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Monday, May 08, 2017

Como nasceram as cidades do Brasil*


Em 1939, Plínio Salgado, já então um notável e consagrado escritor, jornalista, pensador, orador e doutrinador político, bem como criador e líder do maior movimento cívico-político-cultural tradicionalista e nacionalista de toda a América Lusíada e de toda a América Hispânica,[1] foi exilado para Portugal, por razões políticas, pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Diversamente dos chamados exilados políticos das décadas de 1960 e 1970, todos eles autoexilados, Plínio Salgado teve de deixar o Brasil por ordem de Vargas, que lhe permitiu, porém, escolher para qual país seguiria. E então, como escreveu o escritor e pensador tradicionalista português Fernando de Aguiar, Plínio Salgado, esse “cavalheiro de nobres ideais e de igual nobreza de sentimentos, forçado ao exílio, procurou Portugal”, escolhendo a Pátria de seus Maiores por saber que nela estaria “em família” e melhor amparado “contra as violências dos homens, nos seus desmandos, a afogarem em onda de sangue e de desvario o mundo, este amarroado e à míngua do bom senso comum”.[2]
Ainda como observou o autor de Gente de casa (Fernando de Aguiar), Portugal, a “Terra de Santa Maria, título de nobreza à Pátria de D. Afonso Henriques em suas virtudes ancestrais”, impõe-se para o retiro de Plínio Salgado, “lugar apropositado para meditação e exaltação cristã”, e, posto que animando a caseira lição da História e da Tradição, “por sentimento e por sangue, também destino legítimo para repouso das canseiras do dia a dia e aperfeiçoamento da alma nas lides políticas”.[3]
Uma vez na pequena-grande Pátria de que nasceu a nossa Pátria, Plínio Salgado, que para ela seguiu em companhia da esposa, D. Carmela Patti Salgado, conheceu-a de norte a sul e nela estudou profundamente o pensamento tradicionalista português e espanhol, proferiu algumas de suas mais belas e importantes conferências, escreveu as suas mais pujantes obras religiosas e foi reconhecido por todos como uma espécie de embaixador cultural do Brasil e pela intelectualidade católica como um dos maiores pensadores católicos de todos os tempos e um verdadeiro apóstolo brasileiro.[4]
Se, ao momento de sua chegada a Portugal, era o nome de Plínio Salgado ali conhecido e admirado por alguns intelectuais de escol, a exemplo do historiador e escritor João Ameal e dos principais líderes do Integralismo Lusitano, “já então admiradores declarados de sua inteligência máscula, conduzida na luminosidade de Espírito cintilante e de esforçado engenho e servida na compreensão de sadia e arejada política”,[5] este, nos anos em que ali viveu, pelos prodígios de seu verbo falado e escrito, tornou-se célebre em toda a Nação Portuguesa. E, como aduziu Fernando de Aguiar, Plínio Salgado, “abençoado por Portugal como filho adoptivo”, foi
aquele brasileiro que, melhor compreendendo as nossas gentes, mais ilustrou o intercâmbio entre as duas Pátrias de língua portuguesa, quem mais rente, e pelo coração, soube segurar, prender e unir, em nossos dias, os nós sagrados que para sempre hão-de vincular, no futuro, o Brasil a Portugal e Portugal ao Brasil.[6]
Durante o discurso de agradecimento à homenagem a ele prestada por um grupo de ilustres portugueses[7] antes de seu retorno ao Brasil, em junho de 1946, Plínio Salgado afirmou que, ao partir do Rio de Janeiro, em 1939, vira a bandeira nacional brasileira a flutuar triunfalmente na Fortaleza de Santa Cruz e que sentira que a auriverde bandeira parecia dizer-lhe:
Vai, porque do outro lado do oceano encontrarás a Pátria da tua Pátria e ali, junto aos monumentos antigos e aos túmulos dos heróis da Raça, adquirirás novas forças de tradicionalidade com que volverás mais rico de seiva nacional, mais vibrante de brasilidade, mais ardente de amor pelo teu Brasil.[8]
Não é necessário dizer que de fato Plínio Salgado adquiriu, em terras portuguesas, novas forças da mais lídima tradicionalidade, com que volveu à Terra de Santa Cruz mais rico de seiva nacional, mais vibrante de Brasilidade e mais ardente de amor pelo Império natal.
Foi em Portugal que o renomado autor de O estrangeiro (Plínio Salgado) concluiu e deu ao Mundo a sua obra-prima, a Vida de Jesus, que o Padre Leonel Franca bem qualificou de “joia de uma literatura.”[9] E dissemos, como Tasso da Silveira, que Plínio Salgado deu ao Mundo a sua Vida de Jesus em razão de que, como salientou o ilustre poeta e ensaísta curitibano (Tasso da Silveira), a Vida de Jesus é uma “obra de significação universal, dado o esplendor com que o tema supremo foi nela realizado”, e é, ainda, uma obra que já alcançou diversas edições em diversos países e diversos idiomas e sobre a qual prestigiosas autoridades, como o mencionado Padre Leonel Franca e D. Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal-Patriarca de Lisboa, “disseram coisas definitivas e consagradoras”.[10]
Como ressaltamos algures,[11] por suas obras religiosas,  a exemplo da Vida de Jesus, “coroa luminosa de um grande e silencioso drama”, no dizer do Cardeal Cerejeira,[12] assim como de A aliança do sim e do não, de Primeiro, Cristo!, de O Rei dos reis, de A Tua Cruz, Senhor, de Mensagens ao Mundo Lusíada, de A imagem daquela noite e de São Judas Tadeu e São Simão Cananita, bem podemos considerar Plínio Salgado um dos maiores e mais profundos escritores cristãos de todos os tempos e uma das máximas glórias do pensamento e das letras cristãs do Mundo Lusíada.
Tratando da Vida de Jesus, afirmou Fernando de Aguiar ser esta obra “o livro mais fortemente lusíada deste atormentado século”,[13] e se é verdade que, como salientou o Padre Moreira das Neves, tal obra teve um êxito extraordinário, talvez só ultrapassado, em sua expansão mundial, pela História de Cristo, de Papini,[14] é igualmente verdade  que, como enfatizou José Sebastião da Silva Dias, tal obra, que realmente conseguiu ser a “joia de uma literatura”, teria por mercado o Mundo inteiro, caso houvesse sido escrito em qualquer das grandes línguas europeias.[15]
Consoante escreveu o sacerdote jesuíta, pensador e jornalista italiano Domenico Mondrone, na introdução à primeira edição italiana da Vida de Jesus, transcrita na revista romana La Civiltà Cattolica, não apenas as obras religiosas de Plínio Salgado, mas todos os livros deste “escritor robusto e fecundo” são testemunhos “do ideal cristão, ao qual está dirigida toda a sua vida de indivíduo e de cidadão e no qual se enquadra a sua visão do mundo”.[16] A propósito, como bem frisou o jus-filósofo tomista e pensador tradicionalista espanhol Francisco Elías de Tejada, desde a sua conversão intelectual à Fé Católica, em 1918, o que Plínio Salgado levantou foram duas solidíssimas colunas: Cristo e o Brasil.[17]
Neste mesmo sentido, ao analisar as obras Como nasceram as cidades do Brasil e A imagem daquela noite, João Ameal assim escreveu a respeito do autor da Vida de Jesus:
Plínio Salgado escreve, fala, apostoliza sob a luz perene da obediência a Cristo; os argumentos que emprega, são colhidos nas divinas palavras; as imagens que levanta, são sugeridas pelas divinas lições, os apelos que lança, são o eco dos divinos apelos e todo o seu programa é reimplantar na consciência dos contemporâneos a figura excelsa do Filho de Deus e incitá-los a que O tomem por modelo e saibam voltar ao integral cumprimento da Sua Lei.[18]

  É sobre a obra Como nasceram as cidades do Brasil que hoje falaremos. Escrita em Portugal e publicada em 1946, pela Editorial Ática, de Lisboa, tal obra se destinava, antes de tudo, a mostrar aos brasileiros e aos portugueses, que tão generosamente acolheram o seu autor, a fisionomia de sua terra natal, por meio de páginas que, como enfatizou Gumercindo Rocha Dorea, o tempo não foi ou será capaz de destruir e que demonstram como pode o amor edificar para a eternidade.[19]
A Editorial Ática pertencia ao poeta Luís de Montalvor (nome literário de Luís Filipe de Saldanha da Gama da Silva Ramos), que a fundara em 1933, e, profundo admirador do pensamento e da obra de Plínio Salgado, já editara a sua Vida de Jesus e A Tua Cruz, Senhor, e publicaria, naquele mesmo ano de 1946, a obra Madrugada do Espírito. Luís de Montalvor, que fundara, em Lisboa, em janeiro daquele ano de 1946, a Livraria Ática, e que faleceria no ano seguinte, com a esposa e o único filho, num desastre automobilístico, iniciara, em 1942, a publicação de diversas obras de Fernando Pessoa e seus heterônimos, sob o título de Obras Completas de Fernando Pessoa, e publicaria, ainda no ano de 1946, as Poesias de Mário de Sá-Carneiro. A propósito, tanto Fernando Pessoa quanto Mário de Sá-Carneiro tinham sido seus companheiros na revista Orpheu, que circulara em 1915 e tivera em Montalvor seu principal idealizador e o seu primeiro diretor, ao lado do poeta e escritor brasileiro Ronald de Carvalho, logo passando, porém, a ter um papel secundário na organização desta revista, marco inicial do Modernismo em Portugal, e sendo substituído em sua direção, juntamente com Ronald de Carvalho, por Pessoa e Sá-Carneiro, no segundo número da mencionada revista, cujo terceiro número, organizado em 1917, somente viria à luz em 1984. Por fim, vale lembrar que fora Montalvor quem proferira o elogio fúnebre de Fernando Pessoa por ocasião do sepultamento do corpo deste, em 2 de dezembro de 1935.
