Monday, May 29, 2006

Uma singela homenagem a Plínio Salgado


Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]


Caso ainda estivesse entre nós, nosso Mestre Plínio Salgado completaria no dia de hoje (22 de janeiro de 2006) cento e onze anos de idade.
Nasce na bucólica e tradicional cidadezinha montanhesa de São Bento do Sapucaí (SP), na fronteira com Minas Gerais, e entrega sua alma àquele que dirige o destino dos povos e dos homens na Capital Paulista a 07/12/75, seguindo para a milícia do além.
Notável pensador, romancista, poeta, historiador, filósofo, sociólogo, orador, jornalista, crítico político e literário, professor, conferencista, parlamentar e líder político, Plínio Salgado é, antes de tudo, um grande cristão, patriota, nacionalista e democrata que combate – como nenhum outro em seu tempo – o nefasto materialismo, representado, de um lado, pelo capitalismo liberal excludente e, de outro, pelo bolchevismo sanguinário, escravizador e ateu, condenando, ademais, os totalitarismos de todos os matizes.
Havendo participado ativamente da Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, Plínio Salgado publica, em 1926, a magistral obra “O Estrangeiro”, primeiro romance social em prosa modernista de nossa Literatura, cuja primeira edição esgota-se em menos de três semanas e que é recebida com enorme entusiasmo por críticos do rigor de Agripino Grieco, que a considera o melhor romance daquele ano, e Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), que afirma ser ela “o romance mais dramático de nosso tempo”; e por escritores como Monteiro Lobato, segundo o qual “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar”, Cassiano Ricardo, que afirma ser Plínio “um Alencar corrigido por um Machado”, Mário de Andrade, que saúda a obra como a mais importante de sua geração, e Jackson de Figueiredo, para quem “O Estrangeiro” é “mesmo nos seus mais aflitivos e cruéis avisos, um livro de esperança e de fé”.
Em seguida a “O Estrangeiro”, Plínio Salgado publica “O Esperado”, sendo estas duas obras consideradas por Wilson Martins como os dois maiores romances escritos na década de 1920 (embora “O Esperado” só fosse publicado em 1931). Por fim, em 1933, é publicado “O Cavaleiro de Itararé”, que fecha com chave de ouro a monumental trilogia que o autor chama de “Crônicas da Vida Brasileira”.
Em 1934 é lançado o magnífico romance histórico “A Voz do Oeste”, que se passa no tempo dos bandeirantes, valoriza nossas origens indígenas e ibéricas e prepara a criação de Brasília, conclamando todos para “a marcha rumo Oeste”, como bem observa Juscelino Kubitschek de Oliveira, aliás grande amigo e admirador de Plínio Salgado, em carta enviada a este no ano de 1974.
Nos planos filosófico e político escreve Plínio Salgado grandes obras como “Psicologia da Revolução” (1934), “A Quarta Humanidade” (1934), “O Conceito Cristão da Democracia” (1945) e “Espírito da Burguesia” (1951).
Em “Psicologia da Revolução”, Plínio disserta sobre as três forças que conduzem a História: as leis da natureza, o livre arbítrio e o Providencialismo; e descreve magistralmente a revolução preconizada pelo Integralismo, revolução esta que principia pela chamada revolução interior, revolução das mentalidades, e termina com a revolução das instituições, com a implantação de uma verdadeira Democracia no País.
Já em “A Quarta Humanidade”, o homem que fundara a Ação Integralista Brasileira e que fundaria, após o fim do Estado Novo, o Partido de Representação Popular (PRP), afirma que a primeira Humanidade foi a Politeísta, a segunda a Monoteísta e a terceira é a Ateísta, após a qual virá a Humanidade Integralista.
"Depois da Humanidade Ateísta virá a Humanidade Integralista.
É a 'quarta humanidade'.
Como um sol que vai nascer, ela já projeta seus primeiros clarões.
Uma nova luz se anuncia no mundo.
É a Atlântida que resurge.
A nova civilização realizará a grande síntese.
Síntese filosófica. Síntese política. Mas, principalmente, síntese das Idades Humanas.
