Wednesday, October 25, 2006

Carta à Folha de São Paulo

Em resposta ao artigo Guerra suja, de Boris Fausto

Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]

São lamentáveis as considerações de Boris Fausto a respeito da suposta participação dos integralistas no famigerado “Plano Cohen”, plano que foi, no dizer de Hélio Silva, "uma das mais monstruosas farsas da História".
Como bem observa Rubem Nogueira, em sua monumental obra "O homem e o muro", que o Sr. Boris Fausto não deve ter lido e deveria ler, "a má-fé de muitos e o desconhecimento da maioria sobre esse funesto acontecimento respondem pela injusta vinculação dele ao Integralismo, na pessoa de um dos seus antigos militantes, o capitão Olímpio Mourão Filho, quando, ao contrário, foi um embuste, nada mais, arquitetado e posto em prática pelo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro" (pág. 177). A exposição de Rubem Nogueira, no capítulo IX de sua obra, é de longe a melhor de todas quantas tenho lido a respeito desse turvo episódio de nossa História, sendo indicada por ninguém menos que o Prof. Goffredo Telles Junior em seu livro de memórias, "A folha dobrada".
A autoria do “Plano Cohen” é um fato que ficou comprovado perante o Conselho de Justificação do Exército, requerido a 26/11/1956 ao Ministro da Guerra, General Henrique Batista Dufles Teixeira Lott, por Olímpio Mourão Filho, então já coronel.
Pelo voto concordante de seus três juizes, um general e dois coronéis, o dito Conselho de Justificação considerou plenamente justificado o Coronel Olímpio Mourão Filho, absolvendo-o e arquivando o processo, como relatam, além de Rubem Nogueira, Glauco Carneiro, em "História das revoluções brasileiras", Hélio Silva, em "A ameaça vermelha – o Plano Cohen" e "1937 – todos os golpes se parecem", e o próprio Mourão Filho em "Memórias – a verdade de um revolucionário".
Entre os dias 20 e 22 de agosto daquele conturbado ano de 1937, Plínio Salgado incumbiu Mourão Filho de elaborar um estudo acerca de métodos revolucionários marxistas.
Mourão Filho fez em duas vias o estudo que lhe fora pedido por Plínio Salgado, cujo texto se encontra transcrito no livro de Hélio Silva, "A ameaça vermelha – o Plano Cohen".
No trabalho teórico de Mourão Filho não há, cumpre sublinhar, nenhuma referência ao Komintern ou ao Partido Comunista, quer do Brasil quer da URSS, o que desmascara de plano o General Góis Monteiro, como bem observa Rubem Nogueira no citado livro.
Plínio Salgado não gostou do estudo de Mourão Filho, rejeitando-o por conter trechos muito fantasiosos e estranhando ainda o nome “Cohen”. Mourão então explicou a ele que, por brincadeira, pusera no documento a assinatura de Bela Khun, o tristemente famoso tirano comunista de Budapeste, e lembrando, em seguida, que Gustavo Barroso costumava insistir que Khun era corruptela de Cohen, riscara o “Khun” e o substituíra por “Cohen”. O risco, entretanto, atingira também o “Bela”, de modo que o datilógrafo que passara o estudo a limpo conservara apenas o “Cohen”.
Poucos dias mais tarde, porém, o General Álvaro Mariante, vizinho de quarteirão, padrinho de casamento e ex-comandante de Mourão Filho, tendo visto seu rascunho, sugeriu que ele levasse uma cópia deste a Góis Monteiro, mas o futuro comandante do alçamento de 31 de Março de 1964 não anuiu, posto que aquele assunto era de interesse exclusivo da AIB (Ação Integralista Brasileira). Ao despedir-se de Mourão, todavia, Mariante pediu a ele para ficar com aquele estudo para lê-lo uma vez mais, ao que Mourão assentiu, pedindo ao general, contudo, que não deixasse mais ninguém ver aquilo.
Um ou dois dias depois, Mourão, desconfiado de Mariante, pediu-lhe a devolução da cópia emprestada, que, em sua casa, queimou folha por folha. Mas Mourão Filho, no seu íntimo, tinha a certeza de que, naquele intervalo, seu padrinho de casamento, deslealmente, passara a cópia de seu trabalho ao General Góis Monteiro, seu vizinho de apartamento, que mandara reproduzi-la. Foi o que realmente ocorrera. E Góis Monteiro, havendo introduzindo no estudo de Mourão Filho tudo o que achava necessário para torná-lo "um tenebroso plano de ação do Partido Comunista Russo", apresentou-o ao Chefe da Casa Militar da Presidência da República como apreendido pelo Estado-Maior do Exército.
Quanto à caracterização do Integralismo como versão tropical do fascismo, ela já é tão banal que sequer merece resposta. Mas é preciso lembrar sempre que o Integralismo, que, como já escrevia Plínio Salgado em "A quarta humanidade", estava muito mais próximo do movimento cristão e democrático de Don Sturzo do que do fascismo de Mussolini, tinha muitas diferenças em relação a este, condenando, por exemplo, a ditadura, o cesarismo e o Estado Totalitário, aos quais opunha a Democracia Integral e o Estado Integral, ao mesmo tempo antiindividualista e antitotalitário.

