Wednesday, October 25, 2006

Carta à Folha de São Paulo

Em resposta ao artigo Guerra suja, de Boris Fausto

Por Victor Emanuel [Vilela Barbuy]

São lamentáveis as considerações de Boris Fausto a respeito da suposta participação dos integralistas no famigerado “Plano Cohen”, plano que foi, no dizer de Hélio Silva, "uma das mais monstruosas farsas da História".
Como bem observa Rubem Nogueira, em sua monumental obra "O homem e o muro", que o Sr. Boris Fausto não deve ter lido e deveria ler, "a má-fé de muitos e o desconhecimento da maioria sobre esse funesto acontecimento respondem pela injusta vinculação dele ao Integralismo, na pessoa de um dos seus antigos militantes, o capitão Olímpio Mourão Filho, quando, ao contrário, foi um embuste, nada mais, arquitetado e posto em prática pelo general Pedro Aurélio de Góis Monteiro" (pág. 177). A exposição de Rubem Nogueira, no capítulo IX de sua obra, é de longe a melhor de todas quantas tenho lido a respeito desse turvo episódio de nossa História, sendo indicada por ninguém menos que o Prof. Goffredo Telles Junior em seu livro de memórias, "A folha dobrada".
A autoria do “Plano Cohen” é um fato que ficou comprovado perante o Conselho de Justificação do Exército, requerido a 26/11/1956 ao Ministro da Guerra, General Henrique Batista Dufles Teixeira Lott, por Olímpio Mourão Filho, então já coronel.
Pelo voto concordante de seus três juizes, um general e dois coronéis, o dito Conselho de Justificação considerou plenamente justificado o Coronel Olímpio Mourão Filho, absolvendo-o e arquivando o processo, como relatam, além de Rubem Nogueira, Glauco Carneiro, em "História das revoluções brasileiras", Hélio Silva, em "A ameaça vermelha – o Plano Cohen" e "1937 – todos os golpes se parecem", e o próprio Mourão Filho em "Memórias – a verdade de um revolucionário".
Entre os dias 20 e 22 de agosto daquele conturbado ano de 1937, Plínio Salgado incumbiu Mourão Filho de elaborar um estudo acerca de métodos revolucionários marxistas.
Mourão Filho fez em duas vias o estudo que lhe fora pedido por Plínio Salgado, cujo texto se encontra transcrito no livro de Hélio Silva, "A ameaça vermelha – o Plano Cohen".
No trabalho teórico de Mourão Filho não há, cumpre sublinhar, nenhuma referência ao Komintern ou ao Partido Comunista, quer do Brasil quer da URSS, o que desmascara de plano o General Góis Monteiro, como bem observa Rubem Nogueira no citado livro.
Plínio Salgado não gostou do estudo de Mourão Filho, rejeitando-o por conter trechos muito fantasiosos e estranhando ainda o nome “Cohen”. Mourão então explicou a ele que, por brincadeira, pusera no documento a assinatura de Bela Khun, o tristemente famoso tirano comunista de Budapeste, e lembrando, em seguida, que Gustavo Barroso costumava insistir que Khun era corruptela de Cohen, riscara o “Khun” e o substituíra por “Cohen”. O risco, entretanto, atingira também o “Bela”, de modo que o datilógrafo que passara o estudo a limpo conservara apenas o “Cohen”.
Poucos dias mais tarde, porém, o General Álvaro Mariante, vizinho de quarteirão, padrinho de casamento e ex-comandante de Mourão Filho, tendo visto seu rascunho, sugeriu que ele levasse uma cópia deste a Góis Monteiro, mas o futuro comandante do alçamento de 31 de Março de 1964 não anuiu, posto que aquele assunto era de interesse exclusivo da AIB (Ação Integralista Brasileira). Ao despedir-se de Mourão, todavia, Mariante pediu a ele para ficar com aquele estudo para lê-lo uma vez mais, ao que Mourão assentiu, pedindo ao general, contudo, que não deixasse mais ninguém ver aquilo.
Um ou dois dias depois, Mourão, desconfiado de Mariante, pediu-lhe a devolução da cópia emprestada, que, em sua casa, queimou folha por folha. Mas Mourão Filho, no seu íntimo, tinha a certeza de que, naquele intervalo, seu padrinho de casamento, deslealmente, passara a cópia de seu trabalho ao General Góis Monteiro, seu vizinho de apartamento, que mandara reproduzi-la. Foi o que realmente ocorrera. E Góis Monteiro, havendo introduzindo no estudo de Mourão Filho tudo o que achava necessário para torná-lo "um tenebroso plano de ação do Partido Comunista Russo", apresentou-o ao Chefe da Casa Militar da Presidência da República como apreendido pelo Estado-Maior do Exército.
Quanto à caracterização do Integralismo como versão tropical do fascismo, ela já é tão banal que sequer merece resposta. Mas é preciso lembrar sempre que o Integralismo, que, como já escrevia Plínio Salgado em "A quarta humanidade", estava muito mais próximo do movimento cristão e democrático de Don Sturzo do que do fascismo de Mussolini, tinha muitas diferenças em relação a este, condenando, por exemplo, a ditadura, o cesarismo e o Estado Totalitário, aos quais opunha a Democracia Integral e o Estado Integral, ao mesmo tempo antiindividualista e antitotalitário.

1 comment:

acja said...

Continua a batalhar camarada!!