Obra estuante de Fé e de Brasilidade, iniciada, segundo o autor, num dia em que transbordava o seu “afeto pelo Brasil e os Brasileiros”, afeto este que o levou a contar, “na terra dos nossos Maiores”, a história das cidades brasileiras,[20] Como nasceram as cidades do Brasil traz a seguinte dedicatória:
À Nação Portuguesa, em homenagem aos antepassados comuns que construíram a minha Pátria, deram-lhe uma nobre língua e uma gloriosa tradição e animaram-na, por todo o sempre, com a alma religiosa que a integra na família lusíada das cinco partes do mundo e na comunhão universal do Cristianismo ofereço este livro como recordação de minha permanência na sua linda terra e no meio da sua hospitaleira e carinhosa gente.[21]
Em artigo a respeito de Como nasceram as cidades do Brasil, publicado no jornal Idade Nova, do Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 1946, Tasso da Silveira ponderou que a leitura de tal obra era urgentíssima entre nós, sendo mister dizer aos brasileiros que todos eles deviam ler este livro o quanto antes.[22]
Isto porque, como aduziu o autor de Puro Canto e de Gil Vicente e outros estudos portugueses (Tasso da Silveira), estávamos então atravessando “uma crise de enorme inconfiança nos destinos do Brasil”. Assim, segundo Tasso da Silveira, o secreto desalento que, em seu sentir, lavrava em milhares de almas em nosso País, nos roubava “a energia indispensável à luta viva” daquela hora. Os brasileiros, no entender do poeta do Cântico ao Cristo do Corcovado (Tasso da Silveira), precisavam reviver os motivos que tinham para despertar o Brasil de seu sono e tais motivos são “eficacissimamente evocados no volume de história autêntica e de autêntica poesia” que é Como nasceram as cidades do Brasil.[23]
Conscientes de que o Brasil da hora presente atravessa uma crise de inconfiança em si mesmo e em seu porvir de proporções muito maiores que aquela que atravessava em meados da década de 1940, concordamos com Tasso da Silveira, quando este observa que, nas páginas de Como nasceram as cidades do Brasil, “oferece-nos Plínio Salgado o exato antídoto ao fundo envenenamento de que somos vítimas”. Tal antídoto vem a ser a História de como se formou o Brasil, a rememoração dos grandes feitos de que fomos capazes no passado, dos tremendos óbices que vencemos, da resistência que, no pretérito, soubemos opor às energias adversas, “e que demonstram, em nós, virtualidades de grande povo”.[24] Como sublinhou o autor de Tendências do pensamento contemporâneo e de 30 espíritos-fontes (Tasso da Silveira):
Quem sabe como o Brasil se formou não desanima do Brasil. Digam-no os nossos genuínos historiadores. Digam-no os evocadores da epopeia bandeirante, da luta com os holandeses, da conquista do Brasil às terríveis endemias. Estes, os que sabem como o Brasil se formou, não se mostram pessimistas. São, pelo contrário, os eternos animadores. Entre eles, Plínio Salgado, cuja obra é, toda ela, um só arroubo de fé e confiança no Brasil.[25]
No ano de 1977, ao prefaciar a quinta edição de Como nasceram as cidades do Brasil, Euro Brandão ponderou que, naquele momento, em que se reforçava a difusão da nossa Cultura e se proclamava a necessidade de permanência da Índole Nacional, ou, noutros termos, da nossa Tradição, era muito necessário o revigoramento de “nosso sentimento de brasilidade ao ler e degustar e apreciar e meditar nas páginas de um escritor privilegiado” como Plínio Salgado, numa obra em que se desdobra “o vigoroso sentimento nacional”.[26] Muito mais necessário, porém, tornou-se hoje, para os brasileiros, o robustecimento desse sentimento de Brasilidade, pela leitura e meditação das páginas transbordantes de poesia e sentimento nacional desta preciosa obra.
Isto posto, cumpre salientar que o “vigoroso sentimento nacional” de que nos falou Euro Brandão corresponde ao “justo nacionalismo”, que, no dizer do Papa Pio XI, “a reta ordem da caridade cristã não somente não desaprova, mas com regras próprias santifica e vivifica”,[27] nada tendo que ver com o condenável nacionalismo agressivo e xenófobo, como ressaltou o próprio Euro Brandão.[28] Como aduziu o autor de O século da máquina e a permanência do Homem  (Euro Brandão), este “vigoroso sentimento nacional” é
um conhecer-se do Brasil a si mesmo. É um fortalecer-se na maneira de ser nacional , no cultivo da feição própria de uma Nação com caráter peculiar, feição essa que, se a diferencia, lhe dá também a possibilidade de contribuir com aspectos originais no universal intercâmbio de ideais, soluções e atitudes. Cultivar sua história, seus vultos seus feitos, fortalecendo a consciência de sua peculiaridade como Nação, e, assim, atuar beneficamente no âmbito internacional, é, como conceito, tão importante como a pessoa que cultiva as virtudes de sua personalidade e as reforça, não para sua própria exaltação, mas para ser mais útil no exercício do bem comum.[29]

Como bem sublinhou Euro Brandão, nas páginas de Como nasceram as cidades do Brasil, “em pinceladas de verdadeiro artista”, se desdobram não apenas as histórias da fundação de cidades, do século XVI ao século XX, “mas um vitral de flagrantes motivadores, que, na ênfase e reforço dos contornos, faz rutilar a beleza das epopeias”.[30]
Assim, esta obra, que, no dizer de Brandão, é um “livro de Patriotismo e de Fé”,[31] que nos “ensina a amar o Brasil”[32] e “nos reacende o amor à cousas que realmente ‘valem a pena quando a alma não é pequena’”,[33] aborda, em páginas que muitas vezes fundem História, Tradição e Poesia, temas como a Epopeia das Bandeiras, a obra missionária e educativa dos jesuítas e o papel que tiveram e têm, em nossa História e em nossa Tradição, vultos como aqueles de João Ramalho, Tibiriçá, Anchieta, Caramuru, Raposo Tavares, Anhanguera e Aleijadinho.
Diferentemente de tantos pseudo-historiadores, que só sabem amesquinhar as nossas origens e denegrir a imagem da Nação Portuguesa, de que proviemos, Plínio Salgado, em Como nasceram as cidades do Brasil, faz justiça a Portugal e à sua obra civilizadora e enaltece o gênio imperial lusíada, graças ao qual o Brasil tem mantido, ao longo dos séculos, a sua unidade, e salienta que o maior patrimônio que Portugal legou ao Brasil foi a verdadeira Religião de Cristo.
