O texto que hoje publicamos, da lavra de Alberto da Costa e Silva, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, sobre a revista "Cadernos da Hora Presente", é, sem dúvida alguma, o único artigo verdadeiramente honesto de todo o denominado "Dossiê Integralismo", publicado na "Revista de História da Biblioteca Nacional" em outubro de 2010. O referido artigo, que se encontra na página 31 do "Dossiê", se constitui em bela homenagem àquela revista de alta cultura, magistralmente dirigida pelo grande poeta e ensaísta Integralista Tasso da Silveira.
Conteúdo Integral
Por Alberto da Costa e Silva
Extinta pelo Estado Novo a Ação Integralista Brasileira, alguns intelectuais que pertenceram a seus quadros ou dela eram simpatizantes juntaram-se em torno do escritor Tasso da Silveira para fundar uma revista literária que preservasse e continuasse a difundir suas ideias. Com o nome de Cadernos da Hora Presente, esse periódico, publicado em São Paulo entre maio de 1939 e agosto de 1940, teve nove números, cada um com algo em torno de 200 páginas.
Tasso da Silveira era admirado por sua poesia e por sua bondosa serenidade. Tinha amigos em todos os círculos e conseguia trazer para a revista colaboradores sem vínculos com o integralismo. A presença destes não disfarçava, porém, a orientação dos Cadernos, nem o papel que neles tinham os que um dia vestiram a camisa verde e dela não ocultavam a nostalgia. Em quase todas as revistas aparecem anúncios de livros de Plínio Salgado, e ele figura como colaborador de destaque nos números 1, 3, 4 e 7.
Ainda hoje, cada um dos Cadernos da Hora Presente pode ser lido com interesse e encantamento. Das 180 páginas do segundo número, 142 foram reservadas para um apaixonado ensaio de Otávio de Faria, “Fronteiras da santidade”, sobre Pascal e, sobretudo, Léon Bloy. O número 6 traz um instigante texto de Luís da Câmara Cascudo sobre Montaigne e o índio brasileiro, com a tradução de Les canibales. No número 8, há uma entrevista com Miguel Reale, e João Camilo de Oliveira Torres escreve sobre o positivismo e o Império. Nestes e nos outros números colaboraram não só integralistas e escritores que deles estiveram próximos em algum momento – como Tristão de Athayde, Adonias Filho, Almeida Sales, Guerreiro Ramos, Lauro Escorel e Vinícius de Moraes -, mas também autores que não os acompanhavam em suas ideias políticas, como Abgar Renault, Alphonsus de Guimarães Filho, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade e Orígenes Lessa.
Entre um texto sobre Machado de Assis e Anatole France, funcionários públicos, e outro sobre Farias Brito ou Julien Green, inseria-se, encabulado ou desinibido, um artigo sobre temas caros aos integralistas, como corporativismo e municipalismo. Não há na revista pregação política – nem a censura do Estado Novo a permitiria. Suas edições, no entanto, são marcadas por uma linha de pensamento ultranacionalista, e nelas há a clara intenção de não deixar que se esqueça o exílio de Plínio Salgado em Lisboa e de impedir que se faça silêncio sobre os escritores e artistas que constituíram a elite intelectual do integralismo. Além dos já citados, estavam incluídos nomes como Dantas Mota, Gerardo Mello Mourão, Herbert Parentes Fortes, Luís da Câmara Cascudo, Miguel Reale, Roland Corbisier, San Thiago Dantas e Thiers Martins Moreira.
Pelo seu alto nível, os Cadernos da Hora Presente podem ser postos na mesma estante da Revista Brasileira; das várias Revistas do Brasil; de Literatura, de Astrogildo Pereira; de Anhembi, de Paulo Duarte; e de Cultura, de Simeão Leal.
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