisco Elías de Tejada,[49] e “Bandeirante da Fé e do Império”, como escrevemos alhures,[50] deu e dá à Cultura Brasileira, na grande obra que é Como nasceram as cidades do Brasil, um admirável “roteiro”, por meio do qual muitos poderão descobrir a História e a Tradição da nossa Terra de Santa Cruz.

Por Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 25 de abril de 2017-LXXXIV.


* Versão revista e ampliada da comunicação apresentada a 25 de abril de 2017 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), durante a XI Semana de Filologia na USP.



[1] Tal movimento foi e é o Integralismo, que se constituiu no primeiro “movimento de massas” da História do Brasil e formou o primeiro partido verdadeiramente nacional desde o ocaso do Império, bem como, na expressão de Gerardo Mello Mourão, o “mais fascinante grupo da inteligência do País” (Entrevista concedida ao Diário do Nordeste, de Fortaleza, em 24 de outubro de 1996. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001. Acesso em 25 de abril de 2017).
[2] Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, Lisboa, Sigma, 1948, p. 89.
[3] Idem, loc. cit.
[4] Sobre as atividades realizadas por Plínio Salgado durante o exílio em Portugal, bem como sobre o reconhecimento que ali recebeu dos mais altos vultos do pensamento católico lusitano: Augusta Garcia R. DOREA, Plínio Salgado, um apóstolo brasileiro em terras de Portugal e Espanha, São Paulo, Edições GRD, 1999.
[5] Fernando de AGUIAR, Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, cit., loc. cit.
[6] Idem, pp. 111-112.
[7] Dentre tais ilustres portugueses podemos destacar as figuras de Hipólito Raposo, de Pequito Rebelo, do Conde de Monsaraz, do Visconde de Santarém, de Domingos Megre e de Leão Ramos Ascensão, todos destacados vultos do Integralismo Lusitano, movimento que reuniu, no dizer de Plínio Salgado, “a plêiade mais brilhante dos pensadores políticos lusíadas dos últimos tempos” (O agradecimento, in Uma reportagem histórica, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 196. Texto originalmente publicado no jornal A Voz, de Lisboa, a 23 de junho de 1946).
[8] O agradecimento, in Uma reportagem histórica, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 197-198.
[9] Carta a Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Vida de Jesus, 22ª edição, São Paulo, Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI.
[10]  Um livro de Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, Prefácio de Euro Brandão, São Paulo/Brasília, Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1978, p. 192. Texto originalmente publicado no jornal Idade Nova, do Rio de Janeiro, no dia 27 de outubro de 1946.
[11] Plínio Salgado. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=398#.WQx_xNIrLIU. Acesso em 25 de abril de 2017.
[12] A Igreja e o pensamento contemporâneo, 4ª edição (com algumas notas inéditas), Coimbra, Coimbra Editora, 1944, p. 385.
[13] Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, cit., p. 122.
[14] Lembranças de um amigo em Lisboa, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam", vol. II, cit., p. 101.
[15] Vida de Jesus, de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 146-147.
[16] Plínio Salgado: o homem, a atividade, a obra-prima, in in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II. São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 159.
[17] Plínio Salgado na Tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 52.
[18] Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam", vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 129.
[19] [Orelha do livro], in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit.
[20] Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 9.
[21] Idem, página não numerada.
[22] Um livro de Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 193.
[23] Idem, loc. cit.
[24] Idem, loc. cit.
[25] Idem, pp. 193-194.
[26] Prefácio, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. XI).
[27] Encíclica Caritate Christi Compulsi. Disponível (em latim) em: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/la/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19320503_caritate-christi-compulsi.html. Acesso em 25 de abril de 2017. A expressão “Nationem pietatis” foi traduzida como  “nacionalismo” em diferentes versões da Encíclica, como a italiana que consta do portal oficial do Vaticano (Disponível em: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/it/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19320503_caritate-christi-compulsi.html. Acesso em 25 de abril de 2017).
[28] Prefácio, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., loc. cit.
[29] Idem, loc. cit.
[30] Idem, pp. XI-XII.
[31] Idem, p. XIII.
[32] Idem, p. XII.
[33] Idem, p. XIV.
[34] Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 20.
[35] Idem, pp. 163-165.
[36] Idem, p. 55.
[37] Idem, loc. cit.
[38] Idem, p. 56.
[39] Idem, loc. cit.
[40] Idem, pp. 96-97.
[41] Idem, p. 99.
[42] Idem, p. 101.
[43] Idem, loc. cit.
[44] O novo bandeirismo, in Correio Paulistano, anno , nº 21493, São Paulo, 11 de maio de 1923, p. 3.
[45] Cf. Juscelino KUBITSCHEK, Carta a Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 223.
[46] Plínio SALGADO, Carta a Sylvio Jaguaribe Ekman, in Pedro PAULO FILHO, Campos do Jordão, o presente passado a limpo. São José dos Campos, Vertente, 1997, p. 70.
[47] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[48] Plínio Salgado na Tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 53.
[49] Idem, p. 70.
[50] Plínio Salgado, Bandeirante da Fé e do Império. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=71#.WQ-45sZv_IU. Acesso em 25 de abril de 2017.

Sunday, January 22, 2017

Plínio Salgado*

Há cento e vinte e dois anos, mais precisamente no dia 22 de janeiro de 1895, nasceu Plínio Salgado, na pequena, bucólica e tradicional cidade montanhesa de São Bento do Sapucaí, na Serra da Mantiqueira, na região paulista do Vale do Paraíba.
Magno e brilhante escritor, jornalista e orador e profundo, robusto e fecundo pensador e doutrinador político patriótico, nacionalista e tradicionalista, Plínio Salgado foi, ainda, o criador e principal líder do grande movimento de renovação moral e social a que denominamos Integralismo e o arauto e lidador de um Brasil Novo e Maior. O “mais eloquente intérprete da Brasilidade”, na expressão do ilustre pensador e escritor tradicionalista português Hipólito Raposo,[1] Plínio Salgado foi e é, como escreveu, no mesmo sentido, o insigne jusfilósofo tomista e pensador tradicionalista espanhol Francisco Elías de Tejada y Spínola, o “profeta incandescente e sublime de seu povo”, a “encarnação viva do Brasil melhor”,[2] e, por ter sido o primeiro pensador patrício a efetivamente compreender a Tradição Brasileira, o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”.[3]
Assim, embora criminosamente olvidado e injustiçado por muitos e desconhecido pela maior parte do nosso povo, esse valoroso soldado e condestável de Deus e da Pátria e bandeirante da Fé e do Império terá seu nome lembrado e evocado por todos aqueles que, sabendo separar o homem e a obra das falsas acusações de seus inimigos, reconheçam em seus escritos um inigualável repositório de Fé Cristã e de Brasilidade. Noutras palavras, não passará sobre a Terra o nome do autor da Vida de Jesus e de Primeiro, Cristo!, que, ao contrário, será mais lembrado com o correr dos anos, pois a sua doutrina tornar-se-á mais atual e necessária para o Brasil a cada dia e suas previsões ganharão autoridade à medida que mais delas se forem tornando realidade.
