Wednesday, August 29, 2007

Heraldo Barbuy e "O Beco da Cachaça"


Por Victor Emanuel Vilela Barbuy


As novas gerações infelizmente não conhecem esse brilhante professor, pensador, filósofo, sociólogo, historiador, jornalista, tradutor, conferencista e orador que foi Heraldo Barbuy.
Nasceu em São Paulo, no ano de 1913, filho de Hermógenes Barbuy e de Maria Chinaglia Barbuy, aquele que, como observou Gilberto de Mello Kujawsky, foi sempre fiel ao nome, que significa arauto, posto que jamais “deixou de ser o portador da palavra, e do poder espiritual da palavra. Não da palavra oca e sonora, e sim da palavra repassada de pensamento e sentido, ‘logos’”[1]. O autor de “Fernando Pessoa, o outro” – que se considera devedor de Barbuy pela revelação que fez, a ele e a tantos outros, “da vida como missão de grandeza, da cultura como criadora de sentido, da história como fonte da realidade, da poesia e da mística como iniciação ao êxtase”[2] – evocou o “assombroso poder verbal” com que Heraldo Barbuy “familiarizava imediatamente os ouvintes com os temas que focalizava na sala de aula, no salão de conferências, no rádio (onde apareceu amiúde durante algum tempo), na televisão (onde apareceu algumas vezes com enorme sucesso), ou na simples conversa entre amigos”[3].
Heraldo Barbuy foi – no dizer de Paulo Bomfim, o inspirado poeta da Terra Bandeirante – um “cruzeiro estelar” que “guiou a todos através do mar tenebroso destes dias”. A seu lado, o autor de “Armorial” e muitos outros contornaram o “Cabo das Tormentas” e rumaram “para as Índias secretas do pensamento e da beleza”. Barbuy, “último cruzado num mundo onde os homens se mecanizam e as máquinas se espiritualizam”, conduzido, como lembra o autor de “Antônio triste”, pelas “paixões e por sua vontade de acertar, caminhou da trapa ao ceticismo, do ceticismo a São Tomás, de Santo Tomás a Heidegger”[4].
Barbuy – aquele “homem da ‘Floresta Negra’, ser cósmico” que rumou "para a morte lendo Novalis, Hoelderlin e Rilke, ouvindo Beethoven, Wagner, Richard Strauss e Carl Orff”, ainda no dizer do poeta de “Transfiguração”[5] – escreveu ensaios filosóficos fundamentais como “O problema do ser” (1950) e “Marxismo e Religião” (1963). Nesta última obra, demonstrou o Mestre que o marxismo constitui, antes e acima de tudo, uma heresia do Cristianismo, sendo a concepção marxista do Homem não mais do que “a degenerescência da concepção cristã do Homem”[6].
Aquela “personalidade marcante de fulgurante inteligência e de soberbas virtudes humanas”, no dizer do pensador humanista Jessy Santos, aquele que foi, ainda segundo Jessy, um “católico fervoroso”, “um homem religioso no sentido mais autêntico do termo” e “um pai de família extremado em zelos”[7], proferiu dezenas de magníficas conferências e foi um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Filosofia, colaborando na “Revista Brasileira de Filosofia”, de cujo conselho de redação foi membro. Colaborou também na revista e no jornal “Reconquista”, periódicos tradicionalistas dirigidos respectivamente por José Pedro Galvão de Sousa e Clovis Lema Garcia, em revistas como “Clima”, “Diálogo”, “Convivium” e “Problemas Brasileiros” e em jornais como “Correio Paulistano”, “O Estado de S. Paulo”, “Folha da Manhã” e “A Gazeta”.
A obra de Heraldo Barbuy, como lembrou o Prof. José Pedro Galvão de Sousa – o maior pensador tradicionalista do Brasil ao lado de Plínio Salgado, na abalizada opinião de Francisco Elías de Tejada y Spínola[8] – “ficou muito longe de esgotar o tesouro das reflexões que ao longo dos anos ele foi acumulando sobre os grandes problemas da existência e do destino do homem”, sendo que “os que tiveram a ventura de conhecê-lo de perto e de privar de seu convívio bem sabem quanto o conteúdo do seu riquíssimo mundo interior ultrapassou a dimensão dos escritos legados por ele à posteridade”[9]. O mesmo foi observado pelo saudoso e inolvidável Prof. Miguel Reale, na ocasião em que estive em sua casa.