Isto posto, reputamos ser oportuno frisar que, como fez ver o autor de Como nasceram as cidades do Brasil, este vasto Império que é a nossa Terra de Santa Cruz possui grandes e profundas diferenças regionais, assim como membros e descendentes de diversos povos de todo o Orbe Terrestre, mas todas essas diferenciações se submetem “à ação poderosa de um formidável redutor, a trabalhar continuamente, como estatuário inspirado, na construção maravilhosa da Unidade Nacional”. Tal redutor, nas palavras de Plínio Salgado,
É o gênio lusíada. É o espírito dos fundadores de um grande Império, cujo segredo se encontra nas raízes romanas e cristãs de que provém.
Tão grande tradição, pelos Brasileiros herdada dos Portugueses, constitui a força aglutinadora por excelência, reagindo contra a diversidade do meio físico, a complexidade dos aspectos étnicos e a extensão do espaço geográfico, e sustentando de pé, isento de futuras decomposições, o caráter definido de um dos maiores povos do Mundo.[34]
Havendo citado as linhas em que Plínio Salgado tratou do gênio lusíada, ressaltando o fato de ser ele o pilar sobre o qual se assenta a unidade nacional brasílica, citaremos, a seguir, as linhas finais de Como nasceram as cidades do Brasil, em que o autor proclama que a Fé de Cristo foi o maior patrimônio que o Brasil recebeu de Portugal e que sustentar o Nome e os Ensinamentos de Cristo e viver segundo o Seu Espírito é sustentar a Tradição Luso-Brasileira, o pundonor nacional e as próprias prerrogativas de independência da Nação:
A partir de 1900 o Brasil cresceu vertiginosamente. Os municípios, inicialmente criados com um centro urbano a governar extensões territoriais por vezes maiores do que a Bélgica ou a Suíça, partem-se, repartem-se, tripartem-se, pela transformação rápida das aldeias em cidades; os pioneiros avançam, novos nomes surgem no mapa.
No primeiro período, a cidade começa com a fortaleza e a igreja; no segundo, o da mineração, com as barracas, a roça, a ermida; no terceiro, o do desenvolvimento agrícola e comercial, com o rancho de tropeiros, a venda e a capela; mas, ao desdobrar-se este último ciclo, ao ritmo acelerado do progresso, a cidade começa com a bomba de gasolina, a agência bancária, o campo de futebol, o cinema e a igreja. Logo depois, apita a locomotiva na estação, traça-se o jardim da praça municipal, alindam-se os bangalôs residenciais.
Reparai, porém, numa constante: sob a forma de ermida, capela, ou igreja, de taipa, de pedra, de cimento armado, barrocas, românticas, góticas, modernas, a presença em toda carta geográfica da religião de Cristo.
Foi o maior patrimônio que o Brasil recebeu de Portugal.
*
No espaço de oito milhões e meio de quilômetros quadrados, as cidades brasileiras, por mais diversas que pareçam nos seus aspectos regionais, guardam no íntimo uma só fisionomia, falando, cantando e rezando na mesma língua, “última flor do Latio”, primeira flor da lusitanidade, da latinidade, na América.
Mas nem a identidade dos costumes, nem a uniformidade do teor de vida, nem o condomínio da terra nos dariam a nós, Brasileiros, uma consciência de origem e um sentido de destino histórico nacional e humano, como nos dá esta Fé em Cristo, que constitui o supremo instrumento de expressão da nossa alma de Povo.
Em cada cidade do Brasil canta o sino de uma igreja; em cada igreja está presente Aquele que penetrou a floresta na palavra dos missionários das brenhas selváticas; e, estando em cada igreja, está em cada um dos lares da Pátria, assim como no íntimo de todos os corações.
Sustentar o Seu Nome, e o Seu Ensino, e viver segundo o Seu Espírito, é sustentar a tradição lusíada e nacional brasileira, a honra da Nação e as suas próprias prerrogativas de soberania.[35]
Faz-se mister evocar o fato de que Plínio Salgado, que sempre condenou e combateu todas as formas de racismo, louvou, em Como nasceram as cidades do Brasil, a “nobre confraternidade cristã dos lusitanos com os povos do vasto império” que edificaram e o “matrimônio das raças”, ocorrido no Brasil sob esse espírito de confraternidade cristã,[36] observando que Iracema, lenda da fundação do Ceará, criada por José de Alencar, vem a ser uma “delicadíssima página” dessa nobre confraternidade, essencialmente cristã e lusíada.[37]
Como escreveu Plínio Salgado, Iracema, magno poema em prosa, “obra-prima de José de Alencar, escrita em linguagem ritmada e exuberante de imagens, exprime o simbolismo da formação étnica e social brasileira”. Por meio do cruzamento, a estirpe autóctone despareceu, permanecendo, porém, vivas as suas denominações geográficas e as palavras designativas das árvores, das aves, dos frutos e das flores. Em verdade, porém, em última análise, Iracema não morreu, pois “continua a viver no sangue do filho, condicionada à cultura, à fé religiosa, ao espírito lusitano”, como sua estirpe continua a viver no sangue do povo brasileiro, igualmente condicionada à cultura, à fé religiosa e ao espírito lusitano. É por isso, talvez, que Iracema é um anagrama de América.[38]
Iracema é, enfim, segundo Plínio Salgado, o próprio Novo Mundo, a “terra virgem que o Europeu devia desbravar”, enquanto seu filho, Moacir, “é o fruto de dois mundos que se amaram e agora vivem juntos no mesmo ser”, é o “símbolo da Pátria futura”, é “a profecia do grande Brasil”.[39]
Ao tratar dos bandeirantes da Vila de São Paulo do Campo de Piratininga, em páginas que fundem admiravelmente História, Tradição e Poesia, Plínio Salgado os comparou a águias, afirmando ser a humilde porém altiva e heroica Vila de São Paulo dos primeiros séculos da nossa História um “ninho de águias que devassaram todo o sertão, acometeram o mistério das florestas, dilataram o território da Pátria, fixaram os limites da Grande Nação Brasileira”.[40]
Como fez salientar Plínio Salgado, as bandeiras partidas da Vila de São Paulo do Campo de Piratininga fundaram diversas vilas e povoações que depois se tornaram cidades pelos sertões desta Terra de Santa Cruz/Brasil e também povoaram vilas já existentes,[41] tendo sido, pois, autênticos “plantadores de cidades”.[42]
Ainda como fez ressaltar o autor de A voz do Oeste (Plínio Salgado), as Bandeiras estabeleceram diversas estradas ligando o Brasil de Sul a Norte, exploraram os cursos dos nossos rios, transpuseram todas as serras, romperam com o Tratado de Tordesilhas, de acordo com o qual o Brasil não passaria de uma nesga de Terra à beira do Atlântico. Dilataram, enfim, “os horizontes da Pátria”, não se limitando à descoberta e exploração de ouro e pedras preciosas e tendo continuado “em terra a prodigiosa aventura dos navegantes de Sagres” e lançado “os alicerces da unidade nacional e da grandeza do Brasil”.[43]
Isto posto, cumpre sublinhar que Plínio Salgado, que era um profundo conhecedor da História Paulista e Brasileira, já no dealbar da década de 1920, nas páginas do prestigioso jornal Correio Paulistano, de que era redator, comparava a epopeia luso-brasileira das Bandeiras à anterior epopeia dos navegantes de Portugal, referindo-se aos bandeirantes como “argonautas divinos da nossa grande Epopeia”,[44] numa alusão aos heroicos nautas e guerreiros da Mitologia Helênica. E é mister assinalar, ainda, que, em 1934, publicou Plínio Salgado o há pouco mencionado romance A voz do Oeste, magnífico poema em prosa sobre a epopeia bandeirante, que inspirou Juscelino Kubitschek a edificar Brasília[45] e que, enquanto romance sobre a epopeia das Bandeiras Paulistas, só pode ser comparado à obra A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, e, enquanto poema sobre a mesma epopeia, pode ser apenas comparado a O caçador de esmeraldas, de Olavo Bilac, a Os bandeirantes, de Baptista Cepelos, a Armorial, de Paulo Bomfim, e aos versos dedicados ao tema por Gerardo Mello Mourão, em Invenção do mar.