Plínio Salgado, esse nobre “cavaleiro do Brasil Integral”, no dizer do poeta, romancista, contista, jornalista, diplomata e ensaísta patrício Ribeiro Couto, veio ao Mundo, como há pouco dissemos, a 22 de janeiro de 1895, em São Bento do Sapucaí, pequena cidade em estilo colonial que, ainda nas palavras do autor de Cabocla e Largo da Matriz, “repousa entre verdes lavouras, num píncaro de serra, na Mantiqueira”.[4] Seus pais foram o Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político da região, e D. Ana Francisca Rennó Cortez, professora normalista formada em São Paulo, no último ano do Império.
Nas veias de Plínio Salgado comungavam, nas palavras de Francisco Elías de Tejada, “as variadas genealogias que forjaram a gente brasileira”.[5] Seu avô paterno, Manuel Esteves da Costa, era português, nascido em São Pedro do Sul, distrito de Viseu, e, tendo estudado humanidades em Coimbra, emigrou para o Império do Brasil por conta da perseguição que sofreu em sua Pátria em virtude de suas ideias tradicionalistas. Uma vez em nosso País, casou-se, em Pindamonhangaba, com D. Mariana Salgado Cerqueira César, que viria a ser a avó paterna de Plínio Salgado e pertencia a uma das mais antigas e tradicionais famílias da região do Vale do Paraíba, assim como descendia de bandeirantes como Bartolomeu Bueno, o primeiro “Anhanguera”, e Manuel Preto, o conquistador de Guairá, retratado por Plínio Salgado, aliás, em seu poema épico em prosa A voz do Oeste (1934), que, com efeito, inspirou Juscelino Kubitschek, amigo e grande admirador de Plínio Salgado, a edificar a cidade de Brasília.[6]
Os avós maternos de Plínio Salgado, por sua vez, foram o Professor Antônio Leite Cortez, natural de Taubaté e descendente de castelhanos e portugueses, e D. Matilde Sofia Rennó, também professora e filha do médico alemão Johann Rennow, que adotou, no Brasil, o nome de João Rennó de França, e de D. Ana Joaquina Ferreira, curitibana que descendia de alguns dos primeiros habitantes de São Paulo do Campo de Piratininga, dentre os quais podemos destacar a figura de Pero Dias, guardião das chaves daquela vila quando de sua fundação.
O Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado, pai, como há pouco observamos, de Plínio Salgado, era um homem profundamente patriota e nacionalista na acepção sadia, equilibrada e construtiva do termo e tinha o costume de reunir os filhos à noite para lhes narrar os feitos de Felipe Camarão, de Henrique Dias, do General Osório, do Duque de Caxias, dos almirantes Barroso e Tamandaré e de outros vultos da História Pátria, incutindo-lhes, assim, desde cedo, o amor ao Brasil e às suas tradições históricas.
Pouco depois dessas primeiras aulas de patriotismo, D. Ana Francisca, que já ensinara Plínio a rezar e também lhe incutira o temor a Deus e lhe narrara histórias bíblicas, começou a dar ao filho lições de História do Brasil, Geografia, Aritmética e Francês.
No ano de 1907, Plínio, que havia iniciado os estudos secundários no Externato São José, dirigido pelo Professor José Calazans Nogueira, seguiu para Pouso Alegre, em Minas Gerais, onde estudou humanidades no tradicional Ginásio Diocesano São José, em que também estudavam Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida e Teodoro Quartim Barbosa, com os quais o então futuro autor de O estrangeiro e de Espírito da burguesia firmou uma grande amizade, que se estenderia por toda a vida. Também estudaram no Colégio Diocesano São José, dentre outros, Dom Idílio José Soares, Bispo de Petrolina e, depois, de Santos, e Dom Antônio de Almeida Moraes Júnior, Bispo de Montes Claros e, mais tarde, Arcebispo de Olinda e Recife e, em seguida, de Niterói, e um dos maiores oradores sacros brasileiros, bem como um dos mais ilustres adeptos das doutrinas políticas de Plínio Salgado.
O falecimento do pai, no ano de 1911, forçou Plínio a abandonar os estudos e a retornar a São Bento do Sapucaí a fim de cuidar da mãe e dos irmãos menores.
D. Ana Francisca, que ainda lecionava em sua escola isolada para meninas, que funcionava nos fundos de sua residência, transformou outro cômodo da casa em sala de aula, abrindo uma escola para meninos e confiando-a a Plínio.
Pouco mais tarde, Plínio principiou a trabalhar como agrimensor e topógrafo judicial. Em seguida, obteve o cargo de inspetor escolar no Município e, em virtude de se haver habilitado para requerer em juízo e promover o andamento dos feitos, foi nomeado solicitador, exercendo a função de advogado quando não havia advogados.
Por essa época, Plínio Salgado colaborou no jornal A Cidade de São Bento, havendo sido, por algum tempo, segundo Genésio Cândido Pereira Filho, diretor de tal periódico, que tinha Couto de Magalhães entre seus colaboradores e encerraria suas atividades, por problemas financeiros, em 1914.
Em 1913, Plínio Salgado se mudou para São Paulo, onde planejava concluir o curso secundário, interrompido quando da morte de seu pai, e, em seguida, ingressar no curso de Direito da tradicional Academia do Largo de São Francisco. Por conta, porém, da situação de pobreza da família, agravada com o início da I Guerra Mundial, Plínio abandonou os estudos em 1914, antes de ingressar na aludida Faculdade, e deixou a Capital Paulista, retornando a São Bento.
Embora não tendo formação jurídica, Plínio Salgado, que, conforme salientou Ronaldo Poletti, “associava, como é notório, ao lado de sólidos conhecimentos em humanidades, uma intuição profunda reveladora de premonição atinente a fatos e a ideias futuras”, fez, em sua obra, inúmeras referências ao Direito, ciência da qual cuidou dos pontos de vista teórico e prático.[7] Por suas reflexões sobre temas como o Homem, o Estado e a ideia de Império, podemos dizer que Plínio Salgado, defensor do Direito Natural Tradicional, ou Clássico, e do Estado Ético de Direito e de Justiça a que denominou Estado Integral, embora não tendo sido um jurista, foi e é, sem dúvida alguma, um dos mais notáveis jusfilósofos do Brasil. Cumpre sublinhar que, como enfatizou Ronaldo Poletti, as ideias jurídicas de Plínio Salgado tiveram um desdobramento na obra e na ação de diversos juristas patrícios, “cujas formações se deram ou completaram a partir de um ponto comum”, que vem a ser o pensamento do egrégio autor de O ritmo da História (1949) e de Direitos e deveres do Homem (1948). Dentre tais juristas, destacou Poletti Miguel Reale, San Tiago Dantas, Alfredo Buzaid, Goffredo Telles Junior e Loureiro Junior,[8] aos quais poderíamos acrescentar, dentre outros vultos do Direito e das letras jurídicas, Rubem Nogueira, Arthur Machado Paupério, Ignacio da Silva Telles, Alberto Cotrim Neto, Ítalo Galli, Oldegar Vieira, Cláudio De Cicco, Marcus Claudio Acquaviva, Acacio Vaz de Lima Filho e o próprio Poletti.
