Friday, March 07, 2014

Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade*

Pensador profundo, escritor brilhante, jornalista e orador de amplos recursos e insigne doutrinador tradicionalista, patriótico, nacionalista e democrático na acepção cristã, autêntica, orgânica e integral do termo, Plínio Salgado é, sem sombra de dúvida, um dos mais eminentes e, ao mesmo tempo, olvidados e injustiçados homens de pensamento e de ação patrícios. Criador do movimento de renovação moral e social a que denominamos Integralismo e arauto de um Brasil Novo e Maior, foi ele, no dizer do ínclito pensador e escritor tradicionalista português Hipólito Raposo, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade” [1]. No mesmo sentido, Francisco Elías de Tejada y Spínola, maior pensador espanhol do tradicionalismo político e do Direito Natural Clássico do século XX, salientou que Plínio Salgado, “profeta incandescente e sublime de seu povo”, “encarnação viva do Brasil melhor” [2], foi o primeiro a efetivamente compreender a Tradição Brasileira, sendo, pois, o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria” [3].
Nascido a 22 de janeiro de 1895, na bucólica cidadezinha montanhesa de São Bento do Sapucaí, na Serra da Mantiqueira, divisa entre as províncias de São Paulo e Minas Gerais, Plínio era filho do Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político da região, e de D. Ana Francisca Rennó Cortez, professora normalista formada em São Paulo no último ano do Império.
O Coronel Francisco das Chagas, homem profundamente patriota e nacionalista na acepção sadia, equilibrada econstrutiva do vocábulo, tinha o costume de reunir os filhos à noite para lhes narrar os feitos de Felipe Camarão, de Henrique Dias, do General Osório, do Duque de Caxias, dos almirantes Barroso e Tamandaré e de outros vultos da História Pátria, lhes incutindo, assim, o amor ao Brasil e a suas tradições históricas.
 
Pouco mais tarde, D. Ana Francisca, que então já ensinara o filho a rezar e também lhe incutira o temor a Deus e lhe narrara histórias bíblicas, principiou a lhe dar lições de História do Brasil, Geografia, Aritmética e Francês.
 
Em 1907, Plínio, que havia iniciado os estudos secundários no Externato São José, dirigido pelo Prof. José Calazans Nogueira, seguiu para Pouso Alegre, Minas Gerais, onde estudou humanidades no tradicional Ginásio Diocesano São José, em que também estudavam Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida e Teodoro Quartim Barbosa, com os quais o futuro autor da Vida de Jesus firmou uma grande amizade que se estenderia por toda a vida.
 
O falecimento do pai, no ano de 1911, forçou Plínio a abandonar os estudos e a retornar a São Bento a fim de cuidar da mãe e dos irmãos menores.
 
D. Ana Francisca, que ainda lecionava em sua escola isolada para meninas, que funcionava nos fundos de sua residência, transformou outro cômodo da casa em sala de aula, abrindo uma escola para meninos e confiando-a ao jovem Plínio.
 
Pouco mais tarde, o futuro autor de Psicologia da Revolução principiou a trabalhar como agrimensor e topógrafo judicial. Em seguida, obteve o cargo de inspetor escolar no Município e, em virtude de se haver habilitado para requerer em juízo e promover o andamento dos feitos, foi nomeado solicitador, exercendo a função de advogado quando não havia advogados.
 
Por esse tempo, fundou, com o primo Joaquim Rennó Ferreira, o semanário Correio de São Bento, primeiro periódico da cidadezinha serrana.
 
Na mocidade, leu autores como Spencer, Comte, Kant, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche, Büchner, Haeckel, Lamarck, Gustave Le Bon, Jhering, William James e Ingenieros, ao mesmo tempo em que se aprofundava no conhecimento de nossa Literatura, bem como das literaturas portuguesa, francesa, espanhola, italiana, inglesa, alemã erussa.
 
No ano de 1918, Plínio, que já tivera trabalhos publicados na Revista do Brasil e no Correio Paulistano e coordenara, em 1915, a publicação do Almanaque de São Bento, casou-se com Maria Amélia Pereira.
 
Por esse tempo, era ele a figura central da cidadezinha de São Bento do Sapucaí, sendo diretor do jornal local, secretário do Tiro de Guerra, presidente do clube de futebol, orador do Gabinete de Leitura, diretor do externato e do grupo dramático e agrimensor.
 