Não podemos encerrar a presente conferência sobre a obra Como nasceram as cidades do Brasil sem antes destacar o fato de que Plínio Salgado foi um ardoroso defensor do Municipalismo desde a mocidade, quando fundou, com Gama Rodrigues, o Partido Municipalista, sendo o Municipalismo, em verdade, pedra angular da sólida e profunda Doutrina política de Plínio Salgado,[46] Doutrina esta que, conforme observou Heraldo Barbuy, é necessária por firmar os autênticos conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado,[47] e que se constitui, antes de tudo, como aduziu Francisco Elías de Tejada, numa “teoria da Tradição brasileira com traços de granítico castelo, destinado a suscitar adesões para quem queira em tempos vindouros conhecer a substância do Brasil”.[48]
Fechamos esta singela conferência assinalando que Plínio Salgado, este “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”, na expressão de Francisco Elías de Tejada,[49] e “Bandeirante da Fé e do Império”, como escrevemos alhures,[50] deu e dá à Cultura Brasileira, na grande obra que é Como nasceram as cidades do Brasil, um admirável “roteiro”, por meio do qual muitos poderão descobrir a História e a Tradição da nossa Terra de Santa Cruz.

Por Cristo e pela Nação!

Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 25 de abril de 2017-LXXXIV.


* Versão revista e ampliada da comunicação apresentada a 25 de abril de 2017 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), durante a XI Semana de Filologia na USP.



[1] Tal movimento foi e é o Integralismo, que se constituiu no primeiro “movimento de massas” da História do Brasil e formou o primeiro partido verdadeiramente nacional desde o ocaso do Império, bem como, na expressão de Gerardo Mello Mourão, o “mais fascinante grupo da inteligência do País” (Entrevista concedida ao Diário do Nordeste, de Fortaleza, em 24 de outubro de 1996. Disponível em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=414001. Acesso em 25 de abril de 2017).
[2] Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, Lisboa, Sigma, 1948, p. 89.
[3] Idem, loc. cit.
[4] Sobre as atividades realizadas por Plínio Salgado durante o exílio em Portugal, bem como sobre o reconhecimento que ali recebeu dos mais altos vultos do pensamento católico lusitano: Augusta Garcia R. DOREA, Plínio Salgado, um apóstolo brasileiro em terras de Portugal e Espanha, São Paulo, Edições GRD, 1999.
[5] Fernando de AGUIAR, Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, cit., loc. cit.
[6] Idem, pp. 111-112.
[7] Dentre tais ilustres portugueses podemos destacar as figuras de Hipólito Raposo, de Pequito Rebelo, do Conde de Monsaraz, do Visconde de Santarém, de Domingos Megre e de Leão Ramos Ascensão, todos destacados vultos do Integralismo Lusitano, movimento que reuniu, no dizer de Plínio Salgado, “a plêiade mais brilhante dos pensadores políticos lusíadas dos últimos tempos” (O agradecimento, in Uma reportagem histórica, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 196. Texto originalmente publicado no jornal A Voz, de Lisboa, a 23 de junho de 1946).
[8] O agradecimento, in Uma reportagem histórica, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 197-198.
[9] Carta a Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Vida de Jesus, 22ª edição, São Paulo, Voz do Oeste, 1985, pp. IX/XI.
[10]  Um livro de Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, Prefácio de Euro Brandão, São Paulo/Brasília, Voz do Oeste/Instituto Nacional do Livro, 1978, p. 192. Texto originalmente publicado no jornal Idade Nova, do Rio de Janeiro, no dia 27 de outubro de 1946.
[11] Plínio Salgado. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=398#.WQx_xNIrLIU. Acesso em 25 de abril de 2017.
[12] A Igreja e o pensamento contemporâneo, 4ª edição (com algumas notas inéditas), Coimbra, Coimbra Editora, 1944, p. 385.
[13] Gente de casa: retratos de homens & perfis de ideias, cit., p. 122.
[14] Lembranças de um amigo em Lisboa, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam", vol. II, cit., p. 101.
[15] Vida de Jesus, de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., pp. 146-147.
[16] Plínio Salgado: o homem, a atividade, a obra-prima, in in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II. São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 159.
[17] Plínio Salgado na Tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 52.
[18] Plínio Salgado ou a nova luta por Cristo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam", vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 129.
[19] [Orelha do livro], in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit.
[20] Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 9.
[21] Idem, página não numerada.
[22] Um livro de Plínio Salgado, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 193.
[23] Idem, loc. cit.
[24] Idem, loc. cit.
[25] Idem, pp. 193-194.
[26] Prefácio, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. XI).
[27] Encíclica Caritate Christi Compulsi. Disponível (em latim) em: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/la/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19320503_caritate-christi-compulsi.html. Acesso em 25 de abril de 2017. A expressão “Nationem pietatis” foi traduzida como  “nacionalismo” em diferentes versões da Encíclica, como a italiana que consta do portal oficial do Vaticano (Disponível em: http://w2.vatican.va/content/pius-xi/it/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19320503_caritate-christi-compulsi.html. Acesso em 25 de abril de 2017).
[28] Prefácio, in Plínio SALGADO, Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., loc. cit.
[29] Idem, loc. cit.
[30] Idem, pp. XI-XII.
[31] Idem, p. XIII.
[32] Idem, p. XII.
[33] Idem, p. XIV.
[34] Como nasceram as cidades do Brasil, 5ª edição, cit., p. 20.
[35] Idem, pp. 163-165.
[36] Idem, p. 55.
[37] Idem, loc. cit.
[38] Idem, p. 56.
[39] Idem, loc. cit.
[40] Idem, pp. 96-97.
[41] Idem, p. 99.
[42] Idem, p. 101.
[43] Idem, loc. cit.
[44] O novo bandeirismo, in Correio Paulistano, anno , nº 21493, São Paulo, 11 de maio de 1923, p. 3.
[45] Cf. Juscelino KUBITSCHEK, Carta a Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado: “In memoriam”, vol. I., São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1985, p. 223.
[46] Plínio SALGADO, Carta a Sylvio Jaguaribe Ekman, in Pedro PAULO FILHO, Campos do Jordão, o presente passado a limpo. São José dos Campos, Vertente, 1997, p. 70.
[47] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[48] Plínio Salgado na Tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 53.
[49] Idem, p. 70.
[50] Plínio Salgado, Bandeirante da Fé e do Império. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=71#.WQ-45sZv_IU. Acesso em 25 de abril de 2017.

Wednesday, October 07, 2015

83 anos do Manifesto de Outubro





Neste dia 07 de outubro, celebramos, como cristãos, os quatrocentos e quarenta e quatro anos da Batalha de Lepanto, em que a armada cristã da Santa Liga, sob o comando de D. João de Áustria e sob as bênçãos de Deus e de Nossa Senhora, venceu a armada turca, muito mais numerosa, salvando a Europa e pondo termo à expansão otomana no Mediterrâneo, e, como cristãos e brasileiros, celebramos os oitenta e três anos do lançamento do denominado Manifesto de Outubro, que assinala o nascimento oficial do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira (AIB). É deste documento tão significativo para a História Pátria, ainda que tão esquecido graças à nefasta ação das forças antitradicionais e antinacionais, que havemos de tratar nas linhas que seguem.
Inspirado, antes de tudo, nos ensinamento perenes do Evangelho, na Doutrina Social da Igreja e nas preleções dos grandes pensadores cristãos, espiritualistas e nacionalistas patrícios, o Manifesto de Outubro foi redigido por Plínio Salgado e lido por este no Teatro Municipal de São Paulo a 07 de Outubro de 1932, data em que foi também distribuído na Capital Paulista e remetido para diversas províncias brasileiras, por este motivo tendo ficado conhecido como Manifesto de Outubro, a despeito de haver sido escrito em maio e aprovado em junho daquele ano pela Sociedade de Estudos Políticos (SEP).