De volta a São Bento do Sapucaí, sentinela da Terra Bandeirante que muito se assemelha a um presépio vivo na Serra da Mantiqueira, como evocou, num inspirado poema, o jornalista, escritor e editor Cláudio de Cápua,[9] Plínio Salgado, aproveitando as horas de lazer, leu autores como Spencer, Comte, Kant, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Büchner, Haeckel, Lamarck, Gustave Le Bon, Jhering, William James e Ingenieros, ao mesmo tempo em que se aprofundava no conhecimento de nossa Literatura, assim como das literaturas portuguesa, francesa, espanhola, italiana, inglesa, alemã e russa.
Em 1915, foi fundado, em São Bento, o Externato São Luiz, por Genésio Cândido Pereira, que mais tarde se tornaria o pai do escritor Genésio Cândido Pereira Filho e também um dos mais proeminentes vultos do Judiciário Paulista. Plínio Salgado lecionou no Externato São Luiz, instituição de que foi Secretário, e fundou e redigiu, juntamente com Genésio Cândido Pereira, o jornal daquele Externato, denominado Alvor.[10]
Ainda em 1915, Plínio Salgado coordenou a publicação do Almanaque de São Bento e, no ano seguinte, fundou, com o primo Joaquim Rennó Ferreira, o semanário Correio de São Bento
No ano de 1918, Plínio, que já tivera trabalhos publicados na Revista do Brasil e no Correio Paulistano, casou-se com Maria Amélia Pereira, irmã de Genésio Cândido Pereira.
Por esse tempo, era ele a figura central da cidadezinha de São Bento do Sapucaí, sendo diretor do jornal local e do grupo dramático, secretário do Tiro de Guerra e do Externato São Luiz, presidente do clube de futebol, orador do Gabinete de Leitura e agrimensor.
Ainda em 1918, enquanto se convalescia da gripe espanhola, que o atingira, Plínio leu o livro Farias Brito e a reação espiritualista, de Francisco Teive de Almeida Magalhães e, em seguida, as obras do próprio Farias Brito e de Jackson de Figueiredo, abandonando, assim, o materialismo e retornando ao espiritualismo cristão, ao mesmo tempo em que, preocupado com a questão nacional, lia também autores como Alberto Torres e Euclides da Cunha.
Conforme fez salientar Francisco Elías de Tejada, “o que Plínio Salgado levanta desde a sua conversão intelectual em 1918 são duas colunas solidíssimas: Cristo e o Brasil”, e o que ele nega são “as ideias estrangeiras que corrompem o Brasil e repelem o reinado social de Jesus Cristo”, a saber, o liberalismo, a liberal-democracia, os totalitarismos de todos os tipos, o positivismo e a herança do século XIX. O resultado disto será, ainda segundo Francisco Elías de Tejada, “o Integralismo como ação, como volta à Tradição brasileira” e, “por meta intelectual e política, a aproximação cada vez mais profunda, de Santo Tomás de Aquino”. Existe na obra pliniana, ainda de acordo com o insigne jusfilósofo castelhano, “uma lógica evidente”, e, pois, “ano após ano, vão ficando mais claras as suas ideias, quer aperfeiçoando conceitos, quer estabelecendo mais exatamente as suas posições; mas são exposições e esclarecimentos conservados sempre em torno daquelas duas temáticas centrais, de Cristo e da pátria brasileira”.[11]
Em 1919, Plínio perdeu a esposa quinze dias depois de esta haver dado à luz Maria Amélia, única filha do casal, e teve publicado o seu primeiro livro, o volume de versos parnasianos Tabor, elogiado pela Revista do Brasil, cujo proprietário era então Monteiro Lobato, e de que consta o célebre poema Canção das Águias.
Nesse mesmo ano, Plínio Salgado, que tempos antes fundara, ao lado do Dr. Gama Rodrigues, o Partido Municipalista, primeira agremiação política do País a defender o Municipalismo, deixou São Bento do Sapucaí em virtude de problemas políticos e seguiu para a Capital Paulista.
Em fevereiro de 1922, quando já era redator do Correio Paulistano, Plínio, que antes disso fora redator do jornal A Gazeta, participou ativamente da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo.
No ano de 1926, publicou O estrangeiro, que é, cronologicamente, o primeiro romance social em prosa modernista da Literatura Brasileira. Como ressaltaria Menotti Del Picchia, o romance de estreia de Plínio Salgado “confirmou-se como um marco renovador do romance brasileiro”, abrindo “a série das grandes obras que, num radioso renascimento de um sadio nacionalismo, escachoaram do Norte tendo na vanguarda a já histórica Bagaceira de José Américo de Almeida”.[12] Este último escreveu a Plínio, como observou Cláudio de Cápua, uma carta em que afirmou que depois de haver lido O estrangeiro considerara esta obra o primeiro romance, em importância, do Modernismo e resolvera reescrever totalmente o seu livro A bagaceira, que viria a ser publicado em 1928.[13]
O estrangeiro, maior poema em prosa do Modernismo Brasileiro,[14] teve um sucesso verdadeiramente extraordinário. A primeira edição se esgotou em menos de vinte dias e o burburinho que se fez em torno da obra na imprensa nacional foi algo realmente notável. Plínio Salgado, porém, ignoraria tudo o quanto então se publicava a respeito dele e de sua revolucionária obra, não fosse por seu amigo Fernando Callage, que colecionava todos os artigos, uma vez que, naquela ocasião, em São Bento do Sapucaí, falecia a mãe de Plínio, que, estando já à beira da morte, tomou o livro do filho nas mãos, projetando lê-lo mais tarde, quando estivesse melhor, o que infelizmente não ocorreu.
Considerado por Wilson Martins a maior realização romanesca brasileira da década de 1920, ao lado de O esperado, também de Plínio Salgado,[15] e classificado por Rachel de Queiroz como “o primeiro romance modernista”,[16] O estrangeiro, que seria considerado pelo autor o seu primeiro Manifesto Integralista,[17] fez do futuro criador da Ação Integralista Brasileira um escritor nacionalmente consagrado, tanto pelo público quanto pela crítica.