Como professor, Heraldo Barbuy lecionou nos colégios Bandeirantes, Pan-americano e Rio Branco, na Faculdade de Filosofia Sedes Sapientiae, na Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo e na Fundação Armando Álvares Penteado. No Colégio Rio Branco, foi professor de Gilberto de Mello Kujawsky, de Paulo Bomfim, Antônio Ermírio de Moraes e de outras ilustres personalidades, incluindo a pessoa com quem se casou, a filósofa e professora universitária Belkiss Silveira Barbuy, autora de “Nietzsche e o Cristianismo”.
Dentre os amigos de Barbuy que freqüentavam sua casa na Rua Groenlândia, destaco o magno filósofo Vicente Ferreira da Silva, maior intérprete de Heidegger no Brasil, sua esposa Dora Ferreira da Silva, poetisa e tradutora de Hölderlin, Rilke e Jung, a irmã desta, Diva de Toledo Piza, espírito profundo, amiga e tradutora de Julián Marías, Mílton Vargas, engenheiro, filósofo e tradutor de grandes poetas de língua inglesa, o filósofo helenista e germanista português Eudoro de Sousa, o pensador e poeta Mário Chamie, o filósofo e teólogo Adolpho Crippa, admirador de Vicente Ferreira da Silva e fundador da revista “Convivium”, os já citados José Pedro Galvão de Sousa, Paulo Bomfim, Gilberto de Mello Kujawsky e Jessy Santos, o romanista Alexandre Augusto de Castro Correa, o filósofo hegeliano Renato Cirell Czerna e tantos outros não menos ilustres.
A primeira obra escrita por Heraldo Barbuy foi o romance “O Beco da Cachaça”, publicado em 1936, quando o autor tinha apenas vinte e três anos de idade.
“O Beco da Cachaça” é – como foi observado por Zélia Ladeira Veras de Almeida Cardoso – “uma obra saudosista”, que mescla “um tom romântico de influência hugoana a vago sabor decadentista, próprio dos textos do início do século”[10].
É em razão de seu tom romântico, influenciado sobretudo por Victor Hugo, que “O Beco da Cachaça” constitui – como notou Maria Lúcia Silveira Rangel – “um livro singular”, muito diverso dos livros de seu tempo, tempo dos escritores “da Semana de 1922 e dos autores regionalistas da década de trinta”[11].
Heraldo Barbuy descreve, em “O Beco da Cachaça” – “preito de um triste a todos os tristes, que na partilha dos bens da Vida, de seu tiveram apenas a derrota e o desespero” – aquela provinciana São Paulo, “triste e encolhida à beira de um riacho sem ondas, embalada à meia luz de lampiões fumegantes, pela viola dos seus trovadores, sacudida à meia noite pelo canto dos seus escravos, oculta sob a grossura de suas baetas, envolta sob o manto da sua neblina eterna, ajoelhada no silêncio das suas igrejas, encantada pela alegria ingênua dos seus domingos festivos, meditativa e grave na sombria austeridade de todos os seus dias”[12].
Em seu “romance de costumes paulistas” do século XIX, Heraldo, “num belo estilo romântico de ressonâncias hugoanas” – como lembrou Belkiss Silveira Barbuy – “narra as vidas interligadas de um velho filósofo e de um jovem e atormentado monge, ambos projeções de sua personalidade básica”[13].
O velho filósofo é Cintra, homem de extraordinária cultura, “a Enciclopédia, a Sabedoria, o dicionário, o orador do beco da Cachaça, o chefe do clube dos Sete”, grupo famoso que se dizia representante dos sete pecados capitais e se arvorava em “Associação Secreta dos Amigos dos Escravos” num tempo em que ainda faltava muito para a Lei Áurea[14].
E o jovem monge, Frei Amaro, - o corcunda, nascido Jacques Godart de Luciis em Paris, filho do gentil-homem italiano Rolando de Luciis e da bela parisiense Brunhilde Louise Godart, filha de “pacatos e ricos burgueses” – é aquele que ao mesmo tempo ama e odeia a formosa Ara, a “menina do livrinho de missa”, filha do poderoso Conde de Alvyllar, assassino de sua mãe.