(...) aqui, no Brasil, o homem arguto, cheio dos instintos percucientes que herdou de seus próximos avós selvagens, o "homem telúrico" de Keyserling, plasmado dentro dos puros sentimentos espiritualistas e cristãos, desfralda a bandeira do Sigma. Essa bandeira afirma a suprema síntese e desdobra-se num largo sentido humano e universal."
Em “O Conceito Cristão da Democracia”, sublime conferência que Plínio Salgado realiza em Coimbra a 08 de dezembro de 1944 – glorioso dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, excelsa Padroeira de Portugal e do Brasil – a convite do “Centro Acadêmico de Democracia Cristã”, são expostas as idéias que, durante quinze longos anos de vida pública, orientaram as diretrizes de seus escritos no concernente “aos limites e relações entre os conceitos de ‘autoridade’ e ‘liberdade’, limites cujos lineamentos configuram a verdadeira Democracia Cristã.”
Na obra “Espírito da Burguesia”, Plínio Salgado demonstra que a burguesia não é uma classe, mas sim um estado de espírito que se infiltra em todas as classes sociais e se caracteriza pelo comodismo, pela ostentação, pelo egoísmo e pela preocupação exclusiva pelos bens materiais. Foi desse tenebroso espírito, também chamado de burguesismo, que se originou e sempre se nutriu o comunismo, como ensina o Mestre de todos nós, de modo que a doutrina de Marx e Engels só pode ser eficientemente combatida por meio do combate sem tréguas ao espírito burguês.
Como historiador, Plínio também escreve diversas obras de inegável valor, dentre as quais destaca-se “O Ritmo da História” (1949), onde expõe de forma magistral a marcha dos homens e das nações, observando que quem examina “atentamente o panorama da História, desde os tempos primitivos aos dias que vivemos, notará que a longa crônica dos acontecimentos políticos universais obedece a um ritmo permanente de agregação e de desagregação, de soma e subtração, ora se exprimindo nos lineamentos dos grandes impérios, ora se manifestando no tumulto das mais variadas diferenciações de grupos humanos.”
Na apresentação que faz (na “orelha” do livro) para a 3ª edição de “O Ritmo da História”, Gumercindo Rocha Dorea escreve as seguintes linhas: “As páginas destinadas às novas gerações algum dia se converterão em luzeiros de esclarecimento e de orientação para que se consolide a estrutura de um Brasil mais consciente de seu destino, sobretudo quando elas – as novas gerações – se convencerem de que do Brasil poderá partir a palavra definitiva para a construção da Nova Humanidade, onde a dignidade do ser humano seja devidamente respeitada e onde a liberdade constitua o apanágio dos que lideram os povos dentro da noção máxima de responsabilidade.”
É ainda em “O Ritmo da História” que Plínio Salgado apresenta aos homens de pensamento da Nação a figura e o pensamento de Francisco Elías de Tejada Spínola, brilhante filósofo, historiador e professor de Filosofia do Direito que leciona, ao longo de sua vida, nas Universidades espanholas de Múrcia, Salamanca, Sevilha e Madri.
Em seu extraordinário texto intitulado “Plínio Salgado na Tradição do Brasil”, Francisco Elías de Tejada assim fala do criador do único movimento político-cultural autenticamente brasileiro e ibero-americano de toda a História: “Plinio Salgado, mal se trocavam idéias com ele, aparecia como o profeta incandescente e sublime de seu povo, como a encarnação viva do Brasil melhor. Daí que a sua figura seja inolvidável e me permaneça na memória com a graça de haver conhecido em sua pessoa um dos homens mais geniais com quem em minha vida haja eu deparado. Quem visse Plinio Salgado uma só vez que fosse, não poderia esquecê-lo nunca mais.”
Falemos, agora, do inspirado poeta que é Plínio Salgado. Seu primeiro livro, “Tabor” (1919), constitui, com efeito, uma obra poética. Mas sua maior obra neste gênero é, sem dúvida alguma, o “Poema da Fortaleza de Santa Cruz”, escrito enquanto se encontrava ali preso pela ditadura totalitarizante do Estado Novo de Getúlio Vargas, que o acusava, injustamente, de ser o líder da fracassada revolução que pretendia fazer cair por terra a tirania estadonovista e restaurar a Democracia em nossa Pátria e terminara no fracassado ataque de Belmiro Valverde ao Palácio Guanabara, onde derramam seu precioso sangue, como sabemos, vários jovens camisas-verdes.