Dentre os diversos críticos literários e escritores de renome que elogiaram O estrangeiro na imprensa, nos meses seguintes à sua publicação, podemos citar Agripino Grieco, Afrânio Peixoto, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Nuto Sant’Anna, Jackson de Figueiredo, José Américo de Almeida, Rodrigues de Abreu, Tristão de Athayde e Monteiro Lobato. Este último dedicou ao romance um magnífico artigo intitulado Forças novas e publicado no jornal A manhã, do Rio de Janeiro, aos 19 de setembro de 1926.
No referido artigo, o autor de Cidades mortas e de O presidente negro, havendo reconhecido que “Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista”, frisou que “todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas”. E terminou o escritor patrício o seu artigo sobre O estrangeiro dizendo que “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar”.[18]
Como já mais de uma vez observamos,[19] em O estrangeiro e nos dois romances sociais em prosa modernista que se lhe seguiram e que com ele compõem as denominadas Crônicas da vida brasileira (O esperado, de 1931, e O cavaleiro de Itararé, de 1933), Plínio Salgado se revelou o genial cronista, intérprete de uma época de dúvidas e de incertezas que, sob o signo dos mais sadios e edificadores ideais cristãos, patrióticos e nacionalistas e absolutamente livre das questões da forma e do estilo, demonstrou ser arguto espectador e profundo conhecedor de todas as correntes de opinião e de todos os dramas dos diferentes segmentos da Sociedade Brasileira de seu tempo. Revelou-se, ademais, dotado de formidável capacidade de compreender todos os antagonismos, assim como de alma para efetivamente sentir, sofrer e expressar, sem temor ao uso da palavra, todos os complexos estados de espírito nacionais. Nenhuma frase pode, com efeito, defini-lo melhor do que aquela em que assim afirmou, no início de sua obra Despertemos a Nação: “O drama de meu povo apoderou-se de mim”.[20]
Conforme salientou Francisco Elías de Tejada, a “vocação de escritor egrégio” impeliu Plínio Salgado “à literatura, mas uma literatura a serviço dos ideais de um Brasil autêntico”, tendo sido o romance O estrangeiro não apenas “uma das cumiadas da literatura brasileira”, mas também “a necessária análise sociológica” da qual nasceria “um pensamento robustíssimo, o mais brasileiro que dar-se possa”.[21] Ainda como notou o autor de As doutrinas políticas de Farias Brito (1953), Jackson de Figueiredo apreendeu, com sua característica agudeza, o significado de O estrangeiro, que “acima dos seus maravilhosos méritos literários, e além do finíssimo estudo sociológico”, vem a ser “todo um programa político”,[22] constituindo-se, nas palavras do próprio Jackson de Figueiredo, em “um livro de esperança e de fé” na grande Pátria Brasileira.[23]
Os anos seguintes à publicação de O estrangeiro foram fecundos na vida de Plínio Salgado, que colaborava em diferentes jornais e revistas e foi figura central dos grupos modernistas verde-amarelista e da Anta, bem como de diversos outros grupos, na meditação sobre a realidade e os problemas sociais e nacionais. Assim, dedicou-se, com Alarico Silveira e Raul Bopp, ao estudo da língua tupi e da etnografia nacional, ao mesmo tempo em que, ao lado de Cândido Motta Filho, Fernando Callage, Plínio Mello e outros, estudava Alberto Torres, Euclides da Cunha, Tavares Bastos, Oliveira Vianna, Calógeras, Oliveira Lima e outros autores que estudaram nossa Terra e nosso Homem. Ao mesmo tempo, com Augusto Frederico Schmidt e outros, dedicou-se ao estudo da obra de Jackson de Figueiredo e de outros pensadores católicos e espiritualistas. E, por fim, com Mário Pedrosa, Araújo Lima, Plínio Mello e outros, estudou o marxismo, lendo a obra de Marx, Lênin, Trótski, Plekhanov, Riazanov e outros pensadores socialistas e considerando válidas suas críticas ao capitalismo, mas não as supostas soluções por eles apresentadas.
            No ano de 1928, foi Plínio Salgado eleito Deputado Estadual pelo Partido Republicano Paulista (PRP), entrando pelo 2º turno e sendo o candidato mais votado. Foi sufragado não apenas por seu partido, mas pela totalidade das forças eleitorais do 3º Distrito, incluindo o Partido Democrático, de oposição, o Partido Independente, de Gama Rodrigues, e dissidências locais que se coligaram para elegê-lo,[24] cumprindo ressaltar que toda sua atuação no PRP obedeceu ao firme propósito de criar uma corrente renovadora dentro daquele partido.
            Em julho de 1929, o autor de O estrangeiro (1926) e de Literatura e política (1927) tomou posse na Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira de número seis, cujo patrono é Couto de Magalhães, a quem muito admirava, e para a qual fora eleito à revelia, como então se usava naquela instituição.
            Isto posto, cumpre salientar que Plínio Salgado jamais se candidatou a membro de qualquer Academia de Letras, somente havendo ingressado na Paulista por ter sido eleito à revelia, mas pertenceu a diversas instituições científicas e culturais, incluindo o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que, aliás, prestou uma belíssima homenagem ao escritor e pensador sambentista por ocasião do centenário de seu nascimento, em 1995.
Em 1930, Plínio Salgado viajou para o velho mundo, acompanhando o jovem Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha, percorrendo catorze países do Oriente Médio e da Europa. Na Palestina, conheceu os lugares que tão bem haveria de descrever em sua Vida de Jesus, obra que atingiria várias edições em diferentes países e idiomas e receberia entusiásticos elogios de notáveis pensadores, escritores, críticos e autoridades religiosas do Brasil e da Europa. Em Roma, encontrou-se, dentre outros, com Benito Mussolini e com o Senador Giovanni Gentile, filósofo e ex-Ministro da Instrução Pública, e este, que coordenava os trabalhos da Enciclopédia Italiana, pediu a Plínio que completasse o verbete dedicado ao Brasil, o que ele fez em uma madrugada, com o auxílio de Mário Graciotti, Manoel Gomes e Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha. E em Paris, concluiu o romance O esperado, publicado no ano seguinte, e redigiu um manifesto que meses mais tarde se tornaria o Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo.
Em julho de 1931, foi lançado, em São Paulo, o primeiro exemplar do jornal nacionalista A Razão, que tinha Alfredo Egydio de Souza Aranha como proprietário e Plínio Salgado como principal redator e revolucionou a imprensa do País, tendo como colaboradores intelectuais da estirpe de Tristão de Athayde, Sobral Pinto, San Tiago Dantas, Mário Graciotti, Paulo Setúbal, João Carlos Fairbanks, Alpínolo Lopes Casali, Silveira Peixoto, Nuto e Leopoldo Sant’Anna e, é claro, Plínio Salgado. Este era autor do artigo diário de abertura daquele matutino, a célebre Nota Política, em que era analisada a situação do País, pondo-se em evidência pensadores até então relativamente olvidados, como Farias Brito, Alberto Torres, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco e Tavares Bastos e Eduardo Prado e rememorando-se fatos do Império e da República.