Frei Amaro, que deveria celebrar o casamento da jovem Ara, a fere mortalmente com um punhal, e no instante seguinte cai também, fulminado pela dor e pelo arrependimento, tendo olhado para a imagem do Cristo que parecia se despregar da cruz e acusar: “Eu fui vestido com a túnica dos loucos e entretanto perdoei! Tu foste vestido com a minha túnica e entretanto te vingas!”[15]
O Beco da Cachaça, em parte um trecho da atual Rua da Quitanda, era, ao tempo descrito por Barbuy, “viela estreita e comunicação escusa da rua do Comércio para a rua da Imperatriz, ao sul do Chafariz do Tebas, ao norte do beco do Inferno, seu irmão mais calmo”. O Beco da Cachaça, “tresudando vinho e fumaça por todos os interstícios desempenhava a função social de indispor entre si as taberneiras e ser, nas suas noites serenas, o teatro das disputas líricas, das dissenções políticas, de todas as lutas permanentes dessa mocidade estudantina cheia de Voltaire e Diderot; dessa mocidade que foi companheira de Castro Alves e Álvares de Azevedo”[16].
Ao esgotar-se a primeira edição de seu dramático e bem escrito romance, Barbuy não permitiu sua reedição, considerando aquela obra – como lembrou Raimundo de Menezes[17] – nada mais do que uma manifestação de extemporâneo lirismo. Mas penso, como Zélia Cardoso, que foi esta, sem sombra de dúvida, “uma auto-crítica rigorosa demais, pois que ‘O Beco da Cachaça’ tem, evidentemente, seu mérito”[18].


[1]Gilberto de Mello Kujawsky, “Heraldo Barbuy e sua maestria cultural”, in Heraldo Barbuy, “O problema do ser e outros ensaios”, São Paulo, Convívio/Ed. da Universidade de São Paulo, 1984, p. XIII.
[2]Idem, “Heraldo Barbuy”, artigo publicado no “Jornal da Tarde” a 19 de janeiro de 1979.
[3]Idem, “Heraldo Barbuy e sua maestria cultural”, op. cit., p. XII.
[4]Paulo Bomfim, “Heraldo Barbuy”, artigo publicado no “Diário de São Paulo” a 21 de janeiro de 1979 e transcrito em sua obra “Aquele menino” (São Paulo, Editora Green Forest do Brasil, 2000), às pp. 184 e 185.
[5]Idem.
[6]Heraldo Barbuy, “Marxismo e Religião”, 2ª ed., São Paulo, Convívio, 1977, p. 13.
[7]Jessy Santos, “Heraldo Barbuy”, in “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. XXX, fasc. 113, janeiro-fevereiro-março de 1979, p. 3.
[8]Francisco Elías de Tejada, “Plínio Salgado na Tradição do Brasil”, in “Plínio Salgado – ‘In Memoriam’”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985/1986, p. 70.
[9]José Pedro Galvão de Sousa, “Senso comum e senso de mistério”, in “Coleção Tema Atual”, Presença, p. 3. O mesmo texto – um dos mais belos escritos sobre o Prof. Heraldo Barbuy - pode também ser encontrado na “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. XXX, fasc. 116, pp. 375 a 396 e em separata da mesma revista.
[10]Zélia Cardoso, “O romance paulista no século XX”, São Paulo, Academia Paulista de Letras, 1983, p. 80.
[11]Maria Lúcia Silveira Rangel, “Saga das famílias Galante e Silveira”, ed. da autora, São Paulo, p. 62.
[12]Heraldo Barbuy, “O Beco da Cachaça”, São Paulo, Empresa Editora J. Fagundes, 1936, p. 13.
[13]Belkiss Silveira Barbuy, “Heraldo Barbuy – uma apresentação”, in “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. XXX, fasc. 139, julho-agosto-setembro de 1985, p. 293.
[14]Heraldo Barbuy, op. cit., p. 21.
[15]Idem, p. 275.
[16]Idem, pp. 17 e 18.
[17]Raimundo de Menezes, “Dicionário Literário Brasileiro”, 2ª ed., Rio de Janeiro, LTC, 1978, p. 90.
