Wednesday, August 01, 2007
Gerardo, o Integralismo e a mediocridade do preconceito ideológico
Por Victor Emanuel Vilela Barbuy
Nem bem Gerardo Mello Mourão – o genial poeta da trilogia “Os peãs” e de “Invenção do mar” e igualmente genial romancista de “O valete de espadas” e ensaísta de “A invenção do saber” – deixava este Mundo, na esperança da ressurreição, e jornalistas medíocres já escreviam artigos de uma total parcialidade, na tentativa de denegrir seu nome.
Gerardo é um dos mais conhecidos e respeitados autores brasileiros no exterior, havendo sido indicado ao Prêmio Nobel em 1979 e sido admirado por poetas da envergadura de um Octavio Paz, um Pablo Neruda, um Efrain Tomás Bó, um Michel Deguy e mesmo de um Ezra Pound, para quem o “poeta do País dos Mourões” teria escrito, no seu “poema espantoso”, tudo o que ele, o “Pã de Idaho”[1], teria tentado, debalde, escrever: a “epopéia da América”.
No Brasil, a despeito do ignominioso silêncio de muitos escravos do preconceito ideológico – pessoas do mesmo naipe de Luiz Weis, de Alberto Dines e de todos os demais intelectuais de terceira categoria que repetem as mesmas inverdades caluniosas contra o grande poeta cearense e o Integralismo, movimento que conhecem somente pelo que dele escreveram seus inimigos – Gerardo teve seu valor reconhecido por escritores e críticos literários do porte de Octavio de Faria, José Cândido de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins e Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima).
Logo no princípio de seu tendencioso artigo intitulado “O poeta, o espião e os ‘traços de direita’”[2], Luiz Weis se refere a Plínio Salgado como o “arremedo de Fuhrer” [sic]. Ora, será que ele não sabe que Plínio Salgado - um de nossos maiores pensadores e escritores, autor de obras como “O estrangeiro”, romance social tão elogiado por literatos e críticos literários do quilate de Monteiro Lobato, Cassiano Ricardo, Andrade Muricy, Afrânio Peixoto, Menotti Del Picchia, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, José Américo de Almeida, Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde e Wilson Martins, dentre outros, e a mundialmente reconhecida “Vida de Jesus” que Pe. Leonel Franca bem chamou a “jóia de uma literatura” – foi pioneiro na condenação ao nazismo, como bem lembrou o próprio Gerardo em seu monumental artigo “Quem tem medo de Plínio Salgado?”[3], tendo sido o autor da “Carta de Natal e Fim de Ano”, de 1935, e de inúmeros artigos contrários ao nazismo e ao racismo.
Falando em racismo, é importante lembrar que a Ação Integralista Brasileira contou com milhares de negros em suas fileiras, inclusive em posições de liderança. Dentre estes inúmeros Integralistas negros, podemos citar figuras como João Cândido, Abdias do Nascimento (aliás grande amigo de Gerardo), Guerreiro Ramos, Sebastião Rodrigues Alves e Ironides Rodrigues. O Integralismo contou ainda com a admiração e o apoio do vigoroso poeta e pensador tradicionalista Arlindo Veiga dos Santos, fundador e líder da Frente Negra Brasileira e da Ação Imperial Patrianovista.
Muitos judeus também pertenceram ao Movimento do Sigma. Dentre estes, destaco Roberto Simonsen, Adam Steinberg e Aben-Atar Neto, este último fundador do Centro Oswaldo Spengler, Chefe do Departamento Universitário e mais tarde Secretário Provincial de Propaganda do Integralismo no Rio de Janeiro, além de amigo de Gerardo, que muito o admirava.
Enganam-se aqueles que – como Weis – afirmam ser o Integralismo mera cópia do fascismo italiano, uma vez que o Integralismo, diversamente do movimento do “Fascio”, se inspira sobretudo nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e no pensamento de autores como Jackson de Figueiredo, Farias Brito, Alberto Torres, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna, Oliveira Lima, Pandiá Calógeras e Tavares Bastos, e, ao contrário da ala do fascismo que acabou prevalecendo – a de Benito Mussolini e Alfredo Rocco – condena o cesarismo e o Estado Totalitário de inspiração hegeliana, aos quais opõe, respectivamente, a Democracia Integral e o Estado Integral.