Friday, October 20, 2006

A Revolução Necessária

Por Victor Emanuel


Todos sabemos que o Brasil enfrenta a mais grave crise de sua História. Nós, que durante anos fomos a oitava economia do Planeta e o país que mais crescia no Mundo Ocidental, somos hoje a décima quinta economia e temos uma taxa de crescimento irrisória se comparada à das demais nações em desenvolvimento e mesmo à de algumas nações desenvolvidas. O partido que sempre se pavoneou em arauto da Ética e em defensor dos menos favorecidos foi o responsável pelos mais terríveis escândalos de corrupção de nossa História e, mantendo os juros na estratosfera, beneficiou como nenhum outro os grandes banqueiros, em detrimento do Setor Produtivo, enquanto, por meio de programas assistencialistas como o Bolsa-Família, não fez mais do que comprar votos e manter os pobres em seu estado de pobreza, em vez de lhes oferecer as condições necessárias para efetivamente mudar de vida.
A inversão dos valores, surgida com o advento do capitalismo, sistema em que as pessoas não valem mais pelo que são, mas sim por aquilo que possuem, vem sendo promovida, com intensidade crescente, pela Mídia deletéria a serviço de interesses inconfessáveis, atingindo os níveis mais alarmantes. Os direitos humanos, em tese de todos os cidadãos, são na prática muitas vezes apenas dos ladrões e assassinos. O crime organizado, nutrido pela miséria, pelo desemprego, pela decadência dos valores espirituais, cívicos e morais e pela insuficiência do sistema educacional, desfruta de um tremendo poder diante de um Estado impotente e pratica os mais bárbaros atos de terrorismo contra alvos militares e civis. A moral e o civismo, tidos como “caretas”, “quadrados”, não são mais ensinados às nossas crianças e nem aos nossos jovens. Os heróis, os vultos da Pátria são olvidados e mesmo caluniados, ao passo que seus inimigos e traidores são exaltados, cultuados como se fossem os verdadeiros heróis da nacionalidade.
As lamentáveis ações de grupos extremistas como o MST e o MLST mostram que o bolchevismo, doutrina e prática do ódio, da inveja, da violência, da luta de classes e da desagregação moral e social, está – dezessete anos após a queda do funesto Muro de Berlim e quinze desde o colapso do Império Soviético – ainda fortíssimo em nosso País, constituindo considerável ameaça às nossas instituições cristãs e democráticas. O comunismo, doutrina exótica, subversiva e unilateral que remonta aos tempos do lampião de gás e do motor a vapor e que se apóia nos mais baixos instintos do Ser Humano e nas mais ínfimas paixões da Humanidade, alimenta-se dos justíssimos anseios da multidão despossuída e famélica, que clama por Justiça Social e desconhece que o bolchevismo não é a ditadura do proletariado, mas sim a ditadura contra o proletariado, da mesma forma que não é a harmonia entre os homens de diferentes classes, mas sim o seu extermínio mútuo e que não é a realização dos preceitos do Evangelho, mas sim a subversão da Obra Divina e o fim da Religião.
Os excluídos da posse e propriedade da terra pelo sistema capitalista, cujas mazelas não é necessário expor aqui, têm seus clamores aproveitados por profissionais da invasão, motivados por interesses estritamente pessoais e por ideais antidemocráticos e totalitários.
Nossa mocidade já não tem o hábito da leitura. Os poucos jovens que lêem, costumam preferir os “best-sellers” estrangeiros aos grandes nomes de nossa Literatura e de nosso pensamento.