Ainda em 1918, enquanto se convalescia da gripe espanhola, que o atingira, Plínio leu o livro Farias Brito e a reação espiritualista, de Almeida Magalhães e, em seguida, as obras do próprio Farias Brito e de Jackson de Figueiredo, abandonando, assim, o materialismo e retornando ao espiritualismo cristão, ao mesmo tempo em que, preocupado com a questão nacional, lia autores como Alberto Torres e Euclides da Cunha.
 
Em 1919, Plínio perdeu a esposa quinze dias depois de esta dar à luz Maria Amélia, única filha do casal, e teve publicado o seu primeiro livro, o volume de versos parnasianos Tabor, elogiado pela Revista do Brasil, cujo proprietário era então Monteiro Lobato, e de que consta o célebre soneto Canção das Águias.
 
Nesse mesmo ano, Plínio Salgado, que tempos antes fundara, ao lado do Dr. Gama Rodrigues, o Partido Municipalista, primeira agremiação política do País a defender o Municipalismo, deixou São Bento do Sapucaí em virtude de problemas políticos, seguindo para a Capital Paulista.
 
Em fevereiro de 1922, quando já era redator do Correio Paulistano, participou ativamente da Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo.
 
No ano de 1926, publicou O estrangeiro, que é, cronologicamente, o primeiro romance social em prosa modernista da Literatura Brasileira. Como ressaltaria Menotti Del Picchia, o romance de estreia de Plínio Salgado “confirmou-se como um marco renovador do romance brasileiro”, abrindo “a série das grandes obras que, num radioso renascimento de um sadio nacionalismo, escachoaram do Norte tendo na vanguarda a já histórica Bagaceira de José Américo de Almeida”[4]. Este último escreveu a Plínio, com efeito, uma carta em que afirmou que depois de haver lido O estrangeiro considerara esta obra o primeiro romance do modernismo e resolvera reescrever totalmente o seu livro A bagaceira, que seria publicado em 1928 [5].
 
O estrangeiro teve um sucesso verdadeiramente extraordinário. A primeira edição se esgotou em menos de vinte dias e o burburinho que se fez em torno da obra na imprensa nacional foi algo realmente notável. Mas Plínio ignoraria tudo o quanto então se publicava a respeito dele e de sua revolucionária obra, não fosse por seu amigo Fernando Callage, que colecionava todos os artigos, uma vez que, naquela ocasião, em São Bento do Sapucaí, falecia a mãe do autor de O estrangeiro, que, estando já à beira da morte, tomou o livro do filho nas mãos, projetando lê-lo mais tarde, quando estivesse melhor, o que infelizmente não ocorreu.
 
Considerado por Wilson Martins a maior realização romanesca da década de 1920, ao lado de O esperado, também de Plínio Salgado [6], e classificado por Rachel de Queiroz como “o primeiro romance modernista” [7], O estrangeiro, que seria considerado pelo autor o seu primeiro Manifesto Integralista [8], fez do futuro criador da Ação Integralista Brasileira um escritor nacionalmente consagrado, tanto pelo público quanto pela crítica.
 
Dentre os diversos críticos literários e escritores de escol que elogiaram O estrangeiro na imprensa, nos meses seguintes à sua publicação, podemos citar Agripino Grieco, Afrânio Peixoto, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Nuto Sant’Anna, José Américo de Almeida, Jackson de Figueiredo, Tristão de Athayde e Monteiro Lobato. Este último dedicou ao romance um artigo intitulado Forças novas e publicado no jornal A manhã, do Rio de Janeiro, a 19 de setembro de 1926.
 
No referido artigo, o autor de Cidades mortas e de O presidente negro, havendo reconhecido que, naquela obra, “Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista”, observou que “todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas”. E terminou afirmando que “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar” [9].
 
Em O estrangeiro e nos dois romances sociais em prosa modernista que se lhe seguiram e que com ele compõem as denominadas Crônicas da vida brasileira (O esperado, de 1931, e O cavaleiro de Itararé, de 1933), Plínio Salgado se revela o genial cronista, intérprete de uma época de dúvidas e de incertezas que, sob o signo dos mais sadios e edificadores ideais cristãos, patrióticos e nacionalistas e absolutamente livre das questões da forma e do estilo, revela-se arguto espectador e profundo conhecedor de todas as correntes de opinião e de todos os dramas dos diferentes segmentos da Sociedade Brasileira. Revela-se, ademais, dotado de formidável capacidade de compreender e amar todos os antagonismos, assim como de alma para efetivamente sentir, sofrer e expressar, sem temor ao uso da palavra, todos os complexos estados de espírito nacionais [10]. Nenhuma frase pode, com efeito, defini-lo melhor do que aquela em que afirma, no início de sua obra Despertemos a Nação: “O drama de meu povo apoderou-se de mim” [11].
 