Fundada aos 12 dias do mês de março daquele ano de 1932, no Salão de Armas do Clube Português, na Capital Bandeirante, por um grupo de intelectuais encabeçado pelo próprio Plínio Salgado, a SEP foi um núcleo de grande relevo, voltado, antes de tudo, à meditação sobre a problemática política e social brasileira.
Isto posto, cumpre salientar que, ao fundar esse importante núcleo de estudos da realidade, do pensamento e dos problemas pátrios que foi a SEP, era já Plínio Salgado um consagrado escritor, jornalista e político, havendo seu primeiro romance, O estrangeiro (1926), primeiro romance social em prosa modernista do País, tido um grande sucesso de público e de crítica, merecendo elogios de escritores e críticos literários da estirpe de Jackson de Figueiredo, Agripino Grieco, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Tasso da Silveira, Afrânio Peixoto, Augusto Frederico Schmidt, Rodrigues de Abreu, Nuto Sant’Ana, Francisco Pati, Brito Broca, Menotti Del Picchia e Cassiano Ricardo, dentre outros. Seu segundo romance, O esperado (1931), também tivera bastante sucesso, ainda que menor do que aquele de O estrangeiro. Como jornalista, fora redator do Correio Paulistano, de São Paulo, colaborara em diversos jornais e revistas e fora redator-chefe do matutino A Razão, também da Capital Paulista, onde, em sua Nota Política (artigo diário de abertura daquele jornal), transcrita no jornal Era Nova, da Bahia, e em jornais do Ceará,[1] revelara, no dizer de Virgínio Santa Rosa, o sociólogo que vivia embuçado no romancista, sendo saudado por Tristão de Athayde como a maior revelação do ano (de 1931),[2] além de haver despertado diversos jovens para o estudo da realidade nacional e dos pensadores brasileiros. Em 1928 fora eleito Deputado Estadual em São Paulo pelo Partido Republicano Paulista, entrando pelo 2° turno e sendo o candidato mais votado,[3] e em 1930 redigira o manifesto que no ano seguinte (1931) seria entregue à Legião Revolucionária de São Paulo,[4] que o adotaria, ainda que logo mais se desviasse de suas diretrizes.
A despeito de o Manifesto entregue por Plínio Salgado à Legião Revolucionária de São Paulo, que recebera justíssimos elogios de intelectuais como Oliveira Vianna e Octavio de Faria, poder ser já plenamente considerado um manifesto integralista e de o próprio Plínio Salgado mais tarde haver afirmado que o romance O estrangeiro havia sido seu “primeiro manifesto integralista”,[5] foi o Manifesto de Outubro, incontestavelmente, o primeiro manifesto oficialmente integralista do Brasil. Sua mensagem, essencialmente cristã, brasileira, democrática na acepção integral e orgânica do termo e revolucionária no sentido tradicional do vocábulo, espalhou-se, com grande rapidez, por todas as províncias componentes deste vasto Império, logo se reunindo, à sombra da bandeira azul e branca do Sigma, centenas de milhares de soldados de Deus, da Pátria e da Família, bandeirantes do Brasil Profundo e de sua Tradição Integral e sentinelas, sempre alertas e vigilantes, da Imperial Nação Brasileira. Estas sentinelas eram homens e mulheres de todos os segmentos da Sociedade, desde os mais humildes caboclos dos mais remotos rincões da Pátria até os mais ilustres componentes da mais fina flor da intelectualidade nacional, “Bandeirantes do Espírito”, na expressão de Genésio Pereira Filho,[6] que constituíram a “poderosa geração integralista” de que nos fala Gumercindo Rocha Dorea.[7]
Inspirado, em larga medida, nos ensinamentos do Manifesto de Outubro, sua Carta Magna, o Integralismo realizou, na década de 1930, por meio de seu principal instrumento, a Ação Integralista Brasileira, como enfatiza Plínio Salgado, em O Integralismo na vida brasileira, a maior obra cívica e cultural da História Pátria. Com efeito, o Integralismo ensinou dezenas de milhares de brasileiros a cantar o Hino Nacional; levou multidões para ver e aplaudir os desfiles do Exército e da Marinha; promoveu o respeito às datas históricas e aos heróis nacionais; realizou imponentes homenagens a muitos dos mais notáveis vultos da nossa História; fundou milhares de escolas de alfabetização para crianças e adultos e de ambulatórios médicos; editou dezenas de livros e outras tantas dezenas de jornais e revistas; criou milhares de bibliotecas e organizou cursos de História do Brasil, Geografia, Instrução Moral e Cívica, Filosofia, Economia Política e Direito Público; realizou exposições, concertos e cursos de Cultura Artística e, antes e acima de tudo, nas palavras de Plínio Salgado, “arregimentou a infância e a adolescência, incutindo-lhes entusiasmo pelos nobres ideais, formando-lhes os corações segundo a doutrina do Evangelho, incendiando-as num surto de patriotismo” como nem antes nem depois da AIB se viu semelhante em nosso País.[8]
O Manifesto de Outubro, de magna e profunda relevância para a História Nacional e de impressionante atualidade, se constitui na mais perfeita síntese daquilo que foi construído pelos pensadores, escritores e estadistas patrícios até o ano de 1932 e na igualmente perfeita síntese da vigorosa e sadia Doutrina Integralista, autêntico exemplo do mais lídimo “idealismo orgânico” de que nos fala Oliveira Vianna e que vem a ser o idealismo realista e tradicionalista, formado tão somente de realidade, alicerçado tão somente na experiência e orientado tão somente pela observação do povo e do meio,[9] ou, noutras palavras, o idealismo consciente de que as instituições devem brotar da Tradição e da História dos povos e não da cabeça de ideólogos criadores de mitos e quimeras, o idealismo, enfim, que extrai da História uma Tradição sólida e viva, um coeficiente espiritual de edificação moral, social e cívica, um desenvolvimento estável e verdadeiro, transmissor e enriquecedor do patrimônio de pensamento e de costumes por nós herdado de nossos maiores.[10]
Reflete, pois, o Manifesto de Outubro, como sublinhamos algures,[11] a Tradição Integral da Nação Brasileira, trazendo soluções nacionais para os problemas nacionais, e isto em um País em que já desde o Império as elites quase nada mais faziam do que transplantar ideias e soluções estrangeiras, geralmente utópicas mesmo nos países em que haviam sido inicialmente propostas, e totalmente alheias à nossa Tradição, aos nossos costumes, à nossa Identidade Nacional. Isto porque Plínio Salgado tinha plena consciência de que, consoante preleciona Eduardo Prado, em A ilusão americana, as sociedades devem ser regidas por leis emanadas de sua estirpe, de sua História, de seu caráter, de seu desenvolvimento orgânico.[12]
Plínio Salgado também tinha plena consciência, como igualmente sublinhamos,[13] de que, como faz ver Oliveira Vianna, no prefácio à primeira edição da obra O idealismo da Constituição, de 1927, “se, ontem como agora, o problema da democracia no Brasil tem sido mal posto, é porque tem sido posto à maneira inglesa, à maneira francesa, à maneira americana; mas, nunca, à maneira brasileira”.[14] Daí o então futuro autor de Espírito da burguesia e da Vida de Jesus propor, naquele documento histórico, um modelo orgânico e autenticamente brasileiro de Democracia, que, conforme assinala Gustavo Barroso, se inspira profundamente nas lições políticas de Santo Tomás de Aquino,[15] o Doutor Angélico.
As não muitas, porém densas páginas do Manifesto de Outubro, estuantes de Cristianismo e de Brasilidade, refletem os mais nobres valores, costumes e tradições pátrios e a mais genuína Doutrina Social Cristã, a um só tempo anti-individualista e anticoletivista, anitiliberal e antitotalitária, e sintetizam, como há pouco sublinhamos, toda a Doutrina Integralista, depois de seu surgimento desenvolvida em diversos livros, manifestos, artigos publicados em jornais e revistas e discursos de Plínio Salgado e de outros vultos do Movimento Integralista. Em tais páginas estão presentes, por exemplo, as ideias seguintes, centrais na Doutrina do Sigma: Afirmação da existência de Deus e da Alma Imortal do Homem; Concepção Integral do Universo e do Ente Humano; Patriotismo; Nacionalismo Integral, justo, equilibrado, sadio e edificador, alicerçado na Tradição e tendente ao autêntico Universalismo, que não pode ser confundido com o internacionalismo liberal ou comunista; defesa da Família, cellula mater da Sociedade, e do Município, cellula mater da Nação; respeito à Tradição Nacional; combate sem tréguas ao comunismo e ao liberal-capitalismo internacional; guerra sem quartel ao cosmopolitismo; Sustentação da Harmonia e da Justiça Social; restauração dos princípios de Autoridade, Hierarquia e Disciplina; pugna sem tréguas contra o racismo e em prol da valorização do nosso povo e das nossas tradições, assim como dos pensadores e escritores nacionais; luta pela construção de uma Democracia Integral e de um Estado Ético Orgânico Integral Cristão, instrumento da Nação, do Homem do Bem Comum.