Nossos professores não se preocupam em formar as crianças e os jovens, mas apenas em informá-los, quando não em desinformá-los ou mesmo deformá-los. E, para piorar, alunos passam de ano sem saber sequer ler e escrever ou realizar as quatro operações matemáticas. Nossa Educação se encontra, com efeito, numa distância monstruosa abaixo da Educação Integral que formará o Homem Integral, que não é o homem cívico da liberal-democracia, nem o homem econômico do marxismo e nem tampouco o super-homem egocêntrico de Nietzsche, mas o homem físico, o homem intelectual, o homem cívico e o homem espiritual, ou simplesmente o Homem.
Perderam-se os valores da Autoridade e da Hierarquia, sem os quais a Liberdade não pode existir. A liberdade que temos escraviza o fraco em detrimento do forte, não constituindo mais do que o direito das minorias plutocráticas explorarem o povo e abrindo caminho para a tirania e o totalitarismo.
A democracia liberal está longe de ser democrática na precisão integral do termo e, da mesma forma que o capitalismo, carrega o germe de sua própria destruição.
As Constituições burguesas, falaciosas e demagógicas da liberal-democracia, do liberalismo e do neoliberalismo – que não refletem de forma alguma as realidades de seus países, não tendo absolutamente o cheiro das terras em que foram criadas ou do sangue, do suor e das lágrimas de seus trabalhadores – ainda não tomaram conhecimento da pluralidade natural das fontes do Direito, não sabendo que os grupos sociais de que a Sociedade é constituída são fontes inexauríveis de normas, como bem observa o Professor Goffredo Telles Junior em “O Povo e o Poder”.
Vemos os vícios de nossa sociedade aumentarem não a cada dia, mas a cada hora, juntamente com a prática do mal, o destemor a Deus, o desamor à Pátria, o desapego à Família e o desrespeito à Tradição.
Vemos ainda que a Civilização Ocidental, por muitos ainda chamada de Civilização Cristã, embora infelizmente não mais o seja há já bastante tempo, corre sério perigo de desintegrar-se. E se corre tal perigo é porque é essencialmente técnica e se baseia no individualismo, que exclui toda a consideração do Homem Integral e contém o germe do coletivismo.
Nossa maior crise, porém, é a do pensamento, como já apontava Plínio Salgado em maio de 1933, ao escrever o prefácio daquela que é considerada, com razão, sua maior obra político-filosófica – “Psicologia da Revolução”. É neste mesmo preâmbulo que o fundador do Integralismo brasileiro e autor da “Vida de Jesus”, “jóia de uma literatura”, no dizer de Padre Leonel Franca, e das “Crônicas da Vida Brasileira”, formidável trilogia de romances sociais modernos composta por “O Estrangeiro”, “O Esperado” e “O Cavaleiro de Itararé”, ensina que sem que a crise do pensamento seja resolvida não se poderá solucionar o problema da Nação.
Para redimir o Brasil é necessário fazer-se uma profunda Revolução. Essa Revolução não se fará com armas convencionais, mas sim com livros e muita reflexão. Iniciar-se-á dentro de cada um, como Revolução Interior, Revolução das Mentalidades, Revolução dos Espíritos, e terminará com a Revolução Integral das instituições representativas do Estado brasileiro, com a implantação da Democracia e do Estado integrais.
A Democracia Integral, que podemos chamar também de Democracia Cristã, Democracia Efetiva, Democracia Autêntica ou Democracia Legítima e que opomos à democracia burguesa e às ditaduras de todos os matizes, constitui a única Democracia exeqüível e, tendo sua base sobretudo em Deus e nos ensinamentos perenes do Evangelho, vivifica a Liberdade do Homem e a Autoridade do Estado, Autoridade em que se origina e é demarcada essa Liberdade.
Já o Estado Integral, ou Estado Moderno, ou ainda Estado Ético, nada mais é que o Estado autêntico, a um mesmo tempo antiindiviualista e antitotalitário, que, não constituindo nem princípio e nem fim, subordina-se à ordem natural das coisas, proclamando, acima de tudo, a Intangibilidade do Ente Humano e dos Grupos Naturais, e fazendo prevalecer o espiritual sobre o moral, o moral sobre o social, o social sobre o nacional e o nacional sobre o individual. Como sublinhou Miguel Reale em sua obra “O Estado Moderno”, de 1934, só os ignorantes ou os mal-intencionados podem confundir tal concepção de Estado com a concepção totalitária de Hegel.