Os anos seguintes à publicação de O estrangeiro foram fecundos na vida de Plínio, que colaborava em diferentes jornais e revistas e era figura central dos grupos modernistas verde-amarelista e da Anta, bem como de diversos outros grupos, na meditação sobre a realidade e os problemas nacionais. Assim, dedicou-se, com Alarico Silveira e Raul Bopp, ao estudo da língua tupi e da etnografia nacional, ao mesmo tempo em que, ao lado de Cândido Motta Filho, Fernando Callage, Plínio Mello e outros, estudava Alberto Torres, Euclides da Cunha, Tavares Bastos, Oliveira Vianna, Calógeras, Oliveira Lima e outros autores que estudaram nossa terra e nosso Homem. Ao mesmo tempo, com Augusto Frederico Schmidt e outros, dedicou-se ao estudo da obra de Farias Brito, Jackson de Figueiredo e outros pensadores espiritualistas. E, por fim, com Mário Pedrosa, Araújo Lima, Plínio Mello e outros, estudou o marxismo, lendo a obra de Marx, Lênin, Trótski, Plekhanov, Riazanov e outros socialistas e considerando válidas suas críticas ao capitalismo, mas não as supostas soluções por eles apresentadas.
 
Em 1928, Plínio Salgado foi eleito Deputado Estadual pelo Partido Republicano Paulista (PRP), entrando pelo 2º turno e sendo o candidato mais votado. Foi sufragado não apenas por seu partido, mas pela totalidade das forças eleitorais do 3º Distrito, incluindo o Partido Democrático, de oposição, o Partido Independente, de Gama Rodrigues edissidências locais que se coligaram para elegê-lo [12].
 
Isto posto, cumpre ressaltar que toda a atuação de Plínio Salgado, no PRP, obedecia ao firme propósito de criar uma corrente renovadora dentro daquele partido.
 
Em julho de 1929, o autor de O estrangeiro e de Literatura e política tomou posse na Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira de número seis, cujo patrono é Couto de Magalhães e para a qual fora eleito à revelia, como então se usava naquela instituição.
 
Em 1930, Plínio Salgado viajou para o velho mundo, acompanhando o jovem Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha, percorrendo catorze países do Oriente Médio e da Europa. Na Palestina, conheceu os lugares que tão bem haveria de descrever em sua Vida de Jesus, obra que atingiria várias edições em diferentes países e idiomas e receberia entusiásticos elogios de notáveis pensadores, escritores, críticos e autoridades religiosas do Brasil e da Europa, e também no livro O Oriente, dado à estampa em 1931. Em Roma, encontrou-se com Mussolini e com o Senador Giovanni Gentile, filósofo e ex-Ministro da Instrução Pública, e este, que coordenava os trabalhos da Enciclopédia Italiana, pediu a Plínio que completasse o verbete dedicado ao Brasil, o que ele fez em uma madrugada, com o auxílio de Mário Graciotti, Manoel Gomes e Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha. Em Paris, concluiu o romance O esperado, publicado no ano seguinte, e redigiu um manifesto que meses mais tarde se tornaria o Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo.
 
Em julho de 1931 foi lançado, na Capital Bandeirante, o primeiro exemplar do jornal nacionalista A Razão, que tinha Alfredo Egydio de Souza Aranha como proprietário e Plínio Salgado como redator-chefe e revolucionou a imprensa do País, tendo como colaboradores intelectuais do quilate de Tristão de Athayde, Sobral Pinto, San Tiago Dantas, Mário Graciotti, Paulo Setúbal, João Carlos Fairbanks, Alpínolo Lopes Casali, Silveira Peixoto, Nuto e Leopoldo Sant’Anna e, é claro, Plínio Salgado. Este era autor do artigo diário de abertura daquele matutino, a célebre Nota Política, em que era analisada a situação do País, pondo-se em evidência pensadores até então relativamente esquecidos, como Farias Brito, Alberto Torres, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Joaquim Nabuco e Eduardo Prado e rememorando-se fatos do Império e da República.
 