Concordo com Weis em ao menos um aspecto: o necrológio do poeta ipueirense publicado na “Folha de S. Paulo” poderia falar mais a respeito do Integralismo.
Com Alberto Dines – que saiu em defesa do colega em um artigo tão tendencioso quanto o seu, no que toca o Integralismo, intitulado “’Traços de direita’ e evidências de tribalismo”[3] - concordo não apenas a respeito do necrológio, como também no que tange à genialidade poética de Mello Mourão, ao fato de o Integralismo ter deixado profundas marcas nas elites civil e militar do País – marcas que considero positivas e só perigosas aos inimigos da Pátria – e ao fato de outros jornais terem dado destaque aquém do devido à obra literária de Gerardo em seus necrológios, em razão de haver sido ele funcionário da “Folha”.
O necrológio de Gerardo poderia falar da relevância que teve o Integralismo, considerado o primeiro movimento cívico-político de amplitude nacional e, ainda, o primeiro “movimento de massas” do País, contando – de acordo com o “Monitor Integralista” de 07 de outubro de 1937 – com 1.352.000 inscritos, distribuídos em 3.600 núcleos.
Poderia, ainda, o necrológio do gênio de Ipueiras publicado pelo jornal de que foi correspondente na distante e misteriosa China, falar da importância, no plano intelectual, dos Integralistas e do Integralismo, movimento a que Gerardo se referiu, recentemente, como o “mais fascinante grupo da inteligência do País”.
A “Folha de S. Paulo” poderia ter citado ao menos alguns dos cerca de mil intelectuais de relevo que vestiram a camisa-verde, como Miguel Reale, Gustavo Barroso, San Tiago Dantas, Olbiano de Mello, Madeira de Freitas, Adonias Filho, Câmara Cascudo, Goffredo e Ignacio da Silva Telles, Ribeiro Couto, Herbert Parentes Fortes, Alfredo Buzaid, Hélio Vianna, Antônio Gallotti, Américo Jacobina Lacombe, Thiers Martins Moreira, Rosalina Coelho Lisboa, Rubem Nogueira, Pe. Hélder Câmara, Ernani Silva Bruno, Rui de Arruda Camargo, Mario Graciotti, Roland e Margarida Corbisier, Mazzei Gumarães, Leães Sobrinho, Ítalo Galli, Jorge Lacerda, Anor Butler Maciel, Damiano Gullo, Wolfram Metzler, Amaro Lanari, Jayme Regalo Pereira, Mansueto Bernardi, Lauro Escorel, Lopes Casali, Francisco de Almeida Prado, Antônio Toledo Piza, Euro Brandão, Ubirajara Índio do Ceará, Raymundo Padilha, José Loureiro Júnior, Raimundo Barbosa Lima, Belisário Penna, João Carlos Fairbanks, Alcibíades Delamare, José Lins do Rego, Jayme Ferreira da Silva, Lúcio José dos Santos, Alberto Cotrim Neto, Adib Casseb, Félix Contreiras Rodrigues, Vicente do Rego Monteiro, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Paulo Fleming, Francisco Karam, Mayrink e Dantas Mota, este último considerado por Carlos Drummond de Andrade como o maior poeta de Minas, além, é claro, de Plínio Salgado e de Gerardo, que o mesmo Drummond considerava o maior poeta do Brasil.
Além dos cerca de mil intelectuais de projeção que fizeram parte da Ação Integralista Brasileira, temos ainda outros, pertencentes à segunda geração dos que atenderam ao chamado de Plínio Salgado, tais como Hélio Rocha, Gumercindo Rocha Dorea, Augusta Garcia Rocha Dorea, Genésio Pereira Filho, Ronaldo Moreira, Silveira Neto, Dídimo Paiva, Antônio Pires, Acacio Vaz de Lima Filho e José Baptista de Carvalho, sem falar no Senador Marco Maciel, que fez parte do chamado movimento Águia Branca e também escreveu o belíssimo prefácio à 22ª edição da “Vida de Jesus” de Plínio Salgado.
