Sunday, August 20, 2006

O Falangismo e José Antonio Primo de Rivera

Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]

O Falangismo, movimento político patriótico, nacionalista e espiritualista que combate o separatismo, o capitalismo liberal, a partidocracia e o bolchevismo, surge na Espanha em 1933, com a fundação da Falange Española (FE) por José Antonio Primo de Rivera, insigne advogado de profunda consciência de justiça social, político e filho de Don Miguel Primo de Rivera, ditador de Espanha na década de 1920. Em oposição à II República Espanhola, que, implantada em 1931, só gerara a desordem, com o crescente avanço dos extremistas de “esquerda” e o recrudescimento da violência, do terror vermelho e da ameaça de desagregação do país, os falangistas pregam uma Pátria una, forte, grande e livre, propugnando o estabelecimento de uma nova ordem política, econômica e social dirigida por um Estado organicamente estruturado.
O distintivo da Falange – o jugo e as cinco flechas enfeixadas que compunham o símbolo dos Reis Católicos – foi proposto pelo célebre escritor Rafael Sánchez Mazas, que também cunhou o grito ritual de “¡Arriba España!”, compôs, em fevereiro de 1934, a famosíssima “Oración por los muertos de la Falange” e que, em dezembro de 1935, escreveu, juntamente com José Antonio Primo de Rivera, Agustín de Foxá, Pedro Mourlane Michelena, Jacinto Miquelarena, Dionisio Ridruejo e José María Alfaro, a letra de “Cara al Sol”, canção que converter-se-ia em hino da Falange. O lema dos falangistas, por seu turno, é “Patria, Justicia y Pán”.
No ano de 1934, as Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalistas (JONS) de Ramiro de Ledesma e Onésimo Redondo fundiram-se à Falange.
É bastante comum a afirmação de que a Falange Española constitui um movimento “fascista”. Ora, tal afirmação é, a meu ver, incorreta, na medida em que o Fascismo consiste num fenômeno político tipicamente italiano, não sendo possível, destarte, considerar todos os movimentos caracterizados sobretudo pelo nacionalismo e pelo espiritualismo como “fascistas”, como fizeram, aliás, pensadores do nível de um Gustavo Barroso e de um Miguel Reale, para citar somente alguns.
Em que pese, com efeito, a existência de determinados pontos de contato entre o Falangismo e outros movimentos políticos patrióticos e nacionalistas do tempo em que surgiu, como, por exemplo, o Fascismo de Mussolini, o sadio ideário político de José Antonio Primo de Rivera e da ampla maioria dos falangistas é fundado em motivação autenticamente espanhola, nele podendo notar-se, inclusive, alguma influência do pensamento filosófico de Ortega y Gasset, além, é claro, de uma profunda influência da Doutrina da Igreja. Ademais, José Antonio Primo de Rivera afirmou por várias vezes que o Fascismo não constituía uma solução válida para a Espanha.
Mais preocupada com a qualidade de seus adeptos do que com a quantidade, a Falange rapidamente reuniu, ainda assim, centenas de jovens preocupados em salvar a Espanha e reconduzi-la à sua vocação histórica.
Durante algum tempo, muitos consideraram a Falange como sendo uma ridícula minoria, enquanto outros a julgavam mesmo criminosa. Com o “Alzamiento”, todavia, tudo se esclareceu, como observa Paulo Fleming em seu livro “Franco”: “eles encarnavam a Pátria no instante que antecedeu à revolução; constituíam a verdadeira maioria que não se traduz por números, mas sim, pelo valor moral, pela fé depositada nos destinos da Pátria.”
Quando, a 18 de julho de 1936, teve início a Revolução Nacional, ou "Alzamiento", ou Cruzada Espanhola, os moços que se reuniam à sombra da bandeira do jugo e das flechas enfeixadas, secundados pelos Requetés, pelos monarquistas e tradicionalistas, foram não somente os voluntários de primeira hora, mas acima de tudo a força decisiva que, agindo no seio das multidões, contagiou o povo espanhol com a coragem, o entusiasmo, a confiança e a inabalável certeza do triunfo inexorável da Pátria de Cervantes sobre seus inimigos, da Civilização contra a barbárie bolchevista, de Cristo Rei sobre Marx, Lênin e Stálin.
Aparentemente dissolvida pelo despótico, tirânico e fraudulento governo de Madri, responsável pela prisão e assassínio de vários de seus membros, a Falange se colocou sob as ordens do Generalíssimo Francisco Franco, combateu os vermelhos com formidável tenacidade e, como já disse, incutiu no povo a certeza da vitória.
