Thursday, March 07, 2013

Guerra Interior e Revolução Interior


Guerra Interior e Revolução Interior*
Por Victor Emanuel Vilela Barbuy


Cada Homem, cada Ente Humano vive, dentro de si, uma guerra constante, de cujas silenciosas batalhas diárias se sai vencedor ou derrotado. Esta Guerra Interior só termina, com o triunfo ou a derrota final, no momento em que a Alma, o Espírito Imortal se desprende do corpo já inerte, ainda que existam homens totalmente derrotados desde muito antes de exalar o derradeiro suspiro. São estes os mortos que ainda respiram, os fracos que se deixam levar pela correnteza, os infelizes que, segundo Sêneca, padecem do “pior dos males”, que não é senão o de abandonar “o número dos vivos, antes de morrer” [1].

Aquele que consegue derrotar-se a si mesmo nos árduos combates dessa perene guerra contra o próprio eu obtém para si o maior, o mais nobre e o mais belo dos triunfos, sendo mil vezes mais heroico do que o guerreiro capaz de vencer mil inimigos externos, mas não de triunfar sobre o inimigo que há dentro dele. Do mesmo modo, aquele que se deixa derrotar por si próprio sofre a pior e a mais vil e desonrosa derrota. Isto, aliás, já foi dito em obras como o Baghavad Gita, que reúne preleções atribuídas a Krishna, e o Dhammapada, que, segundo a tradição, teria sido composto por Siddharta Gautama, e foi também afirmado, dentre outros, pelo cretense Clínias de Cnossos, no diálogo As Leis, de Platão, e por Demócrito de Abdera. Este último pondera, com efeito, que “não somente é heróico o vencedor dos inimigos, mas também o triunfador dos próprios desejos” [2] e que “vencer-se a si mesmo é a primeira de todas as vitórias”, ao passo que “ser vencido por si mesmo é a mais torpe e a pior cousa” [3]. Já Clínias, havendo observado, no referido diálogo platônico, que “cada um de nós é seu próprio inimigo” [4], salienta que “a vitória sobre o eu é de todas as vitórias a mais gloriosa e a melhor, e a auto-derrota é de todas as derrotas de pronto a pior e a mais vergonhosa, frases que demonstram que uma guerra contra nós mesmos existe em cada um de nós” [5].

A Revolução Interior proposta por Plínio Salgado se configura numa mudança de atitude do Espírito em face dos problemas que lhe são apresentados, numa transmutação integral de valores que, de acordo com o sentido astronômico e tradicional do termo “Revolução”, implica um retorno do Espírito aos princípios – aos únicos verdadeiramente imortais princípios – da Tradição. Tal Revolução, a que também podemos denominar Revolução do Espírito, muda a totalidade dos conceitos, dando um novo e superior sentido de vida, e, na frase de Plínio Salgado, se traduz, antes de mais nada, na autoimposição de “normas de nobreza tanto na vida particular como na vida pública” [6]. Decisiva vitória do Homem em sua Guerra Interior, sendo, a partir dela, mil vezes mais fácil se combater o inimigo que há dentro dele próprio, consiste tal Revolução Espiritual na base da reedificação do Homem Integral, do Homem Novo que não é senão o Homem Tradicional, ou, se preferir, o autêntico Homem Nobre, que, a partir dela, passa a influir no ambiente que o cerca, fazendo sua parte na obra da Revolução Cultural, que, uma vez vitoriosa, construirá a Sociedade Integral e o Estado Integral, a Nova Sociedade e o Novo Estado que não são senão a Sociedade Tradicional e o Estado Tradicional.

Conscientes de que o preceito dos tempos que passam não é o lamento sobre o fato de que vivemos num Mundo em ruínas, mas sim a ação, o combate em prol da edificação de uma Nova Civilização Tradicional, de uma Nova Civilização Cristã na verdadeira acepção do termo, e de que esta Nova Civilização somente poderá ser edificada por uma Elite, uma Aristocracia do Espírito, nós outros proclamamos a imperiosa necessidade de nos fazermos, por meio da Guerra e da Revolução Interior, autênticos Homens Nobres, membros daquela Aristocracia Espiritual, dispostos a servir a Deus, à Pátria e à Família e a tudo sacrificar na peleja pelos tradicionais valores consubstanciados nesta trilogia, nobre como nenhuma outra.

 

[1] SÊNECA, Lúcio Aneu. Da tranqüilidade da alma, V. In Idem. Obras (Consolação a minha mãe Hélvia; Da tranqüilidade da alma; Medéia. Estudo introdutivo e tradução de Giulio Davide Leoni. São Paulo: Atena Editôra, 1955, p. 95.

[2] DEMÓCRITO, fragmento 214, segundo a classificação de Diels. In MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. Volume I. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta. 3ª ed. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1971, p. 112.

[3] Idem, fragmento 75, segundo a classificação de Mullach. In MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. Volume I, cit., loc. cit.

[4] PLATÃO. As Leis, Livro I, “d”. In Idem. As Leis (incluindo Epinonis). 2ª ed. revista.Tradução, notas e introdução de Edson Bini. Prefácio de Dalmo de Abreu Dallari. Bauru, SP: Edipro, 2010, p. 69.

[5] Idem. As Leis, Livro I, “e”. In Idem. As Leis (incluindo Epinonis), cit., pp. 69-70.

[6] SALGADO, Plínio. Espírito da burguesia. 3ª ed. In Idem. Obras completas. 2ª ed., vol. XV. São Paulo: Editora das Américas, 1957, p. 47.
 
*Originalmente publicado no boletim "Ação!", da Frente Integralista Brasileira (Ano III, n. 09, janeiro-abril de 2013, p. 4).

 

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