Em nossa longa e árdua caminhada até o Dia do Triunfo; até o advento da Democracia e do Estado integrais; até a total libertação da nossa Pátria e do nosso povo daqueles que os oprimem; até a restauração do Primado do Espírito, da Inteligência, da Ética e da Verdade, sofreremos as mais absurdas calúnias, injúrias e difamações. Defensores da Justiça Social e dos humildes, seremos chamados de inimigos do povo e de reacionários a serviço da alta burguesia. Adversários do imperialismo e arautos da grandeza da Pátria e de sua integridade territorial, apontar-nos-ão como agentes de potências estrangeiras. Inimigos figadais de todo e qualquer preconceito étnico, caluniar-nos-ão como adeptos das teorias racistas que sempre combatemos. Democratas no exato sentido do termo, avessos ao estatismo absorvente e ao cesarismo e sustentadores da Liberdade e da Intangibilidade do Homem, injuriar-nos-ão como profetas do totalitarismo e carrascos das liberdades. Adeptos do único movimento político-social autenticamente brasileiro, apontar-nos-ão como seguidores de doutrinas alienígenas.
Seremos, como temos sido até hoje, julgados e condenados não por aquilo que efetivamente somos, mas sim pela imagem deturpada que nossos adversários criaram de nós. Nossos adversários, que dispõem dos mais poderosos meios de propaganda, continuarão nos apresentando como partidários de tudo aquilo que condenamos e combatemos.
Coisa parecida só sofreram os primeiros cristãos, tidos por devoradores de crianças, envenenadores de fontes e incendiários de Roma, e talvez a Espanha, nação em torno da qual criou-se a famosa “leyenda negra”.
Todos esses desleais ataques, entretanto, tornar-nos-ão cada vez mais fortes e confiantes.
Não podia, aliás, ser de outra forma. É evidente que todo aquele que, revestido da armadura de Deus, se levanta em nome da Fé e do Espírito, por Cristo batalhando e conduzindo adiante, com tenacidade inquebrantável, a bandeira da Solidariedade Humana e da Justiça Social, recebe em troca o peso do ódio e das calúnias dos maus e da incompreensão dos inocentes a serviço destes.
Podemos parecer poucos, não mais do que alguns milhares, mas a verdade é que encarnamos a Pátria neste grave momento, constituindo a verdadeira maioria, aquela maioria que não se traduz por números, mas sim pelos valores morais, cívicos e éticos, bem como pela fé que deposita nos destinos da Nação, de que constitui a derradeira esperança.
Somos os únicos representantes autênticos da Terceira Posição, da Terceira Via, que não pode ser confundida em hipótese alguma com a “terza via” fascista de Mussolini e nem tampouco com a “terceira via” neoliberal de Blair, de Clinton e de “nosso” FHC.
À luz de uma concepção integral do Homem e do Universo, consideramos anacrônicos, ultrapassados os conceitos de “direita” e “esquerda”, surgidos durante a Revolução Francesa de 1789 e válidos apenas num tempo marcado pelas visões unilaterais, fragmentárias do Homem e do Universo.
Temos diante de nós uma tremenda tarefa que é a de despertar o Brasil de seu sonho, de sua letargia liberal, reconduzindo-o ao seu destino histórico, fazendo com que efetivamente retorne ao Espiritualismo Cristão a que deve em grande medida sua unidade, grandeza e força, retomando o culto da terra e dos antepassados, que tem sido olvidado e mesmo condenado pelas forças deletérias do materialismo.
Deus dirige o destino dos povos. Estejamos certos de que Ele reserva ao povo brasileiro um luminoso porvir. O Brasil vai despertar. Nós já despertamos.