Foi na Nota Política, transcrita no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do Ceará, bem como, por iniciativa de Antônio Felício dos Santos, no jornal católico A União, do Rio de Janeiro, que Plínio revelou, na expressão de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano.[25]
            Também em 1931, foi lançado o Manifesto da Legião Revolucionária, elogiado por intelectuais do quilate de Oliveira Vianna, Tristão de Athayde, Azevedo Amaral, Octavio de Faria e Humberto de Campos, dentre outros, e que já é, pelo seu conteúdo, um autêntico manifesto integralista.
            Em 12 de março do ano seguinte, Plínio Salgado fundou oficialmente, na Sala de Armas do Clube Português, em São Paulo, a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), que reuniria dezenas de intelectuais preocupados em dar um rumo ao Brasil, reconduzindo-o às bases morais de sua formação.
A 07 de outubro daquele ano de 1932, divulgou Plínio Salgado o Manifesto que redigira em maio e cujo anteprojeto fora aprovado pela assembleia da SEP em junho, não havendo sido divulgado então por conta da Revolução Constitucionalista ora já iminente.
O Manifesto de Outubro, que assim passou a ser denominado em virtude de haver sido divulgado em tal mês, marcou o surgimento oficial do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira.
Inspirado, antes e acima de tudo, nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas lições de grandes pensadores espiritualistas, patrióticos e nacionalistas patrícios, o Manifesto de Outubro, em suas páginas transbordantes de Fé e de Brasilidade, já trata, ainda que resumidamente, de todos os princípios básicos da Doutrina Integralista, posteriormente aprofundados em outros manifestos, assim como em livros, artigos e discursos de Plínio Salgado e de outros doutrinadores integralistas. Dentre tais princípios, podemos enumerar os seguintes: Afirmação da existência de Deus e da Alma Imortal do Homem; Concepção Integral do Universo e do Ente Humano; Patriotismo; Nacionalismo Integral, justo, equilibrado, sadio e edificador, alicerçado na Tradição e tendente ao autêntico Universalismo, que não pode ser confundido com o internacionalismo liberal ou comunista; defesa da Família, cellula mater da Sociedade, e do Município, cellula mater da Nação; respeito à Tradição Nacional; combate sem tréguas ao comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; guerra sem quartel ao cosmopolitismo; sustentação da Harmonia e da Justiça Social; restauração dos princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; luta sem tréguas contra o racismo e em prol da valorização do nosso povo e das nossas tradições, bem como dos pensadores e escritores nacionais; pugna pela construção de uma Democracia Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação, do Homem do Bem Comum.
A mensagem essencialmente cristã e brasileira do Manifesto de Outubro espalhou-se rapidamente por todo o Brasil. Em pouco tempo, a Ação Integralista Brasileira (AIB) já reunia centenas de milhares de membros e outros tantos simpatizantes em todo o País, constituindo o primeiro “movimento de massas” e o primeiro partido de âmbito nacional desde o fim do Império, reunindo, ainda, diversos intelectuais ilustres, “bandeirantes do espírito”, no dizer de Genésio Pereira Filho,[26] que constituíam, na expressão de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época”,[27] formando, ainda, nas palavras de Gerardo Mello Mourão, o “mais fascinante grupo da inteligência do País”.[28]
Neste mesmo diapasão, o insuspeito Roberto Campos, ao falar, em suas memórias, de San Tiago Dantas, evocou “o surpreendente fascínio que o Integralismo exerceu em sua geração, particularmente sobre a parte mais intelectualizada”,[29] e o igualmente insuspeito Pedro Calmon, na biografia de seu pai, Miguel Calmon, afirmou que a plêiade de intelectuais reunida pelo Integralismo “poderia lotar uma Academia, em vez de ocupar uma trincheira”.[30] Aliás, devemos dizer que Pedro Calmon se equivocou, pois a plêiade de intelectuais que a Doutrina do Sigma reuniu, na década de 1930, em torno da bandeira azul e branca, e que bem podemos denominar a falange dos “homens de mil” do Integralismo, daria para lotar não apenas uma, mas várias academias.
No mesmo sentido, salientou Acacio Vaz de Lima Filho que o Integralismo reuniu, na década de 1930, “o que havia de mais belo na juventude brasileira em termos de ideal”, bem como “a fina flor da intelectualidade nacional”, intelectualidade esta que, rompendo com a tradição de servil imitação dos modelos estrangeiros, voltou-se “para o Brasil, e para as mais profundas raízes da brasilidade”.[31]
Não nos propusemos, no presente artigo, a analisar o Integralismo, tão augusta quanto deturpada Doutrina que se constituiu na glória e na cruz de Plínio Salgado, “pensador ilustre que arrebatava multidões na mocidade e serenava a ânsia dos intelectuais com o ouro da sua pena”, na expressão de Manoel Vítor, e cuja “rota pelo sigma”, ainda nas palavras deste, “nada mais era que a projeção da sua mesma personalidade em busca de Deus para dá-lo aos homens”, sendo “a Família e a Pátria” os “degraus por onde andou semeando rosas que lhe trouxeram o paradoxal perfume dos espinhos”.[32] Não podemos deixar de assinalar, contudo, que o Integralismo realizou, como escreveu o próprio Plínio Salgado, “a maior obra cívica do Brasil”,[33] tendo mobilizado desde “o homem do sertão até os numerosos e legítimos expoentes da cultura nacional”[34] e havendo soprado “a brasa do patriotismo aparentemente adormecido do povo brasileiro, acendendo um clarão como de outro não há notícia na nossa Pátria”.[35] Ainda como enfatizou o autor de Palavra nova dos tempos novos (1936) e Espírito da burguesia (1951), o Integralismo
Ensinou o povo a cantar o Hino Nacional (que raríssimas pessoas sabiam); levou multidões a aplaudir freneticamente os desfiles do Exército e da Marinha (que então, como hoje, passavam nas ocasiões das paradas, em meio ao silêncio de reduzidos espectadores frios e apenas curiosos); promoveu o culto das datas históricas e dos heróis do nosso Passado Nacional, realizando comemorações imponentes, como as de Caxias, de Carlos Gomes, de Tamandaré, de Couto de Magalhães, de Pedro II, que foram memoráveis; abriu cerca de 3.000 escolas de alfabetização para adultos e cerca de mil lactários para a infância; organizou bibliotecas e fez dar cursos de História do Brasil, Geografia, Instrução Moral e Cívica, Economia Política, elementos de Direito Público e de Filosofia; fundou milhares de ambulatórios médicos e cooperou na obra de recuperação física da nossa gente; realizou exposições e concertos e cursos de Cultura Artística, um dos quais foi notabilíssimo, no salão da Escola Nacional de Belas Artes; e – o que mais importava! – arregimentou a infância e a adolescência, incutindo-lhes entusiasmo pelos nobres ideais, formando-lhes os corações segundo a doutrina do Evangelho, incendiando-as num surto de patriotismo como nem antes nem depois se viu algo de semelhante.[36]