[18]Zélia Cardoso, op. cit., p. 80.

Wednesday, August 01, 2007

Gerardo, o Integralismo e a mediocridade do preconceito ideológico


Por Victor Emanuel Vilela Barbuy

Nem bem Gerardo Mello Mourão – o genial poeta da trilogia “Os peãs” e de “Invenção do mar” e igualmente genial romancista de “O valete de espadas” e ensaísta de “A invenção do saber” – deixava este Mundo, na esperança da ressurreição, e jornalistas medíocres já escreviam artigos de uma total parcialidade, na tentativa de denegrir seu nome.
Gerardo é um dos mais conhecidos e respeitados autores brasileiros no exterior, havendo sido indicado ao Prêmio Nobel em 1979 e sido admirado por poetas da envergadura de um Octavio Paz, um Pablo Neruda, um Efrain Tomás Bó, um Michel Deguy e mesmo de um Ezra Pound, para quem o “poeta do País dos Mourões” teria escrito, no seu “poema espantoso”, tudo o que ele, o “Pã de Idaho”[1], teria tentado, debalde, escrever: a “epopéia da América”.
No Brasil, a despeito do ignominioso silêncio de muitos escravos do preconceito ideológico – pessoas do mesmo naipe de Luiz Weis, de Alberto Dines e de todos os demais intelectuais de terceira categoria que repetem as mesmas inverdades caluniosas contra o grande poeta cearense e o Integralismo, movimento que conhecem somente pelo que dele escreveram seus inimigos – Gerardo teve seu valor reconhecido por escritores e críticos literários do porte de Octavio de Faria, José Cândido de Carvalho, Carlos Drummond de Andrade, Wilson Martins e Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima).
Logo no princípio de seu tendencioso artigo intitulado “O poeta, o espião e os ‘traços de direita’”[2], Luiz Weis se refere a Plínio Salgado como o “arremedo de Fuhrer” [sic]. Ora, será que ele não sabe que Plínio Salgado - um de nossos maiores pensadores e escritores, autor de obras como “O estrangeiro”, romance social tão elogiado por literatos e críticos literários do quilate de Monteiro Lobato, Cassiano Ricardo, Andrade Muricy, Afrânio Peixoto, Menotti Del Picchia, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, José Américo de Almeida, Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde e Wilson Martins, dentre outros, e a mundialmente reconhecida “Vida de Jesus” que Pe. Leonel Franca bem chamou a “jóia de uma literatura” – foi pioneiro na condenação ao nazismo, como bem lembrou o próprio Gerardo em seu monumental artigo “Quem tem medo de Plínio Salgado?”[3], tendo sido o autor da “Carta de Natal e Fim de Ano”, de 1935, e de inúmeros artigos contrários ao nazismo e ao racismo.
Falando em racismo, é importante lembrar que a Ação Integralista Brasileira contou com milhares de negros em suas fileiras, inclusive em posições de liderança. Dentre estes inúmeros Integralistas negros, podemos citar figuras como João Cândido, Abdias do Nascimento (aliás grande amigo de Gerardo), Guerreiro Ramos, Sebastião Rodrigues Alves e Ironides Rodrigues. O Integralismo contou ainda com a admiração e o apoio do vigoroso poeta e pensador tradicionalista Arlindo Veiga dos Santos, fundador e líder da Frente Negra Brasileira e da Ação Imperial Patrianovista.
Muitos judeus também pertenceram ao Movimento do Sigma. Dentre estes, destaco Roberto Simonsen, Adam Steinberg e Aben-Atar Neto, este último fundador do Centro Oswaldo Spengler, Chefe do Departamento Universitário e mais tarde Secretário Provincial de Propaganda do Integralismo no Rio de Janeiro, além de amigo de Gerardo, que muito o admirava.
Enganam-se aqueles que – como Weis – afirmam ser o Integralismo mera cópia do fascismo italiano, uma vez que o Integralismo, diversamente do movimento do “Fascio”, se inspira sobretudo nos ensinamentos perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e no pensamento de autores como Jackson de Figueiredo, Farias Brito, Alberto Torres, Euclides da Cunha, Oliveira Vianna, Oliveira Lima, Pandiá Calógeras e Tavares Bastos, e, ao contrário da ala do fascismo que acabou prevalecendo – a de Benito Mussolini e Alfredo Rocco – condena o cesarismo e o Estado Totalitário de inspiração hegeliana, aos quais opõe, respectivamente, a Democracia Integral e o Estado Integral.