12/10/2006,

Friday, October 13, 2006

O Negro e o Integralismo


Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]


Na recente reportagem sobre o nazismo em nosso País, a revista “Aventuras na História”, da Editora Abril, afirma, dentre vários outros absurdos, que o Integralismo constitui um movimento racista, chegando ao cúmulo de dizer que os integralistas espancavam negros. Até que se prove o contrário, prefiro supor que tais afirmações sejam fruto não da má-fé do mencionado periódico, mas sim da absoluta ignorância que muitos brasileiros, infelizmente, ainda têm em relação ao Integralismo, por eles conhecido através de livros, filmes, minisséries e telenovelas que não fazem mais do que repetir velhas e carcomidas calúnias dos agentes do Komintern de Stálin e do DIP de Getúlio Vargas.
Ora, o Integralismo, como doutrina essencialmente cristã e brasileira, sempre foi radicalmente contrário a qualquer forma de racismo. Foi, aliás, o primeiro movimento, no Brasil, a aceitar em suas fileiras, inclusive em posições de liderança, negros, bem como mulheres – as famosas blusas-verdes - e índios.
No chamado Manifesto de Outubro, documento que funda oficialmente o Integralismo e que é lido por seu autor, Plínio Salgado, já então ex-deputado estadual por São Paulo, além de escritor e jornalista de renome, a 07 de Outubro de 1932 no Teatro Municipal de São Paulo, já se denunciava que “os brasileiros das cidades não conhecem os pensadores, os escritores, os poetas nacionais. Envergonham-se também do caboclo e do negro de nossa terra. Adquiriram hábitos cosmopolitas. Não conhecem todas as dificuldades e todos os heroísmos, todos os sofrimentos e todas as aspirações, o sonho, a energia, a coragem do povo brasileiro. Vivem a cobri-lo de baldões e de ironias, a amesquinhar as raças de que proviemos. Vivem a engrandecer tudo o que é de fora, desprezando todas as iniciativas nacionais. Tendo-nos dado um regime político inadequado, preferem, diante dos desastres da Pátria, acusar o brasileiro de incapaz, em vez de confessar que o regime é que era incapaz.”
O insuspeitíssimo sociólogo Gilberto Freyre, em sua obra “Uma cultura ameaçada – a luso-brasileira”, de 1942 (citado por Jayme Ferreira da Silva em “A Verdade Sobre o Integralismo”), refere-se ao geógrafo nacional-socialista Reinhard Maack, que, na revista de professores da Universidade de Harvard, nos EUA, já havia expedido suas idéias profundamente racistas: “O geógrafo Maack atribui essas idéias universalistas, absurdas, ao próprio movimento integralista, recordando, com indignação, que um dos chefes teuto-brasileiros do extinto partido teria exclamado, em discurso em Blumenau: ‘Na época de completa fraternização de toda a família brasileira num Estado integral, não haverá mais diferenças de raça e de cor’. Para nós, um dos pontos simpáticos e essencialmente brasileiros do programa daquele movimento. Para o geógrafo Maack: ‘heresia das heresias’. Os homens de raça e de cultura germânica, sob a orientação nazista, não se submeteriam nunca a semelhante confraternização de raças e de costumes, dentro das tradições portuguesas que se tornaram estruturais para o desenvolvimento brasileiro.”
Não custa lembrar, ademais, que Plínio Salgado, como bem observa Hélio Rocha em seu livro “Integralismo é Totalitarismo?”, de 1950, “foi o primeiro jornalista sul-americano que rompeu fogo contra o Nazismo” e também o primeiro intelectual e homem de ação do País a fazer uma denúncia de peso contra esse movimento racista, em sua “Carta de Natal e Fim de Ano”, de 1935, sendo em razão disto e de suas idéias profundamente cristãs, democráticas e, portanto, antiracistas e antitotalitárias, seus livros proibidos de circular na Alemanha de Hitler.
Dentre os integralistas negros – inúmeros, como podemos ver através de centenas de fotografias – incluem-se o líder negro, ex-senador, teatrólogo, ator, escritor, artista plástico e professor Abdias do Nascimento, o “Almirante Negro” João Cândido, o sociólogo Guerreiro Ramos, o ativista negro e escritor Sebastião Rodrigues Alves e o jornalista, escritor, advogado, professor e militante negro Ironides Rodrigues, que assinou durante anos uma excelente coluna sobre cinema no jornal integralista “A Marcha”.