O Integralismo, ainda nas palavras do autor de O Integralismo na vida brasileira,
fez escola de austeridade e de firmeza de princípios, de altruísmo e abnegação, de idealismo construtor, de amor ardente pela Pátria, de sacrifício por ela. Uma escola de disciplina e de ordem, de simplicidade e de modéstia, de preocupação pela coisa pública, de apostolado pela regeneração dos costumes. Uma escola que tinha por base a revolução interior, a transformação do próprio Homem pelo domínio de si mesmo, na luta contra os baixos instintos que perseguem o Ser Humano como consequência da culpa original. Uma escola de vigilância constante na defesa das bases fundamentais da vida brasileira: a Religião, a Pátria, a Família.[37]
Antes de concluir nossas breves palavras sobre a doutrina política de Plínio Salgado e a sua difusão em nosso País, reputamos oportuno enfatizar que, como ressaltou D. Odilão Moura, nas páginas da obra Ideias católicas no Brasil, “nacionalista, tradicionalista (...), o integralismo”, cujas teses não contrariam a Doutrina Católica, propugna “por um Estado de estrutura corporativa e municipalista (...), visando a um regime de justiça social para o povo” e foi, assim como ainda é, um movimento, antes de tudo, educativo, que, na década de 1930, conseguiu dar a “grande parte da juventude brasileira (...) um ideal elevado, despertou uma grande preocupação pelos problemas e tradições brasileiros, indicou uma direção política visando mais às ideias que à eleição dos candidatos, desviou do comunismo aqueles que desejavam uma ação política de reivindicações sociais”.[38]
   Ainda conforme frisou Dom Odilão Moura, o Integralismo, cujos adeptos sacrificavam os interesses particulares em prol da “redenção do Brasil”, onde deveria surgir “uma nova civilização cristã e ordeira”, atraiu centenas de milhares de católicos por sua “posição espiritualista”, pela valorização que sempre deu “às nossas tradições cristãs”, pela aceitação dos princípios da Doutrina Social da Igreja e “pelo combate tenaz ao comunismo”, e era, no Brasil dos anos 30 do século passado, no entender do ilustre religioso beneditino e pensador tomista, “o único movimento político não comunista que apresentava um programa de uma reforma social mais ampla e fundamentada em ideias”, donde grande parte da mocidade nele haver encontrado a “concretização de um ideal construtivo”. Assim, inúmeros “bispos, sacerdotes, instituições religiosas, intelectuais e universitários católicos” apoiaram o Integralismo ou mesmo “ingressaram nas suas fileiras” e graças, em larga medida, a eles, o Movimento do Sigma – sem dúvida alguma o movimento cívico-político que mais apoio recebeu, em todo o Mundo, de autoridades da Igreja e de vultos do laicato católico – “cresceu enormemente, sendo raro o recanto brasileiro onde não houvesse uma sede da AIB, propagando as ideias do movimento, alfabetizando, prestando assistência social”.[39]
Consoante escreveu D. Odilão Moura, o gigantesco crescimento que teve o Integralismo, em curto espaço de tempo, deveu-se, antes e acima de tudo, à pena e aos discursos de Plínio Salgado, “homem inteligente, autodidata, bom escritor e jornalista” e brilhante orador, que “sabia (...) usar dos recursos oratórios como ninguém”.[40]
Tratando do Integralismo, observou o magistrado, jurisconsulto e ensaísta Fernando Whitaker da Cunha que a Doutrina Integralista merece ser estudada “pela seriedade de suas premissas e de seus propósitos”; pelo fato de ter engendrado “o primeiro movimento partidário de repercussões nacionais” desde a implantação da República; por pretender “um Direito Público em moldes brasileiros”; por “censurar vaidades estadualistas em benefício da pátria global e, acima de tudo, por pregar um Estado Ético fundado na moral cristã, na dignidade do homem e no culto de Deus, da Nação e da Família”.[41]  
Encerrando nossas breves linhas sobre a Doutrina do Sigma, salientamos que, a exemplo do Padre Júlio Maria, reputamos que “o Integralismo em sua doutrina, sua finalidade e em sua organização, é bom e merece o apoio de todos que têm amor a sua Pátria e ao Progresso".[42]
Exilado involuntariamente em Portugal pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, que decretara o fechamento da Ação Integralista Brasileira em 1937, Plínio Salgado lá permaneceu, juntamente com D. Carmela Patti Salgado, com quem se casara em segundas núpcias, de 1939 até 1946.
Em Portugal, Pátria de que nasceu sua Pátria, o autor de Reconstrução do Homem estudou profundamente o pensamento tradicionalista português e espanhol, proferiu algumas de suas mais belas conferências, escreveu as suas mais pujantes obras religiosas e foi reconhecido pela intelectualidade católica como um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos e um verdadeiro apóstolo brasileiro.[43]
Foi em Portugal, ademais, que Plínio terminou sua obra prima, a Vida de Jesus, que o Padre Leonel Franca qualificou de “joia de uma literatura”[44] e que é inegavelmente um clássico não apenas da Literatura Brasileira, mas da própria Literatura Universal, assim como uma das obras máximas da Cristologia. Como salientou o escritor português José Sebastião da Silva Dias, a Vida de Jesus, que “no gênero é o melhor que até hoje se publicou em língua portuguesa”, tendo realmente “conseguido ser ‘a joia de uma literatura’”, teria “o mundo inteiro por mercado”, caso tivesse sido “escrita em qualquer das grandes línguas europeias”.[45]
A respeito da obra prima de Plínio Salgado, assim se exprimiu Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal Patriarca de Lisboa:
                                      Falando da Vida de Jesus, queria confessar que é a mais bela de quantas tenho lido. Tão difícil de escrever, a Vida de Jesus de Plínio Salgado é, de fato, a Vida de Jesus, feita com a inteligência, com a alma e com o coração todo.[46]
Por suas obras religiosas, a exemplo da Vida de Jesus, “coroa luminosa de um grande e silencioso drama”, no dizer do Cardeal Cerejeira,[47] assim como de A aliança do sim e do não, de Primeiro, Cristo!, de O Rei dos reis, de A Tua Cruz, Senhor, de Mensagens ao Mundo Lusíada, de A imagem daquela noite e de São Judas Tadeu e São Simão Cananita, podemos considerar Plínio Salgado um dos maiores e mais profundos escritores cristãos de todos os tempos e uma das máximas glórias do pensamento e das letras cristãs do Mundo Lusíada.