Concordo com Weis em ao menos um aspecto: o necrológio do poeta ipueirense publicado na “Folha de S. Paulo” poderia falar mais a respeito do Integralismo.
Com Alberto Dines – que saiu em defesa do colega em um artigo tão tendencioso quanto o seu, no que toca o Integralismo, intitulado “’Traços de direita’ e evidências de tribalismo”[3] - concordo não apenas a respeito do necrológio, como também no que tange à genialidade poética de Mello Mourão, ao fato de o Integralismo ter deixado profundas marcas nas elites civil e militar do País – marcas que considero positivas e só perigosas aos inimigos da Pátria – e ao fato de outros jornais terem dado destaque aquém do devido à obra literária de Gerardo em seus necrológios, em razão de haver sido ele funcionário da “Folha”.
O necrológio de Gerardo poderia falar da relevância que teve o Integralismo, considerado o primeiro movimento cívico-político de amplitude nacional e, ainda, o primeiro “movimento de massas” do País, contando – de acordo com o “Monitor Integralista” de 07 de outubro de 1937 – com 1.352.000 inscritos, distribuídos em 3.600 núcleos.
Poderia, ainda, o necrológio do gênio de Ipueiras publicado pelo jornal de que foi correspondente na distante e misteriosa China, falar da importância, no plano intelectual, dos Integralistas e do Integralismo, movimento a que Gerardo se referiu, recentemente, como o “mais fascinante grupo da inteligência do País”.
A “Folha de S. Paulo” poderia ter citado ao menos alguns dos cerca de mil intelectuais de relevo que vestiram a camisa-verde, como Miguel Reale, Gustavo Barroso, San Tiago Dantas, Olbiano de Mello, Madeira de Freitas, Adonias Filho, Câmara Cascudo, Goffredo e Ignacio da Silva Telles, Ribeiro Couto, Herbert Parentes Fortes, Alfredo Buzaid, Hélio Vianna, Antônio Gallotti, Américo Jacobina Lacombe, Thiers Martins Moreira, Rosalina Coelho Lisboa, Rubem Nogueira, Pe. Hélder Câmara, Ernani Silva Bruno, Rui de Arruda Camargo, Mario Graciotti, Roland e Margarida Corbisier, Mazzei Gumarães, Leães Sobrinho, Ítalo Galli, Jorge Lacerda, Anor Butler Maciel, Damiano Gullo, Wolfram Metzler, Amaro Lanari, Jayme Regalo Pereira, Mansueto Bernardi, Lauro Escorel, Lopes Casali, Francisco de Almeida Prado, Antônio Toledo Piza, Euro Brandão, Ubirajara Índio do Ceará, Raymundo Padilha, José Loureiro Júnior, Raimundo Barbosa Lima, Belisário Penna, João Carlos Fairbanks, Alcibíades Delamare, José Lins do Rego, Jayme Ferreira da Silva, Lúcio José dos Santos, Alberto Cotrim Neto, Adib Casseb, Félix Contreiras Rodrigues, Vicente do Rego Monteiro, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Vinícius de Moraes, Paulo Fleming, Francisco Karam, Mayrink e Dantas Mota, este último considerado por Carlos Drummond de Andrade como o maior poeta de Minas, além, é claro, de Plínio Salgado e de Gerardo, que o mesmo Drummond considerava o maior poeta do Brasil.
Além dos cerca de mil intelectuais de projeção que fizeram parte da Ação Integralista Brasileira, temos ainda outros, pertencentes à segunda geração dos que atenderam ao chamado de Plínio Salgado, tais como Hélio Rocha, Gumercindo Rocha Dorea, Augusta Garcia Rocha Dorea, Genésio Pereira Filho, Ronaldo Moreira, Silveira Neto, Dídimo Paiva, Antônio Pires, Acacio Vaz de Lima Filho e José Baptista de Carvalho, sem falar no Senador Marco Maciel, que fez parte do chamado movimento Águia Branca e também escreveu o belíssimo prefácio à 22ª edição da “Vida de Jesus” de Plínio Salgado.