Foi na Nota Política, transcrita por Herbert Parentes Fortes no jornal Era Nova, da Bahia, e também reproduzida em jornais do Ceará, que Plínio revelou, na expressão de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano [13].
 
Também em 1931, foi lançado o Manifesto da Legião Revolucionária, elogiado por intelectuais da estatura de um Oliveira Vianna, um Tristão de Athayde, um Azevedo Amaral, um Octavio de Faria e um Humberto de Campos, dentre outros.
 
A 12 de março do ano seguinte, Plínio fundou oficialmente, na Sala de Armas do Clube Português, em São Paulo, a Sociedade de Estudos Políticos, que reuniria dezenas de intelectuais preocupados em dar um novo rumo ao Brasil, reconduzindo-o às bases morais de sua formação.
 
A 07 de outubro daquele ano de 1932, Plínio divulgou o Manifesto que redigira em maio e cujo anteprojeto fora aprovado em junho pela Sociedade de Estudos Políticos, não havendo sido divulgado então por conta da Revolução Constitucionalista ora já iminente.
 
Manifesto de Outubro, que assim passou a ser denominado em virtude de haver sido divulgado em tal mês, marcou o surgimento oficial do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira. Inspirado, antes e acima de tudo, nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas lições de grandes pensadores espiritualistas, patrióticos e nacionalistas pátrios, tal documento trata, ainda que de maneira resumida, de todos os princípios básicos da Doutrina Integralista, posteriormente aprofundados em outros manifestos, livros, artigos e discursos de Plínio Salgado e de outros doutrinadores integralistas.
 
A mensagem essencialmente cristã e brasileira do Manifesto de Outubro espalhou-se rapidamente por todo o País. Em pouco tempo, a Ação Integralista Brasileira (AIB) já reunia centenas de milhares de membros e outros tantos simpatizantes em todo o País, constituindo o primeiro “movimento de massas” e o primeiro partido de âmbito nacional desde o fim do Império, reunindo, ainda, diversos intelectuais ilustres, que constituíam, na expressão de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época” [14], formando, ainda, no dizer de Gerardo Mello Mourão, o “mais fascinante grupo da inteligência do País” [15]. .
 
O presente artigo não se propõe a analisar o Integralismo, tão augusta quanto deturpada Doutrina que se constituiu na glória e na cruz de Plínio Salgado, “pensador ilustre que arrebatava multidões na mocidade e serenava a ânsia dos intelectuais com o ouro da sua pena” [16] e cuja “rota pelo sigma”, na frase de Manoel Vítor, “nada mais era que a projeção da sua mesma personalidade em busca de Deus para dá-lo aos homens”, sendo “a Família e a Pátria” os “degraus por onde andou semeando rosas que lhe trouxeram o paradoxal perfume dos espinhos” [17].
 
Exilado involuntariamente em Portugal pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, Plínio Salgado lá permaneceu, juntamente com D. Carmela Patti Salgado, sua segunda esposa, de 1939 até 1946.
 
Na Pátria de que nasceu sua Pátria, o autor de Psicologia da Revolução estudou profundamente o pensamento tradicionalista português e espanhol, proferiu algumas de suas mais belas conferências, escreveu as suas mais pujantes obras religiosas e foi reconhecido pela intelectualidade católica como um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos e um verdadeiro apóstolo brasileiro [18].
 
Foi em Portugal, ademais, que Plínio terminou sua obra prima, a Vida de Jesus, que o Padre Leonel Franca qualificou de “joia de uma literatura” [19] e que é inegavelmente um clássico da Literatura Universal e uma das obras máximas da Cristologia.
 
De volta ao Brasil em 1946, Plínio ingressou no Partido de Representação Popular (PRP), que havia sido fundado no ano anterior por ex-membros da Ação Integralista Brasileira, pugnando pelos mesmos ideais cristãos, patrióticos e nacionalistas que esta, extinta por Vargas, juntamente com as demais agremiações políticas, em fins de 1937. Por este partido, do qual se tornou presidente, foi o autor deEspírito da burguesia e de Mensagem às pedras do deserto candidato às eleições presidenciais de 1955, e se elegeu Deputado Federal em 1956, 1960 e 1964. Exerceu outros dois mandatos na Câmara, eleito pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), até deixar definitivamente a política, em 1974. Faleceu um ano depois, na Cidade de São Paulo, sendo sepultado no Cemitério do Morumbi.
 