Isto posto, cumpre salientar, que, como escreveu o sacerdote jesuíta e jornalista italiano Domenico Mondrone, no prefácio à edição italiana da Vida de Jesus, transcrito na revista romana La Civiltà Cattolica, não apenas as obras religiosas de Plínio Salgado, mas todos os livros deste “escritor robusto e fecundo” são testemunhos “do ideal cristão, ao qual está dirigida toda a sua vida de indivíduo e de cidadão e no qual se enquadra a sua visão do mundo”.[48] E faz-se mister sublinhar, do mesmo modo, que toda a vida de Plínio Salgado, desde seu retorno à Igreja, foi dedicada à luta por Cristo. Com efeito, consoante frisou o egrégio historiador e pensador tradicionalista português João Ameal, em palavras que fazemos nossas:

Plínio Salgado escreve, fala, apostoliza sob a luz perene da obediência a Cristo; os argumentos que emprega, são colhidos nas divinas palavras; as imagens que levanta, são sugeridas pelas divinas lições, os apelos que lança, são o eco dos divinos apelos e todo o seu programa é reimplantar na consciência dos contemporâneos a figura excelsa do Filho de Deus e incitá-los a que O tomem por modelo e saibam voltar ao integral cumprimento da Sua Lei.[49]

Durante os tempos de exílio em Portugal, Plínio Salgado conheceu pessoalmente o Presidente do Conselho de Ministros daquele País, Dr. António de Oliveira Salazar, a quem considerava, com razão, um dos maiores estadistas de seu tempo e da História Lusíada. Unidos por profundos laços doutrinários e por um entranhado sentimento de mútua admiração, o estadista português e o escritor, pensador e líder político brasileiro se encontraram algumas vezes, durante e após o exílio de Plínio em terras portuguesas,[50] e trocaram diversas cartas ao longo dos anos.
De volta ao Brasil em 1946, Plínio Salgado ingressou no Partido de Representação Popular (PRP), que havia sido fundado no ano anterior por ex-membros da Ação Integralista Brasileira e que pugnava pelos mesmos ideais cristãos e brasileiros pelos quais esta havia pugnado. Por este partido foi candidato às eleições presidenciais de 1955 e se elegeu Deputado Federal em 1956, 1960 e 1964. Exerceu outros dois mandatos na Câmara, eleito pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), até deixar definitivamente a política, em 1974. Faleceu um ano depois, no Hospital Sírio-Libanês, na Cidade de São Paulo, tendo sido sepultado no Cemitério do Morumbi.
Como Deputado Federal, integrou sempre a Comissão de Educação, na qual produziu inúmeros pareceres, e apresentou projetos como os de Reforma Agrária e de criação do Fundo Nacional para a Reforma Agrária, ambos de 1963, e o da Emenda Constitucional n. 609, que criaria a Câmara Orgânica, consagrando o princípio organicamente democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais.
Plínio Salgado, “esse injustiçado”, nas palavras de Pedro Paulo Filho, deixou à Pátria, ao morrer, “exemplo inolvidável de um dos maiores pensadores políticos brasileiros e uma herança cultural soberba”, que o elenca “entre os mais notáveis escritores do Brasil”.[51] Como bem salientou Francisco Elías de Tejada, “com todos os defeitos que toda obra humana possui, e Plínio era um ser humano, a sua obra aparece majestática” pelo muito “que tem de coerente, pela lógica interna que anima o seu sistema” e, sobretudo, “pela magnitude do pensamento que sabe elaborar uma teoria da Tradição brasileira com traços de granítico castelo, destinado a suscitar adesões para quem queira em tempos vindouros conhecer a substância do Brasil”.[52]
Como evocamos na “orelha” da obra “Existe um pensamento político brasileiro?” Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!, organizada por Gumercindo Rocha Dorea, ao saudar Plínio Salgado, por ocasião de uma conferência que este realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 3 de agosto de 1953, o Professor Heraldo Barbuy, egrégio filósofo, sociólogo e escritor paulista, examinando a obra de Plínio Salgado como escritor, pensador e homem de ação, observou que a Doutrina Pliniana se tornara, então, mais do que nunca, necessária por firmar os verdadeiros conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado, e terminou seu discurso exaltando a tenacidade, a coerência e a capacidade de sacrifício de Plínio Salgado, sustentando seu nobre e límpido pensamento em meio às injustiças e incompreensões.[53]
Ainda como escrevemos na “orelha” do aludido livro, na hora presente, ainda muito mais do que no ano de 1953, é necessária a Doutrina Pliniana para o nosso Brasil e para todo o Mundo e a leitura do Manifesto de Outubro confirmará isto a todas as pessoas intelectualmente honestas que a fizerem.
Seja esta nossa singela homenagem a esse grande arauto e apóstolo da Fé e da Brasilidade e condestável do Brasil Integral que foi e é Plínio Salgado, neste centésimo vigésimo segundo aniversário de seu nascimento. Como escrevemos algures,[54] os já muitos anos de calúnias, de incompreensões e de silencio não foram capazes de apagar o brilho do autor da Vida de Jesus (1942) e de O Rei dos reis (1946), que fulgirá sempre, magna estrela da constelação do pensamento pátrio, luzente joia da rica coroa que representa a autêntica inteligência nacional, farol magnífico a guiar a nau dos verdadeiros tradicionalistas, patriotas e nacionalistas brasileiros pelos tenebrosos mares do Império de Calibã, que é o Império da Matéria, rumo ao porto seguro do Império de Ariel, que não é outro senão o Império do Espírito.
Mais genial, pujante e vigoroso intérprete da Tradição Nacional e do Espírito do Povo brasileiro, esse assinalado bandeirante da Fé e do Império e guerreiro de Deus e da Pátria, viverá, imortal, em sua obra notabilíssima e sempre atual, em que defende a restauração do Primado do Espírito e da Tradição, a recristianização integral do Brasil e a instauração de um Estado Ético e de uma Democracia Integral, assim como viverá sua alma igualmente imortal, junto do Cristo que tanto amou. Em uma palavra, o nome de Plínio Salgado perpetuar-se-á, conforme previu Juscelino Kubitschek, “como um símbolo iluminando o futuro”[55] deste vasto Império da Terra de Santa Cruz-Brasil.

Por Cristo e pela Nação!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira e 1º Vice-Presidente da Casa de Plínio Salgado.
São Paulo, 22 de janeiro de 2017-LXXXIV.

*O presente artigo se constitui numa versão revista, ampliada e atualizada da palestra que demos no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo no último dia 11 de novembro, por ocasião do lançamento do livro “Existe um pensamento político brasileiro?” Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!, organizado por Gumercindo Rocha Dorea.



[1] A notável oração do Dr. Hipólito Raposo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II. São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[2] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 47.
[3] Idem, p. 70.
[4] O cavaleiro do Brasil Integral, in Sei que vou por aqui!, ano I, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. XVII. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil a 20/07/1933.
[5] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA, Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, p. 48.
[6] Cf. Juscelino KUBITSCHEK, Carta a Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 223.