O primeiro artigo do Manifesto de Outubro trata da concepção integral do Universo e do Homem, afirmando que “Deus dirige o destino dos povos”; que o Homem, ente dotado de vocação sobrenatural, “deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e aperfeiçoam”, valendo pelo trabalho e pelo sacrifício em prol da Família, da Pátria e da Sociedade, assim como pelo estudo, inteligência e honestidade e pelo progresso científico, técnico e artístico “tendo por fim o bem estar da Nação e o elevamento moral das pessoas”; que as riquezas são bens meramente passageiros, não engrandecendo a ninguém, ao menos que seus detentores cumpram os deveres que lhes são impostos em benefício da Pátria e da Sociedade, e que os homens, assim como as classes, “podem e devem viver em harmonia”.[16]
Como observa Plínio Salgado em O Integralismo na vida brasileira, obra que se constitui no primeiro volume da Enciclopédia do Integralismo, organizada por Gumercindo Rocha Dorea e por ele entre fins da década de 1950 e princípios da década de 1960, neste primeiro capítulo do Manifesto de Outubro se encontra a influência de Farias Brito, quando este, no livro A verdade como regras das ações, demonstra que não podem existir normas morais sem que preliminarmente adotemos uma precisa noção da origem e da finalidade da Pessoa Humana. Ainda segundo Plínio Salgado, tal capítulo reconduz os valores morais ao lugar superior de onde foram arrancados pelo materialismo moderno, e defende “o direito às legítimas aspirações de cada um e de todos, pela prática da fraternidade cristã e da justiça, que emana dos corações à luz de uma consciência conhecedora das leis de Deus”, se constituindo em uma proclamação de direitos da Pessoa Humana, “não segundo o critério agnóstico-naturalista de Rousseau, mas segundo a filiação comum dos homens em Deus”.[17]
No segundo artigo do Manifesto de Outubro, Plínio Salgado sustenta a Democracia Orgânica, ou Democracia Integral, consagrando o princípio democrático da representação política dos trabalhadores de acordo com suas categorias profissionais,[18] sistema este que está plenamente de acordo com a Doutrina Social da Igreja, conformando-se plenamente com as lições, no campo social, de todos os Sumos Pontífices a partir de Pio IX e Leão XIII.[19]
No artigo terceiro, chamado O Princípio de Autoridade, defende-se a restauração do princípio de Autoridade,[20] entendida como pressuposto da autêntica Liberdade, nele podendo ser sentida, nas palavras do autor do Manifesto de Outubro, “a presença de Jackson de Figueiredo, nas suas campanhas pela restauração do princípio de autoridade, sem a qual a liberdade dos maus, dos traficantes e dos imorais tripudiará sobre os direitos dos bons, dos honestos e virtuosos”.[21]
No artigo quarto do Manifesto de Outubro, que trata do nacionalismo, podemos perceber que Plínio Salgado está plenamente de acordo com Alberto Torres, que, na obra O problema nacional brasileiro, defende o autêntico nacionalismo, combatendo o cosmopolitismo e a influência estrangeira, assim como os absurdos e nefastos preconceitos étnicos, que levaram muitos brasileiros a amesquinhar os elementos formadores da Nacionalidade, assim como aqueles que posteriormente nela se estabeleceram.[22] Consoante ressalta Plínio Salgado,
Nesse capítulo 4º, palpitante de brasilidade, como que se ouvem os clarins de Olavo Bilac na sua memorável campanha cívica; as vozes de Alencar e de Gonçalves Dias, repetindo os ecos da selva; o clangorar das inúbias na obra de Couto de Magalhães; a simpatia humana de Joaquim Nabuco por aqueles que ele ajudou a libertar da escravidão; o nobre orgulho da estirpe lusitana, que ilumina as páginas de Elísio de Carvalho; a alma do sertanejo, presente nos “Sertões” de Euclides da Cunha; o sentido do tradicionalismo flagrante em Oliveira Lima e Eduardo Prado; o entusiasmo patriótico do Conde de Afonso Celso.[23].
No artigo quinto do Manifesto Integralista de 07 de Outubro de 1932, Plínio Salgado condena o regionalismo excessivo e o exclusivismo da política estadual em detrimento da política nacional, colocando-se contra os “partidarismos egoístas”, a luta de classes e o caudilhismo.[24] Tal artigo está, nas palavras do seu próprio autor, repleto “da alma de Caxias, do sentido da Unidade Nacional pela qual lutou o Condestável do Império, do sentimento sempre presente em nossas Forças Armadas, da ordem interna como base da defesa externa,” se erguendo contra “o exclusivismo da política provinciana em detrimento da grande política da Nacionalidade”.[25]
No sexto artigo do Manifesto ora em apreço, Plínio Salgado condena veementemente as conspirações carentes de objetivos doutrinários, as revoluções sem programas,[26] proclamando que o Integralismo é a “Revolução em marcha”, porém “a Revolução com ideias”, sendo, portanto, “franca, leal e corajosa”.[27]
O artigo sétimo do Manifesto de Outubro trata da questão social tal como a considera o Integralismo, sob visível influência da Doutrina Social da Igreja e das ideias de pensadores brasileiros como Pandiá Calógeras e o Rui Barbosa dos últimos anos de vida, ideias estas inspiradas, aliás, principalmente na Encíclica Rerum novarum, de Leão XIII, e na obra do Cardeal Mercier.[28] Em tal artigo, Plínio Salgado, entendendo a propriedade como trabalho acumulado e projeção física da personalidade humana[29] e condenando a “escravidão comunista” e o liberal-capitalismo, sustenta o direito natural de propriedade, contra o qual atenta o sistema econômico liberal-capitalista, e defende, ainda, as justas reivindicações dos trabalhadores, que deveriam perceber “salários adequados às suas necessidades”, participar dos lucros das empresas “conforme seu esforço e capacidade” e tomar parte nas decisões governamentais.[30]
O artigo oitavo do Manifesto Integralista de 07 de Outubro, por sua vez, defende a Família, cellula mater da Sociedade e primeiro dos Grupos Naturais, que, assim como o Homem, precederam o Estado, que tem o dever de respeitar sua intangibilidade, necessitando ser forte justamente para manter a integridade do Homem e da Família.[31]
O artigo nono do Manifesto de Outubro sustenta o Municipalismo, com base, antes de tudo, nos ensinamentos dos constitucionalistas do Primeiro Reinado e nas observações, já no período republicano, de homens como Gama Rodrigues, ao lado de quem Plínio Salgado fundara, em fins da década de 1910, o Partido Municipalista, e Domingos Jaguaribe,[32] a quem o autor de O estrangeiro considerava o “patriarca do Municipalismo”.[33] Neste artigo, o autor de O estrangeiro e O esperado afirma que o Município, cellula mater da Nação, é uma reunião de pessoas livres e de famílias autônomas, devendo ser autônomo em tudo aquilo que diz respeito a seus interesses peculiares.[34]         
Por fim, o artigo décimo do Manifesto de Outubro é, na expressão de Plínio Salgado, a “síntese nacionalista do Estado Cristão, o resumo da democracia orgânica”. Nele são traçados
                                          os grandes lineamentos da expressão e do prestígio internacional da Pátria Brasileira. Vive ali o espírito de Alexandre de Gusmão e do Barão do Rio Branco; os sonhos de D. João Terceiro e do Conde de Bobadela e de D. João VI; a firmeza de José Bonifácio na construção da nossa unidade e da nossa grandeza; a ação de Pedro Segundo e do Duque de Caxias na consolidação desse patrimônio.[35]
Baseado na concepção integral do Universo e da Pessoa Humana, o Estado Integral tem como princípios fundamentais o respeito ao Direito Natural e à intangibilidade do Ente Humano, de seu Livre-arbítrio e dos Grupos Naturais, que são anteriores ao Estado e fornecem ao Homem os meios necessários à expressão de sua autonomia,[36] cumprindo salientar que, como pondera Plínio Salgado, a Pessoa Humana é dotada de direitos naturais, que lhe são congênitos, decorrendo, pois, não do Estado, mas de sua própria essência, não podendo, assim, ser negados pelo Estado e suas leis.[37]