Weis, em seu artigo já citado, chama de infame Gustavo Barroso, um de nossos mais notáveis escritores, contistas, cronistas, ensaístas, folcloristas, historiadores e jornalistas. Chama de infame o autor de “Terra de Sol”, o fundador do Museu Histórico Nacional, o idealizador do Regimento dos Dragões da Independência, o Imortal que presidiu por mais uma vez a Academia Brasileira de Letras, o homem que Câmara Cascudo considerava o “Mestre incontestável do folclore brasileiro”...
Weis afirma que era nazista o autor de “Brasil – colônia de banqueiros”, o mais corajoso libelo jamais lançado neste País contra o capitalismo explorador, inimigo figadal de nossa Pátria e de nosso Povo. Ora, como pode ser nazista alguém que nunca deixou de sublinhar as diferenças existentes entre a Doutrina do Sigma e a da Cruz Gamada, defendendo, inclusive, que o nacional-socialismo poderia evoluir para o Integralismo, desde que se livrasse das idéias racistas e da concepção totalitária de Estado?
Weis acusa Olympio Mourão Filho e a Ação Integralista Brasileira de estarem por trás da farsa do “Plano Cohen”, que serviu de pretexto à implantação do Estado Novo. Na verdade – como ficou provado diante do Conselho de Justificação do Exército – Mourão Filho não teve culpa alguma da divulgação do conteúdo do documento por ele escrito pelo General Góis Monteiro, que dele se apoderara sem o conhecimento do futuro “general do pijama vermelho”. E o documento em questão – que tinha a finalidade de servir para o estudo de métodos revolucionários, era inspirado sobretudo em uma matéria de uma revista espanhola e fora rejeitado por Plínio Salgado, que o considerara por demais fantasioso – levava a assinatura de Cohen em razão de Bela Khun, o tristemente famoso tirano vermelho de Budapeste, uma vez que, segundo Gustavo Barroso, Khun seria uma corruptela de Cohen[5].
Dines – no artigo em apoio a Weis a que anteriormente me referi – fala dos Integralistas que teriam sido espiões a serviço da Alemanha de Hitler, mas, curiosamente, não faz referência alguma aos vários marinheiros Integralistas que afundaram nos navios brasileiros torpedeados pelos submarinos alemães e aos igualmente numerosos soldados Integralistas que tombaram nos campos e colinas da Itália.
O fecundo editor, escritor e jornalista Gumercindo Rocha Dorea – amigo e companheiro de ideais de Gerardo Mello Mourão, de quem publicou a maior parte dos livros – no último parágrafo da significativa orelha da 2ª edição de “O Brasil na lenda e na cartografia antiga”, de Gustavo Barroso, observa que:
“Como diz Nelson Pereira dos Santos, a propósito do autor de ‘Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira’ (Gilberto Freyre), e que aqui estendemos aos citados acima [Vicente do Rego Monteiro, Madeira de Freitas, Belisário Penna, Câmara Cascudo e Gustavo Barroso], os seus desafetos vão – ou já foram – ‘parar no esgoto da história’, enquanto eles continuam atuais...”
Havendo me estendido além do que me cabia, dou por concluído este tão singelo artigo, na absoluta certeza de que Gerardo será sempre lembrado como um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e como um dos mais brilhantes romancistas e ensaístas do Brasil, enquanto seus detratores, esses escravos do preconceito ideológico, sairão da vida para entrar no “esgoto da história”, ou – para empregar a expressão de Lênin – na “lata de lixo da história”.



NOTAS

[1] A expressão “Pã de Idaho” é de Gerardo Mello Mourão.
[2] O referido artigo foi publicado no “blog” “Verbo Solto”.
[3] O artigo em questão foi publicado na “Folha de S. Paulo” a 03/05/1995.
[4] O texto de Dines está disponível em seu “blog”, o “Circo da Notícia”.
[5] A respeito do “Plano Cohen”, recomendo a leitura de “O homem e o muro”, de Rubem Nogueira, “A ameaça vermelha – o Plano Cohen”, de Hélio Silva, “Memórias – a verdade de um revolucionário”, de Olympio Mourão Filho, e de “História das revoluções brasileiras”, de Glauco Carneiro.