[7] O Direito em Plínio Salgado, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador e introdutor), Anais do centenário e da 2ª Semana Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD; São Bento do Sapucaí, São Paulo, Espaço Cultural Plínio Salgado, 1996, p. 97. Trabalho escrito para as comemorações do centenário de nascimento de Plínio Salgado, em 1995, e que foi tema da palestra proferida pelo autor a 08 de outubro daquele ano, em São Bento do Sapucaí, por ocasião da 2ª Semana Cultural Plínio Salgado.
[8] Idem, p. 98.
[9] Plínio Salgado (biografia), 5ª ed., São Paulo, De Cápua, 2000, p. 5.
[10] Recuperando literariamente Plínio Salgado, in  Boletim da Academia de Letras de Campos do Jordão, ano XIV, nº 69, setembro de 1999, p. 3.
[11] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 52-53.
[12] Plínio Salgado, o fraterno amigo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I., cit., p. 45.
[13] Cf. RODRIGUES, Rodrigo, O Pensamento Nacionalista no Modernismo Brasileiro, São Paulo, EditorAção, 2005, p. 35.
[14] Bem nos lembramos de que, durante a conversa que tivemos, no ano de 2005, com o Professor Miguel Reale, concordou este conosco quando dissemos que O estrangeiro é o maior poema em prosa do Modernismo Brasileiro e ressaltou, em seguida, que não apreciava muito os poemas em verso de Plínio Salgado, mas gostava bastante de seus poemas em prosa, como os romances O estrangeiro, O esperado, O cavaleiro de Itararé e A voz do Oeste, assim como a Vida de Jesus.
[15] O modernismo, 4ª edição, São Paulo, Editora Cultrix, 1973, p. 251. Cumpre ressaltar que Wilson Martins cometeu um pequeno equívoco ao considerar o romance O esperado, escrito quase que integralmente em 1930 e publicado no ano seguinte, como uma obra da década de 1920.
[16] In A Hebraica, São Paulo, julho de 1995, p. 33.
[17] Despertemos a Nação, 3ª edição, in Obras Completas. 2ª ed., vol. X, São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 9.
[18] Forças novas, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I, cit., pp. 112-113.
[19] Oitenta anos de “O estrangeiro”,  in Linguagem Viva, ano XVIII, nº 214, junho de 2007, p. 4. Também disponível em: http://www.linguagemviva.com.br/214.pdf. Acesso em 22 de janeiro de 2017; Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo de Brasilidade, in O Lince, nova fase, ano 4, nº 31, Aparecida-SP, jan./fev. de 2010, p. 17. Também disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2010/fev/pages/focus-plinio-salgado.php. Acesso em 22 de janeiro de 2017; 90 anos de O estrangeiro, in O Lince, nova fase, ano 10, nº 72, Aparecida-SP, nov./dez. de 2016, pp. 23-35. Também disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=396#.WISY7fkrLIU. Acesso em 22 de janeiro de 2017.
[20] Despertemos a Nação, cit., loc. cit.
[21] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 50.
[22] Idem, p. 51.
[23] O saci, o Avanhandava e o imperialismo pacífico, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I, cit., p. 100. Artigo originalmente publicado na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, a 1 de dezembro de 1926.
[24] Cf.,Maria Amélia Salgado LOUREIRO, Plínio Salgado, meu pai, cit., p. 154.
[25] A personalidade de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado, 4ª edição, São Paulo, Edição da Revista Panorama, 1937, p. 73.
[26] Palavras iniciais, in Plínio SALGADO, Extremismo e Democracia, 1ª edição, São Paulo, Editorial Guanumby, s/d, p. 8.
[27] Entrevista concedida ao Jornal da USP.  Disponível em: http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 22 de janeiro de 2017.
[28] Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001. Acesso em 22 de janeiro de 2017.
[29] A lanterna na popa, Rio de Janeiro, Topbooks, 1994, p. 843.
[30] Miguel Calmon – uma grande vida, Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco, Rio de Janeiro, José Olympio Editora; Brasília, INL, 1983, p. 170.
[31] Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?” Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. XVI.
[32] Plínio Salgado, pensador ilustre, in  VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., cit., pp. 41-42.
[33] O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, vol. I, Rio de Janeiro, Edições GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d (1958), p. 37.
[34] Idem, p. 7.
[35] Idem, p. 37.
[36] Idem, pp. 37-38.
[37] Idem, p. 38.
[38] Idéias católicas no Brasil, São Paulo, Convívio, 1978, pp. 99-100.
[39] Idem, p. 98.
[40] Idem, p. 99.
[41] Democracia e Cultura (a Teoria do Estado e os pressupostos da ação política), 2ª edição revista e aumentada, Prefácio de Artur Machado Paupério, Rio de Janeiro, Forense, 1973, p. 268.
[42] O Luctador, 20 de setembro de 1937.
[43] Sobre as atividades realizadas por Plínio Salgado durante o exílio em Portugal, bem como sobre o reconhecimento que ali recebeu dos mais altos vultos do pensamento católico lusitano: Augusta Garcia R. DOREA, Plínio Salgado, um apóstolo brasileiro em terras de Portugal e Espanha, São Paulo, Edições GRD, 1999.
[44] Carta a Plínio Salgado, Plínio SALGADO,  Vida de Jesus, 22ª edição, São Paulo, Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI. 
[45] Vida de Jesus, de Plínio Salgado, in in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 146-147.
[46] In Plínio SALGADO, Vida de Jesus, 9ª edição, in Obras completas, volume I, 2ª edição, São Paulo, Editora das Américas, 1956, p. 9.
[47] A Igreja e o pensamento contemporâneo, 4ª edição (com algumas notas inéditas), Coimbra, Coimbra Editora, 1944, p. 385.
[48] Plínio Salgado: o homem, a atividade, a obra-prima, in in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II. São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 159.
[49] Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam", vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 129.
[50] Os jornais Diário de Lisboa, da Capital Portuguesa, e A Marcha, do Rio de Janeiro, o primeiro do dia 15 de maio de 1962 e o segundo de dois dias mais tarde, noticiaram aquele que foi, provavelmente, o último encontro entre Salazar e Plínio Salgado, ocorrido na manhã daquele 15 de maio.
[51] Plínio Salgado, esse injustiçado, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador e apresentador), São Bento do Sapucaí, São Paulo, Espaço Cultural Plínio Salgado, 1994, p. 25. Texto da palestra proferida por Pedro Paulo Filho em São Bento do Sapucaí a 07 de outubro de 1993, por ocasião da 1ª Semana Plínio Salgado.
[52] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 53.
[53][53] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[54] Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo de Brasilidade, cit., p. 18. Também disponível em: http://www.jornalolince.com.br/2010/fev/pages/focus-plinio-salgado.php. Acesso em 22 de janeiro de 2015.
[55] Carta a D. Carmela Patti Salgado, in VV.AA.,  Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., cit., p. 225.