É, todavia, no campo das biografias que encontramos aquela que consiste, sem sombra de dúvida, na mais admirável das obras de Plínio Salgado, sendo, como afirma Marco Maciel, no prefácio da 22ª edição brasileira deste livro, “não apenas um clássico da literatura brasileira”, mas sim “um clássico da literatura universal, uma vez que essa obra se coloca entre os livros de primeira grandeza escritos, até hoje, sobre a vida e doutrina do Mestre da Galiléia.
Não seria exagero afirmar-se que dificilmente se encontrará, sobre esse tema, uma obra que a supere em beleza literária, em fidelidade histórica e autenticidade cristã.”
Como o nobre leitor deve ter percebido, falamos da “Vida de Jesus”, “jóia de uma literatura”, no dizer de Padre Leonel Franca, que inscreve Plínio Salgado, segundo Juscelino Kubitschek, “entre as maiores expressões da cristologia”, fazendo dele, nas palavras do Conde de Monsaraz, proeminente integralista lusitano, no belíssimo poema intitulado “Vox Dei”, “um quinto evangelista”. Sobre esta obra afirma o Cardeal Cerejeira: “Falando da ‘Vida de Jesus’, queria confessar que é a mais bela de quantas tenho lido. Tão difícil de escrever, a ‘Vida de Jesus’ de Plínio Salgado é, de fato, a vida de Jesus feita com a inteligência, com a alma e com o coração todo.” A respeito deste mesmo livro, Padre Mondrone, célebre teólogo italiano, apresentando-o na tradução italiana, assim fala: “Esta vida revela a mão do artista autêntico da palavra. Plínio Salgado tem no seu estilo as melhores tradições da literatura portuguesa e a riqueza colorida e ardente do solo de seu País.”
Em 1948, Plínio Salgado participou - a convite de D. Ballester Nieto, Bispo de Vitória posteriormente falecido como Arcebispo de Santiago de Compostela - das Conversações Católicas Internacionais de San Sebastián, na Espanha, ali apresentando um estudo mais tarde publicado sob o título “Direitos e Deveres do Homem”. Foi vitoriosa, ademais, sua orientação no sentido de que o Homem não poderia deixar de ser definido, no anteprojeto de San Sebastián, como um ser feito à imagem e semelhança de Deus, possuindo uma alma espiritual e imortal, dotada de inteligência e livre arbítrio, e devendo encontrar na sociedade civil os meios de cumprir seus deveres e de exercer seus direitos correlativos, de acordo com as finalidades de sua natureza e sua vocação divina.
Candidato à Presidência da República pelo PRP em 1955, enfrentando Juscelino Kubitschek, Juarez Távora e Adhemar de Barros, Plínio Salgado, mesmo sem o apoio de nenhum grupo financeiro ou da máquina eleitoral de um Estado que fosse e diante das absurdas calúnias movidas contra sua pessoa pelos representantes da plutocracia reacionária e do bolchevismo totalitário desde os anos 30, obtém quase 800 mil votos (cerca de 08% do total), saindo-se, aliás, vencedor no Paraná, mesmo Paraná que o elege Deputado Federal em 1958. Mais tarde, se reelege Deputado por São Paulo por três mandatos até que, em 1974, resolve deixar “o lugar para os mais jovens”.
Sua ilustre carreira como tribuno parlamentar tem seu ponto pinacular a 10 de junho de 1965, dia em que o Congresso Nacional celebra o I Centenário da Batalha do Riachuelo e homenageia a Marinha de Guerra do Brasil e Plínio, como orador oficial, profere brilhante discurso lembrado pelo Deputado Oswaldo Zanello (ARENA-ES) na sessão solene realizada a 10 de março de 1976 em memória do ex-Deputado Federal Plínio Salgado, estando presente sua viúva, D. Carmela Patti Salgado, e sendo oradores da Sessão os Deputados Federais Oswaldo Zanello (ARENA-ES), Antônio Henrique Cunha Bueno (ARENA-SP) e Agostinho Rodrigues (ARENA-PR).