Conforme salientamos há exatamente três anos, por ocasião do octogésimo aniversário do Manifesto de Outubro,[38] este tão injustamente olvidado Manifesto e o tão caluniado e mesmo demonizado Integralismo, movimento sobre o qual se criou uma verdadeira leyenda negra ainda não de todo destruída, desempenharam papel de grande relevância na vida cultural, política e social do nosso Brasil, relevância esta muito bem sintetizada por Plínio Salgado nas páginas de O Integralismo na vida brasileira e que é por nós assaz conhecida, do mesmo modo que os nomes dos diversos pensadores, escritores, juristas, jornalistas, médicos, professores, políticos, sociólogos e historiadores que vestiram a Camisa-Verde Integralista e muito contribuíram, em suas respectivas áreas, para o engrandecimento e enobrecimento da Nação Brasileira. Em virtude disto, julgamos não ser necessário discorrer aqui a respeito de tais assuntos. Salientemos, pois, apenas, que o Integralismo não foi tão somente o primeiro “movimento de massas” do Brasil e que a AIB (Ação Integralista Brasileira) não foi unicamente a primeira agremiação política de amplitude nacional desde o ocaso do Império, mas que tal movimento e tal organização foram – e tal movimento ainda é -, como afirmamos algures, uma admirável escola de Moralidade, Civismo, Patriotismo e Nacionalismo construtivo, assim como um possante foco de irradiação, inexpugnável cidadela e vigilante atalaia do Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro.[39]
  Com efeito, o Integralismo, que é, como aduz Gustavo Barroso, “uma Ação Social, um Movimento de Renovação Nacional em todos os pontos e em todos os sentidos”, pregando “uma doutrina de renovação política, econômica, financeira, cultural e moral”,[40] tendo como lema a tríade “Deus, Pátria e Família”, “grandiosa como nenhuma outra”, na expressão de Afonso de Escragnolle Taunay,[41] reuniu, no dizer de Miguel Reale, “o que havia de mais fino na intelectualidade da época”,[42] se constituindo, segundo Gerardo Mello Mourão, no “mais fascinante grupo da inteligência do País”.[43] No mesmo sentido, poderíamos citar as palavras do liberal e, portanto, insuspeito Roberto Campos, que, em suas memórias, ao falar de San Tiago Dantas, evoca “o surpreendente fascínio que o Integralismo exerceu em sua geração, particularmente sobre a parte mais intelectualizada”[44], assim como as palavras do também liberal e insuspeito Pedro Calmon, que, na biografia de seu pai, Miguel Calmon, observa que a plêiade de intelectuais reunida pelo Integralismo “poderia lotar uma Academia, em vez de ocupar uma trincheira”[45]. Aliás, devemos dizer que Pedro Calmon se equivocou, pois a plêiade de intelectuais que a Doutrina do Sigma reuniu, na década de 1930, em torno da bandeira azul e branca, e que bem podemos denominar a falange dos “homens de mil” do Integralismo, daria para encher não apenas uma, mas várias academias.
Ainda neste diapasão, salienta Acacio Vaz de Lima Filho que o Integralismo reuniu, na década de 1930, “o que havia de mais bela na juventude brasileira em termos de ideal”, bem como “a fina flor da intelectualidade nacional”, intelectualidade esta que, rompendo com a tradição de servil imitação dos modelos estrangeiros, voltou-se “para o Brasil, e para as mais profundas raízes da brasilidade”.[46]
As palavras de Acacio Vaz de Lima Filho que acabamos de citar se encontram no belo prefácio que este escreveu para a recém publicada obra “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: Uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, que, organizada por Gumercindo Rocha Dorea, reúne ao aludido Manifesto uma série de textos, quase todos escritos por jovens, comentando cada um dos artigos daquele tão relevante quanto criminosamente olvidado documento da História Pátria.
Como evocamos na “orelha” do mencionado livro - no qual, aliás, temos três artigos, dois de nossa exclusiva autoria, que tratam do nacionalismo e da concepção de Estado integralista, e outro, sobre o Município, escrito em companhia do jornalista paranaense Anderson Salim Calil - ao saudar Plínio Salgado, por ocasião de uma conferência que este realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 3 de agosto de 1953, o Professor Heraldo Barbuy, egrégio filósofo, sociólogo e escritor paulista, examinando a obra de Plínio Salgado como escritor, pensador e homem de ação, observou que a Doutrina Pliniana se tornara, então, mais do que nunca, necessária por firmar os verdadeiros conceitos do Homem, da Sociedade e do Estado, e terminou seu discurso exaltando a tenacidade, a coerência e a capacidade de sacrifício de Plínio Salgado, sustentando seu nobre e límpido pensamento em meio às injustiças e incompreensões.[47]
Ainda como escrevemos na “orelha” do aludido livro, na hora presente, ainda muito mais do que em 1953, é necessária a Doutrina Pliniana para o nosso Brasil e para todo o Mundo e a leitura do Manifesto de Outubro confirmará isto a todas as pessoas intelectualmente honestas que a fizerem. É, aliás, com plena consciência disto que, celebrando os cento e vinte anos do nascimento de Plínio Salgado e os oitenta e três anos do lançamento do Manifesto de Outubro e realizando um sonho há muito acalentado, o editor Gumercindo Rocha Dorea, infatigável combatente em defesa de Deus, da Pátria e da Família, ora lança a obra “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: Uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado.
Como igualmente assinalamos na “orelha” da mencionada obra, a leitura do Manifesto de Outubro, dos textos sobre seus artigos enfeixados naquele volume e do magnífico prefácio daquele livro, escrito, como há pouco observamos, pelo Professor Acacio Vaz de Lima Filho, outro incansável combatente em prol dos elevados valores consubstanciados na tríade “Deus, Pátria e Família”, demonstrará não apenas o quanto as doutrinas de Plínio Salgado e do Integralismo são necessárias, na hora que passa, assim como no futuro, para o Brasil e o Mundo, mas também a nobreza e perfeição de tais doutrinas, tão injustiçadas pelos inimigos de Deus, da Pátria e da Família quanto o próprio Plínio Salgado, “esse injustiçado”, nas justas palavras de Pedro Paulo Filho, inspirado poeta, memorialista e historiador de Campos do Jordão.[48]
Sobre Plínio Salgado, “o mais eloquente intérprete da Brasilidade”, na frase de Hipólito Raposo,[49] assim como o “profeta incandescente e sublime de seu povo”, a “encarnação viva do Brasil melhor”[50] e o “descobridor bandeirante das essências de sua pátria”,[51] no dizer de Francisco Elías de Tejada, e o “cavaleiro do Brasil Integral”, na expressão de Ribeiro Couto,[52] fazemos nossas as seguintes palavras que sobre esse bandeirante e arauto de um Brasil Maior escreveu, no livro há pouco citado, o jovem pensador Fernando Rodrigues Batista, ilustre filho do Paraná:
Em certa medida somos todos devedores destes grandes homens que, na história do pensamento e da política dos povos, não se contentando em passar por ela apenas como espectadores medíocres, nela se projetam como portadores de ideias destinadas a perpetuar-se no tempo através de sucessivas gerações que transmitem sua mensagem luminosa com entusiasmo sempre renovado, pois que esta mensagem traz em seu bojo a própria alma de seu povo, de sua nação, de sua história, através da tradição. Dentre estes homens, Plínio Salgado figura em lugar de honra, sobremodo para nós que no alvorecer da mocidade, em meio a desordem moral e intelectual, nos deixamos iluminar pelo fogo do ideal deste exímio pensador.[53]
Já nos havendo estendido mais do que inicialmente planejamos, reputamos oportuno encerrar, por aqui, o presente artigo, ressaltando que o Manifesto de Outubro, síntese por excelência da Doutrina profundamente cristã e brasileira do Integralismo, vanguarda da Nação Profunda e de sua Tradição, se configura em um altaneiro e eloquente brado em prol da edificação de um Brasil Grande e Renovado, restituído a sua augusta missão histórica, herdada de Portugal, de dilatar a Fé e o Império. Tal documento, repositório do mais sadio, vigoroso, rigoroso e edificante nacionalismo e leitura obrigatória a todos aqueles que pretendem se tornar autênticos guerreiros de Deus, da Pátria, da Família e de todos os valores tradicionais consubstanciados em tal tríade, tal documento, enfim, em que se pode sentir o palpitar do Brasil Autêntico e se sentem os perfumes da Terra Brasileira, se configura na sementeira da Pátria Nova com que sonhamos, com os pés no chão, todos os autênticos e verdadeiros idealistas orgânicos. Neste octogésimo terceiro aniversário do “nosso Manifesto”, como, aliás, o chamou o Professor Goffredo Telles Junior, pouco antes de seu falecimento, em conversa telefônica com o Professor Acacio Vaz de Lima Filho, rogamos, uma vez mais, a Deus, Criador e Regente do Universo e do Homem, que suscite, no nosso Brasil, varões de espírito nobre e guerreiro dispostos a marchar pelo fogo e pelas ruínas, sacrificando, se necessário, as próprias vidas, sem nada pedir em troca, em nome dos princípios resumidos no Manifesto de Outubro, lídima expressão do autêntico Espírito Nobre e carta de princípios que deve ser tomada em consideração por todo aquele que tem consciência de que é com base na autêntica Tradição Nacional e no autêntico pensamento nacional brasileiro que devemos estruturar as nossas instituições políticas.