João Cândido Felisberto, líder da chamada Revolta da Chibata e símbolo da luta não apenas do negro, mas de toda a classe trabalhadora deste País, aderiu ao Integralismo no ano de 1933, tornando-se amigo de Plínio Salgado e presidente do núcleo integralista da Gamboa, no Rio de Janeiro. Em 1968, no longo depoimento que concedeu ao Museu da Imagem e do Som, declarou a amizade para com o fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB) e o orgulho de haver feito parte daquele formidável movimento cívico-político, onde, segundo ele, “era muito bem tratado, como chefe.”
No livro “Memórias do Exílio”, de autoria coletiva, Abdias do Nascimento declara que os temas que o “atraíram para as fileiras integralistas” foram “as lutas nacionalistas e anti-imperialistas” – fato que, como observa Rubem Nogueira em sua monumental obra “O Homem e o Muro”, só causa espanto àqueles que jamais leram sequer um dos inúmeros livros de orientação doutrinária de Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Tasso da Silveira, Olbiano de Mello, Victor Pujol, Hélio Vianna, Olympio Mourão Filho, Custódio de Viveiros, Madeira de Freitas, Ovídio da Cunha, Jayme Ferreira da Silva, Osvaldo Gouvêa e outros, obras em que se condensa o pensamento do Integralismo, movimento que sempre professou a teoria do engrandecimento da nação brasileira, opondo-se, portanto, a todo tipo de imperialismo.
Abdias qualifica o tempo em que militou na AIB como “etapa importante de minha vida” e prossegue recordando que “no Integralismo foi onde pela primeira vez comecei a entender a realidade social, econômica e política do país e as implicações internacionais que o envolviam.”
Prossegue o idealizador e realizador do Teatro Experimental do Negro frisando que “a juventude integralista estudava muito e com seriedade. Encontrei e conheci pessoas de primeira qualidade como um San Thiago Dantas, Gerardo Mello Mourão ou Roland Corbisier; assim como um Rômulo de Almeida, Lauro Escorel, Jaime de Azevedo Rodrigues, o bravo embaixador brasileiro num país europeu que se demitiu da carreira após o golpe militar de 1964; ou ainda Dom Hélder Câmara, Ernani da Silva Bruno, Antônio Galloti, Mazzei Guimarães e muitos outros. Conheci bem de perto o chefe integralista Plínio Salgado, de quem em certa época fui amigo.”
Anos mais tarde, quando acontecia a II Guerra Mundial e Abdias do Nascimento e seu Comitê Democrático Afro-Brasileiro costumavam reunir-se na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), os comunistas passaram a usar o passado integralista de Abdias como um “slogan de confrontação”, chegando a, certa feita, exigir de sua parte uma retratação pública.
Abdias, porém, como “homem honrado e de coragem moral”, no dizer de Rubem Nogueira, negou-se a renegar o passado integralista, pois “não tinha nada a declarar naquela espécie de autocrítica sob coação. Nada havia no meu passado para lamentar ou arrepender. Não me submeteria àquela chantagem.”
Na década de 1930, Abdias do Nascimento militara ao mesmo tempo na Ação Integralista Brasileira (AIB) e na Frente Negra Brasileira (FNB), organizações que - como observa Karin Sant’Anna Kössling em sua dissertação sobre “Os Movimentos Negros: Identidade Étnica e Identidade Política”, datada de 2004 e citada por Márcio José Carneiro em sua tese “Abdias do Nascimento – a trajetória de um negro revoltado” – partilhavam das mesmas concepções sobre o Brasil e o seu povo, obtiveram a atenção dos chamados afro-descendentes de São Paulo e tiveram uma relação bastante intensa, conforme demonstram as notícias veiculadas no periódico integralista “A Acção”, de maio de 1937, que divulgou os eventos em celebração à Abolição realizados pela FNB, que levou palestrantes integralistas às comemorações.
A principal preocupação apresentada pelos editoriais de “A Acção” era, como lembra Kössling, a crítica à lamentável situação social e política decorrente do capitalismo liberal, propondo uma Nova Abolição, “elaborando uma grande força de libertação nacional, de um novo e amplo 13 de maio para o povo brasileiro”; observava-se, com efeito, que o problema de exclusão social que o negro brasileiro vivenciava não configurava algo específico, mas sim mais um dos frutos nefandos do liberal-capitalismo.