Como Deputado Federal, integrou sempre a Comissão de Educação, onde produziu inúmeros pareceres, e apresentou projetos como os de Reforma Agrária e de criação do Fundo Nacional para a Reforma Agrária, ambos de 1963, e o da Emenda Constitucional n. 609, que criaria a Câmara Orgânica, consagrando o princípio democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais.
 
Não podemos encerrar o presente artigo sem recordar que, em 1934, nas páginas de A Voz do Oeste, poema épico em prosa que retrata a epopeia bandeirante, Plínio previu e preparou a edificação de Brasília, como reconheceu Juscelino Kubitschek em carta ao autor de O esperado em que afirmou:
 
“Lendo o livro [13 anos em Brasília, de Plínio Salgado], ocorreu-me imediatamente outro de ferrenho adversário nosso, El Imperialismo d’El Brasil e que me foi oferecido pelo nosso comum amigo, Guimarães Rosa.
 
O publicista boliviano percebeu num relance a significação de Brasília, pressentida desde o século XVIII e preparada pelo grito que você, meu caro Plínio, deu conclamando todos para a marcha rumo Oeste” [18].
 
Tantos anos de calúnias, de incompreensões e de silêncio não conseguiram apagar o brilho de Plínio Salgado, que fulgirá sempre, magna estrela da constelação do pensamento pátrio, luciluzente joia da rica coroa que representa a autêntica inteligência nacional, farol magnífico a guiar a nau dos verdadeiros tradicionalistas, patriotas e nacionalistas brasileiros pelos tenebrosos mares do Império de Calibã, que é o Império da Matéria, rumo ao porto seguro do Império de Ariel, o qual não é outro senão o Império do Espírito.
 
Mais genial, pujante e vigoroso intérprete da Tradição Nacional e do Espírito do Povo brasileiro, viverá, imortal, em sua obra notabilíssima e sempre atual, em que defende a restauração do Primado do Espírito e da Tradição, a recristianização integral do Brasil e a instauração de um Estado Ético Orgânico e de uma Democracia Integral. Em uma palavra, o nome de Plínio Salgado perpetuar-se-á, conforme previu Juscelino Kubitschek, “como um símbolo iluminando o futuro” [21].
 
 
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira
 
 
NOTAS:
[1] RAPOSO, Hipólito, in VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. II. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[2] ELÍAS DE TEJADA Y SPÍNOLA, Francisco.  Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. II, cit., p. 47.
[3] Idem, p. 70.
[4] PICCHIA, Menotti Del. Plínio Salgado, o fraterno amigo, in VV.AA. Plínio Salgado: “in memoriam”, Vol. I. São Paulo: Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 45.
[5] Cf. RODRIGUES, Rodrigo. O Pensamento Nacionalista no Modernismo Brasileiro. São Paulo: EditorAção, 2005, p. 35.
[6] MARTINS, Wilson. O modernismo. 4ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1973, p. 251. Cumpre ressaltar que Wilson Martins cometeu um pequeno equívoco ao considerar o romance O esperado, escrito quase que integralmente em 1930 e publicado no ano seguinte, como uma obra da década de 1920.
[7] QUEIROZ, Rachel de. In A Hebraica, São Paulo, julho de 1995, p. 33.
[8] SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação. 3ª ed. In Obras Completas. 1ª ed., vol. X. São Paulo: Editora das Américas, 1955, p. 9.
[9] MONTEIRO LOBATO. Forças novas. In Diversos. Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. I, cit., pp. 112-113.
[10] BARBUY, Victor Emanuel Vilela. Oitenta anos de “O estrangeiro”. In Linguagem Viva, ano XVIII, nº 214, junho de 2007.
[11] SALGADO, Plínio. Despertemos a Nação, cit., loc. cit.
[12] LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. Plínio Salgado, meu pai. São Paulo: Edições GRD, 2001, p. 154.
[13] ROSA, Virgínio Santa. A personalidade de Plínio Salgado. In Diversos. Plínio Salgado. 4ª ed. São Paulo: Edição da Revista Panorama, 1937, p. 73.
[14] REALE, Miguel. Entrevista concedida ao Jornal da USP.  Disponível em: http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 08/08/2008.
[15] MOURÃO, Gerardo Mello. Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:
[16] Cf. VITOR, Manoel, Plínio Salgado, pensador ilustre, in in  VV.AA. Plínio Salgado: “In memoriam”, Vol. I., cit., p. 41.
[17] Idem, p. 42.
[18] Sobre as atividades realizadas por Plínio Salgado durante o exílio em Portugal, bem como sobre o reconhecimento que ali recebeu dos mais altos vultos do pensamento católico lusitano:  DOREA, Augusta Garcia R. Plínio Salgado, um apóstolo brasileiro em terras de Portugal e Espanha. São Paulo: Edições GRD, 1999.
[19] FRANCA SJ, Padre Leonel. Carta a Plínio Salgado. In SALGADO, Plínio. Vida de Jesus. 22ª ed. São Paulo: Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI.
[20] KUBITSCHEK, Juscelino. Carta a Plínio Salgado, in VV.AA. Plínio Salgado: “In memoriam”, Vol. I., cit., p. 223.
[21] Idem. Carta a D. Carmela Patti Salgado, in  VV.AA. Plínio Salgado: “In memoriam”, Vol. I., cit., p. 225.