Weis, em seu artigo já citado, chama de infame Gustavo Barroso, um de nossos mais notáveis escritores, contistas, cronistas, ensaístas, folcloristas, historiadores e jornalistas. Chama de infame o autor de “Terra de Sol”, o fundador do Museu Histórico Nacional, o idealizador do Regimento dos Dragões da Independência, o Imortal que presidiu por mais uma vez a Academia Brasileira de Letras, o homem que Câmara Cascudo considerava o “Mestre incontestável do folclore brasileiro”...
Weis afirma que era nazista o autor de “Brasil – colônia de banqueiros”, o mais corajoso libelo jamais lançado neste País contra o capitalismo explorador, inimigo figadal de nossa Pátria e de nosso Povo. Ora, como pode ser nazista alguém que nunca deixou de sublinhar as diferenças existentes entre a Doutrina do Sigma e a da Cruz Gamada, defendendo, inclusive, que o nacional-socialismo poderia evoluir para o Integralismo, desde que se livrasse das idéias racistas e da concepção totalitária de Estado?
Weis acusa Olympio Mourão Filho e a Ação Integralista Brasileira de estarem por trás da farsa do “Plano Cohen”, que serviu de pretexto à implantação do Estado Novo. Na verdade – como ficou provado diante do Conselho de Justificação do Exército – Mourão Filho não teve culpa alguma da divulgação do conteúdo do documento por ele escrito pelo General Góis Monteiro, que dele se apoderara sem o conhecimento do futuro “general do pijama vermelho”. E o documento em questão – que tinha a finalidade de servir para o estudo de métodos revolucionários, era inspirado sobretudo em uma matéria de uma revista espanhola e fora rejeitado por Plínio Salgado, que o considerara por demais fantasioso – levava a assinatura de Cohen em razão de Bela Khun, o tristemente famoso tirano vermelho de Budapeste, uma vez que, segundo Gustavo Barroso, Khun seria uma corruptela de Cohen[5].
Dines – no artigo em apoio a Weis a que anteriormente me referi – fala dos Integralistas que teriam sido espiões a serviço da Alemanha de Hitler, mas, curiosamente, não faz referência alguma aos vários marinheiros Integralistas que afundaram nos navios brasileiros torpedeados pelos submarinos alemães e aos igualmente numerosos soldados Integralistas que tombaram nos campos e colinas da Itália.
O fecundo editor, escritor e jornalista Gumercindo Rocha Dorea – amigo e companheiro de ideais de Gerardo Mello Mourão, de quem publicou a maior parte dos livros – no último parágrafo da significativa orelha da 2ª edição de “O Brasil na lenda e na cartografia antiga”, de Gustavo Barroso, observa que:
“Como diz Nelson Pereira dos Santos, a propósito do autor de ‘Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira’ (Gilberto Freyre), e que aqui estendemos aos citados acima [Vicente do Rego Monteiro, Madeira de Freitas, Belisário Penna, Câmara Cascudo e Gustavo Barroso], os seus desafetos vão – ou já foram – ‘parar no esgoto da história’, enquanto eles continuam atuais...”
Havendo me estendido além do que me cabia, dou por concluído este tão singelo artigo, na absoluta certeza de que Gerardo será sempre lembrado como um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e como um dos mais brilhantes romancistas e ensaístas do Brasil, enquanto seus detratores, esses escravos do preconceito ideológico, sairão da vida para entrar no “esgoto da história”, ou – para empregar a expressão de Lênin – na “lata de lixo da história”.
NOTAS
[1] A expressão “Pã de Idaho” é de Gerardo Mello Mourão.
[2] O referido artigo foi publicado no “blog” “Verbo Solto”.
[3] O artigo em questão foi publicado na “Folha de S. Paulo” a 03/05/1995.
[4] O texto de Dines está disponível em seu “blog”, o “Circo da Notícia”.
[5] A respeito do “Plano Cohen”, recomendo a leitura de “O homem e o muro”, de Rubem Nogueira, “A ameaça vermelha – o Plano Cohen”, de Hélio Silva, “Memórias – a verdade de um revolucionário”, de Olympio Mourão Filho, e de “História das revoluções brasileiras”, de Glauco Carneiro.
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