A FNB teve como fundador e primeiro presidente o Dr. Arlindo Veiga dos Santos, que foi um dos mais expressivos líderes da Ação Imperial Patrianovista Brasileira, denominação que recebeu a partir de 1935 o movimento monárquico Pátria Nova, assim como amigo de Plínio Salgado, participando de sua Sociedade de Estudos Políticos (SEP), núcleo de grande relevo dedicado à meditação sobre a problemática política e social brasileira fundado oficialmente a 12 de março de 1932 no Salão de Armas do Clube Português, em São Paulo, e de que participaram, além do próprio Plínio Salgado e de Arlindo Veiga dos Santos, outros notáveis intelectuais como Mario Graciotti, Ataliba Nogueira, Fernando Callage, José de Almeida Camargo, Alpinolo Lopes Casale, Antonio de Toledo Piza, Cândido Motta Filho, Iracy Igayara, José Maria Machado, Rui de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Carvalho Pinto, Sebastião Pagano, Mario Zaroni, Leães Sobrinho, João de Oliveira Filho, Eurico Guedes de Araújo, Manoel Pinto da Silva, Lauro Pedroso, Dutra da Silva, Rui Ferreira dos Santos, Goffredo e Ignacio da Silva Telles, Roland Corbisier, Ernani Silva Bruno, Azib Buzaide, James Alvim, Fausto Campos, Eduardo Rossi, Francisco Stela, Gabriel Vendomi de Barros, Pimenta de Castro, Lauro Escorel, Francisco de Almeida Prado, Almeida Salles, Waldir da Silva Prado, Plínio Corrêa de Oliveira e tantos outros não menos ilustres.
O ínclito poeta, livreiro e editor Augusto Frederico Schmidt, amigo pessoal e admirador de Plínio Salgado desde o ano de 1926, quando este publicara o revolucionário e aclamado romance “O Estrangeiro”, acolheu com entusiasmo a Sociedade de Estudos Políticos, logo articulando no Rio um grupo de jovens constituído por Antônio Gallotti, Américo Jacobina Lacombe, Thiers Martins Moreira, Lourival Fontes, Chermont de Miranda e outros, indo freqüentemente à então Capital Federal, para estimular o grupo, Plínio Salgado e San Tiago Dantas, que ora residia em São Paulo, trabalhando ao lado de Plínio no jornal “A Razão”, que revolucionou a imprensa da Capital Bandeirante e mesmo do Brasil e acabaria empastelado nos distúrbios de 23 de maio de 1932.
Voltemos, porém, à FNB. Mantinha ela um periódico informativo intitulado “A Voz da Raça”, que utilizava o cabeçalho “Deus, Pátria, Raça e Família”, em clara analogia ao lema integralista “Deus, Pátria e Família”. Conforme já disse, teve ela uma relação de amizade e colaboração muito intensas com o Integralismo, movimento com o qual tinha em comum, além do nacionalismo e da luta contra o racismo e pela integração do negro na sociedade, o espiritualismo e o combate sem tréguas ao comunismo e ao liberalismo, ambos materialistas e apátridas.
A FNB, fundada em São Paulo a 16 de setembro de 1931, tendo sua sede social central à Rua da Liberdade, reuniu milhares de filiados, estendendo-se a vários Estados brasileiros e tornando-se partido político em 1936, sendo extinta no ano seguinte, juntamente com a AIB e demais partidos e agremiações políticas, pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Encerro aqui este modesto trabalho, esperando de todo coração que ele sirva para conscientizar mais pessoas de que o Integralismo jamais foi um movimento racista ou de inspiração nazista, como afirmam irresponsavelmente diversos livros de ESTÓRIA, inspirando interpretações do Movimento do Sigma tão absurdas quanto as das últimas minisséries e telenovelas da Rede Globo de Televisão. Estou certo de que ele, em que pese sua singeleza, será de grande importância no presente momento, momento em que o Integralismo, praticamente adormecido há decênios, ressurge com força total, reunindo novamente, à sombra da bandeira azul e branca, milhares de pessoas de todos os credos, todas as etnias e todas as classes sociais irmanadas no sonho de libertar o Brasil e seu povo, reconduzindo-os à sua vocação histórica e construindo a Democracia e o Estado integrais.