* O presente trabalho se constitui em versão revista e ampliada de nosso artigo Plínio Salgado, arauto e apóstolo de Cristianismo e de Brasilidade, publicado no jornal O Lince (Nova fase, ano 4, nº 31, Aparecida-SP, jan/fev. de 2010, pp. 16-18).
 

José Paulo Perretti, "in memoriam"

Faleceu no último dia 03 de janeiro, nesta cidade de São Paulo, o Professor José Paulo de Oliveira Perretti, em decorrência de grave broncopneumonia, que se somou à insuficiência renal crônica de que há anos padecia. Membro da Casa de Plínio Salgado e profundo admirador da Doutrina e do Movimento Integralista, o Professor Perretti frequentou, enquanto o permitiu sua saúde havia anos abalada, as reuniões da Frente Integralista Brasileira (FIB) no núcleo da Capital Paulista.
Nascido em São Paulo no dia 15 de março de 1926, o Professor Perretti estudou no Colégio Rio Branco, onde foi aluno, dentre outros, do Professor Heraldo Barbuy, a quem muito admirou por toda a vida e que o influenciou em seu pensamento patriótico, nacionalista e tradicionalista. Mais tarde, frequentou as reuniões da Ação Imperial Patrianovista Brasileira (AIPB) nos últimos anos de atuação deste movimento cívico-político de cunho tradicionalista, chegando mesmo a conviver bastante com seu líder, o Professor Arlindo Veiga dos Santos. Embora jamais se tenha filiado a nenhuma agremiação política, foi eleitor e simpatizante do Partido de Representação Popular (PRP), que, presidido por Plínio Salgado, levou adiante os ideais eminentemente cristãos e brasileiros do Integralismo entre meados da década de 1940 e 1965, quando todos os partidos políticos até então existentes foram extintos pelo Ato Institucional Número Dois (AI-2).
 
Formado em Engenharia Elétrica pela Faculdade Politétcnica da Universidade de São Paulo (USP), o Professor Perretti trabalhou em tal ramo da Engenharia e também o ensinou, na mesma instituição de ensino em que se formara. Casado com Maria Apparecida Milani Perretti, de quem era viúvo, teve com esta uma única filha, Maria Bernadete Dieckelmann (nascida Milani Perretti), ora residente na Alemanha.
 
O Professor Perretti entregou seu espírito a Deus, Nosso Senhor, Princípio e Fim de todas as coisas, na esperança de gozar a vida eterna no Divino Reino, com um belo sorriso nos lábios. Pouco antes de partir desta vida, de deixar a prisão que é a existência do ente humano neste plano, verdadeiro “vale de lágrimas”, teve ele a fortuna de receber a indulgência plenária do Padre Jonas dos Santos Lisboa, da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Assim, estamos certos de que nosso saudoso amigo e companheiro de ideais, um dos mais virtuosos varões que tivemos a honra e a ventura de conhecer, deixou esta vida para entrar no Paraíso.
           
Victor Emanuel Vilela Barbuy, 
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira. 
São Paulo, 08 de janeiro de 2014 - LXXXI.