Por meio do decreto de unificação de 19 de abril de 1937, o Generalíssimo Francisco Franco, Caudilho de Espanha e da Cruzada, determinou que a Falange Española e a Comunión Tradicionalista dos carlistas constituíssem um único organismo, a Falange Española Tradicionalista y de las JONS, a que aderiram ainda membros da Renovación Española e da Acción Popular. Esta organização, também conhecida, a partir de 1945, como Movimiento Nacional, durou até a morte de Franco, em 1975.
José Antonio Primo de Rivera, preso pelo governo republicano em março de 1936, foi fuzilado pelos vermelhos no pátio da prisão de Alicante a 20 de novembro daquele ano, aos trinta e três de idade, junto a quatro jovens do povoado alicantino de Novelda, apesar das interposições de alguns líderes vermelhos como Manuel Azaña.
Três dias antes, fora o Chefe Nacional da Falange julgado por rebelião militar, assumindo ele próprio a sua defesa, a de seu irmão Miguel e de sua cunhada Margarita Larios.
Sua atuação fora brilhante, de modo que um jornal “esquerdista” alicantino escrevera no dia imediato que “Gesto, voz y palabra se funden en una obra maestra de la oratoria forense, que el público escucha con recogimiento, atención y evidentes signos de interés.”
Explicando ao tribunal que o julgava aquilo que realmente constituía a Falange, revivendo os familiares textos de sua doutrina, observara ele que muitíssimas faces inicialmente hostis se iluminavam, primeiro assombradas e depois com simpatia. Em seus olhos, como lembra o fundador e líder máximo da Falange, em seu magnífico Testamento, datado de 18 de novembro daquele conturbado ano de 1936, parecia estar escrita a seguinte frase: “¡Si hubiésemos sabido que era esto, no estaríamos aquí!” E prossegue José Antonio: “Y, ciertamente, ni hubiéramos estado allí, ni yo ante un Tribunal popular, ni otros matándose por los campos de España. No era ya, sin embargo, la hora de evitar esto, y yo me limité a retribuir la lealtad y la valentía de mis entrañables camaradas, ganando para ellos la atención respetuosa de sus enemigos.”
A despeito de toda a eloqüência de José Antonio, haviam sido os três acusados condenados à morte, sendo que, em razão do apelo do futuro mártir de Espanha e da Europa em favor do irmão e da cunhada, fora a pena destes últimos convertida em reclusão.
Em seu Testamento, deixou ele consubstanciado seu sincero desejo de que fosse o seu o derradeiro sangue espanhol vertido em discórdias civis e de que o povo espanhol, tão rico em qualidades profundas, encontrasse já na paz, a Pátria, o Pão e a Justiça.
Seu último desejo fora o de que limpassem o pátio do cárcere para que seu irmão não tivesse de caminhar sobre seu sangue.
Os restos mortais de José Antonio Primo de Rivera hoje jazem no Valle de los Caídos, monumento erigido por Francisco Franco em memória de todos os que tombaram na Cruzada.
Seu corpo, como observa Paulo Fleming, foi destruído pelos vermelhos, mas seu espírito segue vivo e viverá sempre integrado na História de sua Pátria. É o que diz Giorgio Almirante, o mais conhecido e admirado líder do Movimento Sociale Italiano (MSI) e da chamada “direita” da Itália do final da II Grande Guerra até fins da década de 1980, em sua obra “José Antonio Primo de Rivera”: “José António está vivo conosco e não morrerá conosco; ou seja, a maravilhosa procissão de jovens que durante 400 quilômetros, desde Alicante até ao Escorial, acompanhou os seus restos mortais venerando o seu espírito, continua e continuará: levando às costas - às costas da jovem Espanha, da eterna Espanha, da jovem Europa, da eterna Europa - não o seu corpo e a sua memória, mas sim a sua jovem mensagem, a eterna mensagem de José Antonio.”
O nome deste mártir da grande Espanha e da grande Europa transformou-se em uma bandeira de luta, contribuindo para apressar o inevitável triunfo das forças nacionais sobre as hordas da antipátria e da antinação, consumada a 1° de abril de 1939.
José Antonio Primo de Rivera é para a Espanha aquilo que António Sardinha é para Portugal e que Plínio Salgado é para o Brasil. Como o fundador do Integralismo Lusitano e autor de “Ao Princípio Era o Verbo”, de “A Aliança Peninsular” e de “Ao Ritmo da Ampulheta” e o criador do Integralismo Brasileiro e autor de “Psicologia da Revolução”, de “A Quarta Humanidade” e da “Vida de Jesus”, Primo de Rivera foi um grande doutrinador cristão e nacionalista, um genial condutor de gerações de jovens que vêm acreditando em um ideal sublime e que despertaram na marcha de sua nação rumo ao seu destino histórico, um apóstolo de patriotismo, um arauto de uma Pátria Nova redimida e prestigiada. Seu nome, como o de António Sardinha e o de Plínio Salgado, permanecerá vivo, qual um imenso facho, iluminando o futuro de sua Pátria, que, a partir de suas idéias, um dia renascerá.