Por Cristo e pela Nação!
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira,
São Paulo, 07 de outubro de 2015-LXXXIII.

*O presente artigo se constitui, em última análise, numa versão revista, atualizada e largamente ampliada de nosso artigo 82 anos do Manifesto de Outubro, disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=312#.VhVpfPlViko.


[1] Cf. Plínio SALGADO, O Integralismo na vida brasileira, in Enciclopédia do Integralismo, vol. I, Rio de Janeiro, Edições GRD/Livraria Clássica Brasileira, s/d, p. 15.
[2] A personalidade de Plínio Salgado, in VV.AA., Plínio Salgado, 4ª edição, São Paulo, Companhia Editora Panorama, 1937, p. 73.
[3] Cf. Maria Amélia Salgado LOUREIRO, Plínio Salgado, meu pai, São Paulo, Edições GRD, 2001, p.154.
[4] Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, in Antônio Carlos PEREIRA, Folha dobrada: documento e história do povo paulista em 1932, São Paulo, O Estado de S. Paulo, 1982, pp. 517-525.
[5] Despertemos a Nação, 1ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1935, p. 5.
[6] Palavras iniciais, in Plínio SALGADO, Extremismo e Democracia, 1ª edição, São Paulo, Editorial Guanumby, s/d, p. 8.
[7] Recado a um ex-presidente da República, ex-ministro, ex-senador; ex-professor universitário e que, hoje, amplia e revitaliza os “quadros” dos remanescentes caluniadores do Integralismo [Fernando Henrique Carodoso], in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. XI.
[8] O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 37-38
[9] O idealismo da Constituição, 2ª edição, aumentada, São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1939, pp. 12-13.
[10] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, Idealismo utópico e idealismo orgânico (Comunicação apresentada no III Simpósio de Filologia e Cultura Latino-Americana, promovido pelo PROLAM/USP e pelo Núcleo de Pesquisa “América” e realizado nos dias 28, 29 e 30 de novembro de 2011, na sala de videoconferências de Filosofia e Ciências Sociais, na Cidade Universitária, em São Paulo). Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=137. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[11] 79 anos do Manifesto de Outubro. Disponível em: http://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=125. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[12] A ilusão americana, 2ª edição, Prefácio de Augusto Frederico Schmidt, Rio de Janeiro, Livraria Civilização Brasileira S.A., 1933, p. 60.
[13] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[14] O idealismo da Constituição, 1ª edição, Rio de Janeiro, Edição de Terra de Sol, 1927, p. 13.
[15] Comunismo, Cristianismo e Corporativismo, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Ltda., 1938, p. 98.
[16] Cf. Plínio Salgado, Manifesto de Outubro de 1932, in Sei que vou por aqui!, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. V.
[17] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 23.
[18] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. V.
[19] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 24.
[20] Manifesto de Outubro de 1932, cit., loc. cit.
[21] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 25.
[22] Idem, loc. cit.
[23] Idem, p. 26.
[24] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. VIII.
[25] O Integralismo na vida brasileira, cit., loc. cit.
[26] Idem, loc. cit.
[27] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. IX.
[28] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 27.
[29] Idem, loc. cit.
[30] Manifesto de Outubro de 1932, cit., pp. IX-X.
[31] Idem, pp. X-XI; O Integralismo na vida brasileira, cit., pp. 27-28.
[32] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 28.
[33] Apud Pedro PAULO FILHO, Campos do Jordão, o presente passado a limpo, São José dos Campos, Vertente, 1997, p. 70.
[34] Manifesto de Outubro de 1932, cit., p. XI.
[35] O Integralismo na vida brasileira, cit., p. 29.
[36] Cf. Victor Emanuel Vilela BARBUY, O Estado Integralista, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, São Paulo, Edições GRD,  p. 239.
[37] Carta de Princípios do Partido de Representação Popular, Porto Alegre, Edição do Comitê de Propaganda pró Candidatura de Plínio Salgado, 1955, p. 3.
[38]80 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[39] 79 anos do Manifesto de Outubro, cit.
[40] O que o Integralista deve saber, 5ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, S.A, 1937, pp. 09-10.
[41] Algumas palavras, in, Lúcio José dos SANTOS, Filosofia, Pedagogia, Religião, São Paulo, Companhia Melhoramentos, 1936, p. 7.
[42] Entrevista concedida ao Jornal da USP.  Disponível em:http://espacoculturalmiguelreale.blogspot.com/2007/08/entrevista-concedida-pelo-prof-reale-ao.html. Acesso em 07 de outubro de 2014.
[43] Entrevista concedida ao Diário do Nordeste. Disponível em:
[44] A lanterna na popa, Rio de Janeiro, Topbooks, 1994, p. 843.
[45] Miguel Calmon – uma grande vida, Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco, Rio de Janeiro, José Olympio Editora; Brasília, INL (Instituto Nacional do Livro), 1983, p. 170.
[46]Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. XVI.
[47] Cf. A MARCHA, Plínio Salgado falou aos estudantes da Universidade Católica de São Paulo, in A Marcha, ano I, n. 26, 14 de agosto de 1953, p. 1.
[48] Plínio Salgado, esse injustiçado, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador e apresentador), São Bento do Sapucaí, São Paulo, Espaço Cultural Plínio Salgado, 1994, p. 15.
[49] A notável oração do Dr. Hipólito Raposo, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, São Paulo, Voz do Oeste/Casa de Plínio Salgado, 1986, p. 189.
[50] Plínio Salgado na tradição do Brasil, in VV.AA., Plínio Salgado: “in memoriam”, vol. II, cit., p. 47.
[51] Idem, p. 70.
[52] O cavaleiro do Brasil Integral, in Sei que vou por aqui!, ano I, n. 2, São Paulo, setembro-dezembro de 2004, p. XVII. Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil a 20/07/1933.
[53] Plínio Salgado e o pensamento tradicional, in Prefácio, in Gumercindo Rocha DOREA (Organizador), “Existe um pensamento político brasileiro?”, Existe, sim, Raymundo Faoro: o Integralismo!: uma nova geração analisa e interpreta o Manifesto de Outubro de 1932 de Plínio Salgado, cit.,  p. 107.