O magnífico discurso de Plínio Salgado por ocasião do I Centenário da Batalha do Riachuelo assim terminava:
“Ó marinheiros do Brasil! Soldados do Mar! Quando estive, por motivos políticos, preso na Fortaleza de Santa Cruz, eu escutava o vosso, o nosso mar bater nas pedras e entrar pelas casamatas com ribombos oceânicos.
O Conde de Lippe, nos fins do século XVIII, introduziu, com a reforma do exército português, um costume altamente significativo. Ali, naquela fortaleza, de hora em hora, um sentinela gritava: ‘Sentinela, alerta!’ E outro, nas sombras da noite, com a cabeça coroada pelas estrelas, respondia: ‘Alerta estou!’
Sejam estas palavras a minha suprema homenagem, no centenário da Batalha do Riachuelo, às Três Forças Armadas do Brasil, e, no particular, à nossa Marinha de Guerra, para que, gritando ‘Sentinela, alerta!’ cada brasileiro, em cada rincão de nossa Pátria, se sinta, pela defesa da liberdade, da democracia, da soberania, da honra e da dignidade do Brasil, com a responsabilidade de responder: ‘Alerta estou!’”
Antes de terminar este pequeno texto, mister se faz lembrar os dois mais famosos manifestos de autoria de Plínio Salgado. No primeiro deles, o Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, de 1931, Plínio deixa bem claro que “não devemos transplantar para o Brasil, nem comunismo, nem fascismo, nem outros sistemas exóticos.” Já no segundo - o tão importante e hoje, lamentavelmente, pouco conhecido Manifesto de 07 Outubro de 1932 - são estabelecidas de maneira brilhante os fundamentos da Ação Integralista Brasileira, fundamentos originados, sobretudo, nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nos textos de autores como Alberto Torres, Farias Brito, Jackson de Figueiredo, Oliveira Vianna, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Tavares Bastos e Calógeras.
Cumpre sublinhar ainda que Plínio Salgado, ao contrário do que afirmam inúmeras pessoas mentirosas ou ignorantes, jamais foi um anti-semita, antes muito pelo contrário, havendo afirmado certa vez que “Não podemos querer hoje mal ao judeu, pelo fato de ser o principal detentor do ouro, portanto principal responsável pela balbúrdia econômico-financeira que atormenta os povos, especialmente os semicoloniais como nós, da América do Sul. O judeu-capitalista é igual ao cristão-capitalista. (...) Ambos não terão mais razão de ser porque a humanidade se libertará da escravidão dos juros e do latrocínio do jogo das Bolsas e das manobras banqueiristas. A animosidade contra os judeus é, além do mais, anticristã e, como tal, até condenada pelo próprio catolicismo. A guerra que se fez a essa raça na Alemanha, foi, nos seus exageros, inspirada pelo paganismo e pelo preconceito de raça. O problema do mundo é ético e não étnico."
Hoje, cento e onze anos após o nascimento de nosso Mestre e trinta anos após sua partida deste Mundo, vemos sua invulgar obra literária ser ocultada, sua igualmente valiosa obra filosófica e política e mesmo sua figura serem deturpadas e atacadas por pessoas que, nas mais das vezes, sequer as conhecem.
As perseguições e calúnias de que somos vítimas, por levar adiante os ensinamentos de Plínio Salgado, só não constituem exemplo único em toda a História porque podem ser comparadas àquelas de que foram vítimas Jesus Cristo e os primeiros cristãos.
Mas nos resta o consolo de saber que um dia a Verdade sobre Plínio Salgado será restaurada e de ter a certeza de que, como disse Juscelino Kubitschek, “seu nome vai perpetuar-se como um símbolo iluminando o futuro”.
Seja esta minha singela homenagem a Plínio Salgado, sobre quem Manoel Vítor - o renomado escritor, radialista, professor, conferencista, bacharel em Direito, parlamentar e pensador católico que dirigiu por quase quarenta anos o conhecido programa radiofônico “Hora da Ave Maria” - afirmou que “Se uma cabeça havia que centralizasse em si mesma o desejo de cimentar um círculo em torno da tríade – Deus, Pátria e Família, essa foi a desse pensador ilustre que arrebatava multidões na mocidade e serenava a ânsia dos intelectuais com o ouro de sua pena.”

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